A Tereos, segunda produtora de açúcar do Brasil, manteve a projeção de que conseguirá terminar a safra 2024/25 com uma moagem de cana-de-açúcar estável, semelhante ao recorde registrado no ciclo passado, apesar de uma seca que deverá reduzir mais do que o esperado o processamento total do centro-sul.
Até o final de fevereiro, o diretor-presidente da Tereos no Brasil, Pierre Santoul, previa que a moagem da principal região produtora do Brasil cairia abaixo de 600 milhões de toneladas em 2024/25. Agora, ele vê um recuo para menos de 590 milhões de toneladas, com uma degradação maior dos canaviais pelo tempo seco podendo levar a perdas de mais de 10% ante o recorde de 654,43 milhões de toneladas do ciclo passado.
Essa redução mais acentuada vai cortar a produção total de açúcar do centro-sul do país, maior produtor e exportador global da commodity, em mais de 2 milhões de toneladas em relação ao ano anterior, para menos de 40 milhões de toneladas, com reflexos positivos nos preços globais do produto, disse Santoul.
“Hoje tem um consenso de mercado que vai ter 41,5 a 42,5 milhões de toneladas, mas acreditamos que essa previsão vai cair para menos de 40 milhões. Isso deveria ter um impacto nos preços… o mercado não está esperando nenhuma melhora vindo da Índia ou da Ásia… O único lugar que pode acontecer algo de positivo ou negativo no mercado é o Brasil”, afirmou.
“Com esses 2 milhões de toneladas abaixo do consenso do mercado, que é a visão da Tereos, vai ter uma retomada positiva dos preços”, disse ele, lembrando que no ano passado, quando as cotações do açúcar estavam mais altas, a companhia aproveitou para fixar vendas antecipadas de grande parte do volume previsto para 2024/25.
Ele evitou dar detalhes sobre a estratégia da empresa para 2025/26, mas admitiu que se a Tereos está esperando uma alta dos contratos futuros açúcar bruto em relação aos níveis atuais de cerca de 19 centavos de dólar por libra-peso na bolsa ICE, não há interesse em fixar vendas.
Em entrevista a jornalistas para comentar os resultados da Tereos na safra passada, ele destacou que a companhia francesa, que opera sete unidades no Brasil, ainda vai conseguir moer as cerca de 21 milhões de toneladas de cana, no patamar recorde registrado em 2023/24 e em linha com o previsto anteriormente, mesmo com as condições climáticas adversas.
Isso será possível porque em 2024/25 a Tereos não deverá vender parte do excedente para terceiros, como aconteceu no ciclo anterior. Além disso, não vai “bisar” a cana, ou seja, não deverá deixar matéria-prima nos campos da safra atual para a próxima temporada, como aconteceu em 2023/24.
“A nova safra que já se iniciou é super desafiadora, verão super seco pelo El Niño, apesar de ter tido chuvas fortes no Sul do país, o centro-sul ficou com déficit significativo… Então, a nossa visão é de que com certeza a moagem (do centro-sul, como um todo) vai ser abaixo de 590 milhões de toneladas”, afirmou.
Segundo Santoul, o “mix” de cana para a produção de açúcar do centro-sul também não vai crescer tanto quanto o esperado, e o Açúcar Total Recuperável (ATR), uma medida de sacarose da cana, “já está abaixo da previsão pelo fenômeno da degradação de cana”.
O diretor-presidente da Tereos no Brasil lembrou que o “mix” médio para açúcar do centro-sul, que foi de quase 49% no ano passado, poderia crescer para uma média de 51,6%, não fossem as condições climáticas. Agora ele disse não acreditar que poderá “ir além de 50%”.
“Vai melhorar (o “mix”), mas não do tamanho esperado”, comentou, lembrando que o açúcar remunera mais do que o etanol, o que explica um crescimento da destinação da matéria-prima para o adoçante.
No caso da Tereos, uma empresa tradicionalmente muito mais açucareira do que a média do centro-sul, o executivo manteve a projeção de a companhia destinará 70% da matéria-prima para a produção de adoçante.
O executivo observou ainda que a seca se acentuou de uma forma que já não está favorecendo a concentração de ATR da cana, resultando em queda da sacarose.
Ainda assim, ele afirmou que a Tereos está mantendo sua expectativa de atingir produção de 2 milhões de toneladas de açúcar em 2024/25, ante 1,9 milhão de toneladas na temporada anterior. Isso porque terá uma moagem estável, mas vai aumentar o “mix” em três pontos percentuais em relação ao total registrado no ciclo passado, após investimentos realizados.
Na parte agrícola, a produção de cana da Tereos foi de 22,5 milhões de toneladas em 2023/24 — 1,4 milhão de toneladas acima da moagem total da safra passada–, e a companhia conseguiu vender um excedente para competidores e ainda deixar parte para moer na safra atual.
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Na temporada passada, com uma moagem recorde e preços mais altos, a companhia fechou com o lucro operacional (EBIT) de 1,3 bilhão de reais, um crescimento de cerca de 120% em comparação ao segundo melhor ano da história (safra 2020/21).
O post Seca no Centro-Sul não deixa produção 2024/25 de cana da Tereos avançar apareceu primeiro em Forbes Brasil.