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A Bolsa de Valores brasileira passa por um momento de mau humor. No primeiro semestre, o Ibovespa acumulou uma baixa de 7,66% em reais e quase 20% em dólares, o pior desempenho entre os principais mercados globais. Desde o início do ano, apenas fevereiro e junho tiveram alta no mês.
No fim do ano passado, as expectativas para 2024 eram melhores. Os economistas esperavam sete cortes nos juros americanos, o que favorece o mercado de ações, principalmente os ativos de maior risco. Porém, ainda no primeiro trimestre, o mercado começou a duvidar dessa previsão otimista, com alguns pessimistas dizendo que não haveria corte algum. Agora, a perspectiva é de que haja ao menos um corte, com os mais usados prevendo até três. Além disso, esperava-se queda da Selic para apenas um dígito e dólar ao redor ou abaixo de R$ 5,00 . Com esse cenário, a renda variável teria mais apelo.
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Entretanto, a primeira metade de 2024 foi marcada pela quebra de expectativas. O ciclo de cortes da Selic parou mais cedo do que o esperado, houve manutenção prolongada das taxas de juros nos EUA,que segue no maior nível desde 2001, a percepção de risco fiscal aumentou no Brasil com as falas polêmicas do presidente Lula e mudança nas metas. Tudo isso, içou o dólar para perto de R$ 5,70, ao final de junho, subindo 15,7% no ano.
Assim, os investidores de mercados emergentes mudaram seus portfólios para países de menor risco. O resultado foi uma retirada recorde de recursos estrangeiros do Brasil, com mais de R$ 40 bilhões em vendas externas de ações brasileiras apenas na primeira metade do ano. Enquanto isso, a renda fixa continuava sendo o caminho mais atrativo.
Selic e juros americanos
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a Selic permanecerá estável em 10,50% até o final do ano. Portanto, ele não vê possibilidade de aumento – nem retomada do ciclo de queda. “O que pode influenciar a Selic são os juros dos EUA”, observa.
Nesse sentido, o especialista lembra que em julho, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano)sinalizou um possível corte de juros no segundo semestre. “O mercado vê essa possibilidade para setembro e ainda questiona a viabilidade de outro corte em novembro”, afirma.
Para Cruz, essa perspectiva altera o cenário para a bolsa brasileira e para o rumo dos juros no Brasil. Porém, se houver apenas um corte nos juros dos Estados Unidos, a pressão sob o Banco Central Brasileiro (BC) tende a aumentar, e mais recursos podem fluir para os EUA, prejudicando a situação brasileira.
Já Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, enxerga uma luz no fim do túnel neste . Para ele, alguns fundamentos mais positivos para as ações brasileiras estão surgindo, e é possível identificar potenciais catalisadores.
“Historicamente, o Ibovespa se beneficia com o ciclo de queda nas taxas de juros dos EUA. Nas últimas seis etapas de flexibilização por lá, as ações brasileiras subiram em média 30% um ano após o início dos cortes de juros. Quando os juros americanos caem, o capital estrangeiro volta para os mercados emergentes, e o Brasil, devido ao seu valuation, se torna atrativo. A bolsa continua barata e os investidores estrangeiros sabem disso”, diz o especialista.
No entanto, o cenário macroeconômico externo ainda está nebuloso. Com a perspectiva da queda da taxa de juros nos EUA, há a expectativa de que o capital estrangeiro retorne ao Brasil, derrubando o dólar e impulsionando a bolsa. O mercado não espera uma queda imediata na taxa de juros no Brasil, mas isso pode mudar se os EUA iniciarem o ciclo de corte nas taxas de juros – e mais ainda se confirmar os três cortes previstos. Nesse caso, é possível que o Banco Central do Brasil também reduza a Selic, o que pode impulsionar um rally na bolsa.
A previsão do especialista da Davos Investimentos para o Ibovespa ao final deste ano é de 145 mil pontos, podendo chegar aos 146 mil. Os demais especialistas consultados não arriscaram uma previsão.
Risco fiscal e reforma tributária
No cenário doméstico, a inflação, embora em trajetória descendente, ainda é uma preocupação. “A política fiscal do governo está sendo vigiada, com reformas estruturais, como a tributária”, diz Marcus Marques, especialista em gestão de empresas e CEO do grupo Acelerador, Ele acrescenta que o ambiente político é outro ponto de atenção. “A estabilidade política também é um fator determinante, uma vez que eventuais turbulências podem impactar negativamente o mercado”, completa
Além da inflação, as políticas monetária e fiscal também vêm sendo monitoradas quanto à inflação. Para Ricardo Matte, gestor de negócios e CEO da Vincit Capital, esta postura vigilante demonstra certa fragilidade no ambiente interno.
Isso porque qualquer alteração na taxa básica de juros pode impactar o mercado. “A redução da Selic influencia o investidor a buscar maior rentabilidade. Se isso não acontecer, a busca por ativos que protegem contra a inflação encontrados na renda fixa será, novamente, a tendência”, afirma Mattea.
Para o gestor, a transparência da equipe econômica do governo, sob a liderança do ministro Fernando Haddad, é crucial para os analistas, principalmente em relação ao novo regime tributário e como as regras irão impactar as decisões de investimentos.
Entre as ações, os especialistas consultados destacam:
Petrobras (PETR4) – A ação tem mostrado uma tendência de alta acompanhando a recuperação dos preços do petróleo.
Vale (VALE3) – A empresa tem se beneficiado do aumento de preço do minério de ferro, mas sofre grande volatilidade do mercado internacional.
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Magazine Luiza (MGLU3) – A empresa esteve nos holofotes recentemente com o benefício da parceria com a AliExpress e busca se posicionar como grande player no mercado de e-commerce.
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Banco do Brasil (BBAS3) – A ação do BB tem apresentado uma estabilidade com viés de alta, refletindo uma perspectiva positiva para o setor bancário, o que pode influenciar as ações dos demais bancos também.
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