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Em 1996, a filha de seis anos de Martine Rothblatt foi diagnosticada com hipertensão arterial pulmonar, uma rara doença pulmonar e cardíaca sem cura. Cofundadora da Sirius Satellite Radio, Rothblatt criou sua própria empresa de biotecnologia com o objetivo de encontrar uma cura. “Não há nada pior do que ser informada de que sua filha vai morrer”, contou ela à Forbes em 2018. “Eu simplesmente disse que encontraria uma maneira de salvá-la, ou ela iria morrer, porque todas as pessoas que tiveram essa doença antes haviam morrido.”
Quase três décadas depois, a filha de Rothblatt está saudável e na casa dos 30 anos. Enquanto isso, as ações da empresa agora de capital aberto, a United Therapeutics, aumentaram 54 vezes em relação ao preço do seu IPO em 1999. Só este ano, as ações dispararam, subindo 50% até agora em 2024 e 40% desde 30 de abril – o suficiente para fazer de Rothblatt a mais nova bilionária do mundo.
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A empresa, com sede em Silver Spring, no estado de Maryland, nos EUA, gerou US$ 2,1 bilhões (R$ 11,6 bilhões) em vendas no ano passado, principalmente vendendo cinco medicamentos aprovados pela FDA (a Anvisa americana) para ajudar pessoas como a filha de Rothblatt a tratar a HAP (hipertensão arterial pulmonar).
Pulsão nos investimentos
Os investidores têm apoiado a United Therapeutics desde que a empresa anunciou um programa acelerado de recompra de ações de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) em março, sinalizando seu otimismo em relação aos seus medicamentos para hipertensão pulmonar. Outro fator que impulsionou as ações é a empolgação com o aumento de 41% ano a ano na receita de seu principal medicamento, o Tyvaso.
Rothblatt, de 69 anos, lidera a empresa, agora com uma capitalização de mercado de US$ 14,7 bilhões (R$ 81,6 bilhões), como CEO desde que a fundou. A empresária também foi fundamental em ajudar a empurrar sua subsidiária Revivicor para o xenotransplante (procedimento de transplante de células, tecidos ou órgãos entre espécies diferentes), especificamente na fabricação de órgãos de porcos para transplante em humanos com doenças renais e cardíacas em estágio terminal.
“Há muitas pessoas na lista de espera por rins e corações”, diz Joseph Thome, analista sênior de pesquisa da TD Cowen, empresa de serviços financeiros e pesquisa de mercado. “Eles estão dispostos a capitalizar isso.”
Quem é a mais nova bilionária mundial
Ninguém se beneficiou mais financeiramente com o sucesso da United Therapeutics do que Rothblatt, que há muito tempo é uma das mulheres self-made (que construiu sua própria fortuna) mais ricas dos Estados Unidos.
A Forbes estimou seu patrimônio líquido em US$ 390 milhões (R$ 2,1 bilhões) em 2015, após a empresa encontrar um tratamento bem-sucedido para HAP com o Orenitram (“Martine Ro” escrito ao contrário).
Em 2021, com as ações da United Therapeutics em alta, ela tinha cerca de US$ 585 milhões (R$ 3,2 bilhões). Agora – considerando suas 650 mil ações, além de opções para adquirir ainda mais ações, dinheiro acumulado ao longo de suas décadas nos negócios e casas em vários estados – a Forbes estima que o patrimônio líquido de Rothblatt tenha atingido a marca de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões), tornando-a uma das 35 mulheres bilionárias self-made mais ricas dos EUA.
A trajetória de Martine Rothblatt
Foi um caminho sinuoso até chegar a esse ponto. Nascida em San Diego em 1954, ela viajou pelo país de carona tocando música (ela toca piano, flauta e bateria) enquanto estudava comunicação na UCLA (Universidade da Califórnia). Uma visita a uma instalação satelital nas Seychelles a deixou fascinada com a ideia de usar redes de satélites para transmitir música para ouvintes ao redor do mundo. Depois de retornar aos EUA, ela recebeu um diploma conjunto em direito e MBA pela UCLA e, eventualmente, assumiu um emprego como advogada de telecomunicações em uma empresa em Washington.
