Arte da mitologia yorubá de Alberto Pitta

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Flavio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler

Alberto Pitta e Vik Muniz

Desde 2000 amigo do artista baiano Alberto Pitta, Vik Muniz, com seu entusiasmo natural, foi quem nos apresentou à obra do Pitta que produz pintura, peças escultóricas e instalaçoes mas, na realidade, centra seu trabalho na estamparia têxtil e na serigrafia de origem yorubá da diáspora do oeste africano instalada na Bahia, onde a população afro-brasileira reinventou práticas e construiu novas formas de viver. “Quero que as pessoas vejam o tamanho deste artista, e o que ele vem fazendo há mais de quarenta anos. Ele já expôs na Alemanha, na Bienal de Sidney, em muitos lugares. Esta mostra pode ser importante para ele, mas é mais ainda para o mundo da arte. Não estou fazendo nenhum favor a ele, estou fazendo um favor para quem não conhece seu trabalho”. Vik me convenceu e, cativada pela dimensão e brasilidade baiana da obra de Pitta, convidei-o a integrar o portfolio de nossa galeria a começar por esta exposição em nosso QG carioca.

Flavio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler

Alberto Pitta, Amalá, 2021, detalhe, impressão sobre papel, ed. única, 211x153cm

Sua história pessoal também me encantou. É filho de uma das mais importantes ialorixás de Salvador, a já falecida Mãe Santinha, do terreiro Ilê Axé Oyá. Por ocasião de seu falecimento aos 90 anos, o governador da Bahia da época se pronunciou dizendo: “A cultura da Bahia perde um de seus símbolos e ícone de luta por igualdade”. Mãe Santinha criou dez filhos, entre eles o nosso artista, com o ofício de bordadeira. Era especializada na difícilima técnica de Richelieu – renda que adoro -, que originalmente veio da França a bordo das caravelas dos tempos coloniais e, aqui, ganhou impulso nas mãos de escravas prendadas e caprichosas, passando de mãe para filha. Com essa convivência, o menino Alberto se apaixonou pelas artes têxteis, até que no final dos anos 70 começou a criar serigrafias com símbolos e signos do candomblé e da cultura indígena para pequenos blocos de carnaval como o Zâmbia Pombo e Oba Layê, do bairro soteropolitano de São Caetano, onde morava.

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Dez anos mais tarde, Alberto Pitta foi convidado a fazer as estampas para as fantasias dos blocos Badauê, Ara Ketu e Timbalada. De 1984 a 1997, foi diretor artístico do conhecido Olodum, com sua enérgica percussão acompanhada de dança afro, que encantou o mundo através de suas colaborações com músicos como Michael Jackson, Paul Simon, Julian Marley, a  estrelas da nossa musicalidade como Gal Costa, Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Cidade Negra, Tim Maia, Jorge Ben, Elba Ramalho, Daniela Mercury, Carlinhos Brown etc… Foi aí que Pitta compreendeu que o tecido e a indumentária são muito mais que meros utilitários. Segundo as sábias cosmovisões africanas, a arte têxtil é uma ferramenta fundamental para inserir o ser humano no mundo e  conectá-lo com a sabedoria de seus ancestrais. Assim, ele desenvolveu uma vibrante obra cromática que evoca elementos tradicionais africanos e afro-diaspóricos, em especial os oriundos da mitologia yorubá.

Flavio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler

Alberto Pitta, Namorados, 2020, tinta e impressão sobre tela, ed. única, 156x171cm

Através das festividades populares que participa em sua amada Bahia e a projeção no exterior, sua produção ganhou uma forte dimensão pública. É ele quem assina as estamparias que dão identidade a famosos blocos afro do carnaval baiano como o Olodum, Filhos de Gandhy e a seu próprio bloco, o Cortejo Afro. Esse baiano alto astral costuma dizer: “Gosto de provocar  ‘encontros de analfabetos’, entre aqueles que não tiveram oportunidade de estudar, e os que são da academia, mas não conhecem os símbolos das religiões de matriz africana”.

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Flavio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler

Alberto Pitta, Sem título, 2020, tinta e impressão sobre tela, ed única, 260x145cm

Nascido em 1961, em Salvador, Alberto Pitta expõe desde 1989. Este ano participou da 24ª Bienal de Sidney, Austrália. Em 2023,  exibiu a série O Quilombismo, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim. Em 2022, foi a vez de levar Encruzilhada ao MAM de Salvador e Um Defeito de Cor, ao MAR do Rio.  Suas obras encontram-se nas coleções do MAM da Bahia e MAM do Rio, e no  Instituto Inhotim, em Brumadinho.

Axé! Aquele abraço!

Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) cynthiagarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.

info@nararoesler.art
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/

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