Ela cofundou a Sirius Satellite Radio em 1990, ajudando como pioneira na transmissão via satélite para carros, e liderou seu IPO em 1993. Três anos depois, os médicos disseram que sua filha tinha hipertensão arterial pulmonar, ou HAP, que, na época, tinha uma alta taxa de mortalidade dentro de dois anos após o diagnóstico.
Até 50 mil pessoas nos EUA têm HAP, uma doença progressiva em que a pressão arterial anormalmente alta afeta as artérias dos pulmões e do coração. Rothblatt vendeu US$ 3 milhões (R$ 16,6 milhões) em ações da SiriusXM e deu o dinheiro aos médicos para desenvolver um tratamento. Quando isso não funcionou, ela lançou sua própria empresa – a United Therapeutics – para encontrar uma cura. A executiva abriu o capital em 1999 em um IPO de US$ 66 milhões (R$ 366,5 milhões), de uma pequena empresa de biotecnologia com US$ 54.000 (R$ 299.899) em receita obtida por meio de uma concessão de medicamento órfão da FDA.
O sucesso da United Therapeutics
Três anos depois, a United Therapeutics obteve aprovação para seu primeiro tratamento para HAP, o Remodulin, nos EUA, Canadá e Israel. A empresa criou outros três tratamentos aprovados pela FDA para a doença, incluindo um que é uma pílula de dose única diária.
Depois veio o Tyvaso, um tratamento que relaxa os vasos sanguíneos, permitindo que o sangue flua mais facilmente durante o exercício. Em 2022, a United Therapeutics obteve aprovação para uma formulação em pó seco, chamada Tyvaso DPI, que vem em cartuchos de inalador portátil e ajudou a impulsionar as vendas da empresa além de US$ 2 bilhões (R$11,1 bilhões) em 2023.
No início deste ano, os investidores se preocuparam que outro tratamento para HAP, o Winrevair da Merck, competiria diretamente com o Tyvaso, mas o lançamento do Winrevair levou os médicos a usar ambos os medicamentos juntos, em vez de apenas um tratamento, diz Ash Verma, diretor executivo de pesquisa de ações de biotecnologia da UBS.
O Tyvaso também está em fase três de testes como tratamento para fibrose pulmonar idiopática, uma doença que causa cicatrizes nos pulmões. A United Therapeutics anunciou que espera dados na segunda metade de 2025, mais cedo do que os investidores inicialmente projetaram.
Em 2011, Rothblatt também se aventurou no fornecimento de pulmões para transplantes de órgãos. A United Therapeutics adquiriu a empresa de tecnologia de xenotransplante Revivicor (que criou o primeiro mamífero clonado, a ovelha Dolly) para desenvolver órgãos criados em porcos.
Em 2022 e 2023, a United Therapeutics liderou dois transplantes bem-sucedidos de corações cultivados em porcos geneticamente alterados. Anunciou o primeiro transplante de sucesso de um dos seus rins de porco para um humano vivo em abril, e está gastando US$ 100 milhões (R$ 555,3 milhões) em uma nova instalação para estudar a fundo a viabilidade do xenotransplante.
Se a United Therapeutics conseguir salvar vidas com o xenotransplante, será mais um marco em uma carreira repleta de conquistas para Rothblatt. Talvez a CEO transgênero mais famosa dos Estados Unidos, ela passou por uma cirurgia de redesignação de gênero em 1994 e é defensora dos direitos LGBTQ+ há décadas. A executiva é piloto de helicóptero licenciada, ajudou a construir o primeiro helicóptero elétrico de tamanho real do mundo e possui pelo menos oito casas em quatro estados americanos.
Uma transumanista, Rothblatt acredita que, um dia, as pessoas poderão carregar suas mentes em computadores com o potencial de criar sósias geridas por máquinas. Ela cofundou o Movimento Terasem em 2004 para propagar essas ideias com sua esposa, Bina.
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É apenas uma das muitas apostas audaciosas que têm impulsionado a CEO por décadas a se envolver em tudo, desde rádio via satélite até o cultivo de órgãos de porco para ajudar a tratar a doença de sua filha, tornando-a bilionária ao longo do caminho. “Em vez de a minha filha não ter chance de conseguir um órgão, terão órgãos suficientes para todos.”
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O post Como ela salvou a filha de doença sem cura – e se tornou bilionária no caminho apareceu primeiro em Forbes Brasil.