O esverdeamento lento da Saudi Aramco, a maior petroleira do mundo

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Amin Nasser, o CEO da Saudi Aramco, declarou este ano que a era dos combustíveis fósseis está longe de acabar. “O pico do petróleo e gás é improvável que aconteça em breve, muito menos em 2030”, disse Nasser. “Devemos abandonar a fantasia de eliminar o petróleo e o gás e, em vez disso, investir adequadamente neles, refletindo suposições realistas de demanda.”

Ele não deveria dizer nada diferente disso. Ele é presidente da maior empresa de petróleo do mundo. A Saudi Aramco ficou em 3º lugar na lista Global 2000 da Forbes 2024, uma posição abaixo da de 2023 devido aos preços mais baixos do petróleo. Nasser supervisiona a produção de mais de 12 milhões de barris por dia de petróleo e gás.

Maxim Shemetov/Reuters

Saudi Aramco é a terceira maior empresa pública do mundo em 2024

A Aramco é tão gigantesca que tanto sua produção quanto seu lucro líquido de US$ 117 bilhões (R$ 636,6 bilhões) são mais de três vezes maiores do que a da ExxonMobil (que caiu seis posições para o 14º lugar na lista deste ano). A Chevron (22º lugar, uma queda de quatro posições) parece um pigmeu em comparação, com apenas US$ 20 bilhões (R$ 108,8 bilhões) em lucros no ano passado. E a Aramco não vai a lugar nenhum; com reservas provadas de bem mais de 200 bilhões de barris, ela pode manter esse ritmo por décadas.

Apesar de todos os avanços da China na instalação de painéis solares, por exemplo, o país ainda queimou um recorde de 5 bilhões de toneladas de carvão no ano passado, 10 vezes o consumo de carvão dos EUA. Os veículos elétricos agora representam 19% das vendas globais de automóveis, mas o consumo global de petróleo continua a ultrapassar 100 milhões de barris por dia. Segundo Claudio Galimberti, analista da consultoria Rystad Energy, “a demanda por petróleo permanece alta” e continuará a crescer “já que as alternativas de baixo carbono ainda não são competitivas.”

Então, pode ser surpreendente que a Aramco, ironicamente, seja um dos maiores investidores do mundo na transição para baixo carbono. Nasser dedicou 10% dos seus US$ 50 bilhões (R$ 272,05 bilhões) anuais em investimentos para energias renováveis e lançou a divisão Aramco New Energies. Este ano, eles completaram o projeto solar Sudair, com capacidade de 1,5 gigawatts, enquanto o campo solar de Shuaibah, com 2,7 GW, será concluído no próximo ano. Até 2030, a Aramco promete gerar 12 GW de energia solar e eólica.

A empresa está em negociações com a gigante espanhola do petróleo Repsol para adquirir uma participação em seu negócio de energias renováveis, expandindo uma joint venture existente com a Repsol para produzir combustível de aviação zero carbono usando hidrogênio “verde” e dióxido de carbono capturado. No complexo de refino de Jubail está em construção um sistema para capturar 9 milhões de toneladas de CO2 por ano. Isso complementa um processo existente que captura emissões de carbono de uma planta de etileno glicol e as transforma em metanol de baixo carbono.

No entanto, se a Aramco pretende cumprir a promessa de Nasser de capturar 44 milhões de toneladas de CO2 por ano até 2035, precisará de novas estratégias. Para encontrá-las, a Aramco mais que dobrou o financiamento para sua divisão de capital de risco, Aramco Ventures, com US$ 4 bilhões (R$ 21,8 bilhões) disponíveis para investimentos.

Entre os investimentos mais promissores está um novo aporte de dezenas de milhões de dólares que a Aramco Ventures fez em uma startup do Novo México chamada Spiritus. Nascida no Laboratório Nacional de Los Alamos, os cofundadores da Spiritus, Charles Cadieu e Matt Lee, desenvolveram uma tecnologia inovadora que, segundo eles, absorve CO2 do ar. E, ao contrário das tecnologias concorrentes de captura de CO2, que dependem de ventiladores e compressores gigantes para puxar o ar, os dispositivos da Spiritus funcionam passivamente, tão silenciosos quanto uma árvore. No centro da tecnologia da Spiritus estão esferas do tamanho de uma toranja, feitas de um material absorvente que captura moléculas de dióxido de carbono. Pense em uma esponja, mas com uma estrutura muito mais complexa.

Cadieu é evasivo sobre exatamente o que é feito e como funciona, mas ele descreve o material absorvente como funcionalmente semelhante à maneira como os alvéolos dos nossos pulmões captam oxigênio. “Pulmões de mamíferos — há algo melhor? É difícil superar centenas de milhões de anos de evolução”, diz ele. O material, que se acredita ser composto principalmente de grafeno à base de carbono, liga-se químicamente ao CO2.

A Spiritus (latim para “respiração”) fabricará o material em uma planta perto de Kansas City e já tem um local em Wyoming onde planeja erguer estruturas para armazenar essas esferas sorventes. Uma vez saturadas com CO2, as esferas são coletadas e passam por um processo que libera o CO2, que será então injetado profundamente no subsolo em um poço de descarte Classe 6, licenciado e regulamentado.

Cadieu insiste que seus custos serão bem abaixo de US$ 100 (R$ 545) por tonelada e que o local inicial em Wyoming irá sequestrar 2 milhões de toneladas por ano. Isso seria extremamente lucrativo, considerando os US$ 180 (R$ 980) por tonelada em créditos fiscais de captura e sequestro de carbono disponíveis sob o Ato de Redução da Inflação. Executivos da Aramco Ventures dizem que, uma vez que a Spiritus tenha comprovado a tecnologia, eles pretendem implementá-la no Reino.

A Saudi Aramco gerou US$ 117 bilhões (R$ 636,6 bilhões) em lucro líquido nos últimos 12 meses com US$ 490 bilhões (R$ 2,7 trilhões) em receita — mais do que qualquer outra empresa na Forbes Global 2000. Este ano, eles planejam distribuir US$ 124 bilhões (R$ 674,67 bilhões) em dividendos, o que equivale a cerca de 6% de rendimento.

As ações da Aramco estão sendo negociadas pouco acima do preço de sua oferta pública inicial de 2019, com um valor de mercado de US$ 1,9 trilhão (R$ 10,34 trilhões). O governo saudita ainda possui mais de 90% da empresa e, neste mês, levantou US$ 12 bilhões (R$ 65,3 bilhões) em uma oferta secundária de ações de menos de 1% do total. Com quase US$ 100 bilhões (R$ 545 bilhões) em caixa contra US$ 77 bilhões (R$ 419 bilhões) em empréstimos, o balanço patrimonial robusto da Aramco dá a Nasser opções praticamente infinitas para buscar crescimento.

Grande parte desse crescimento ocorreu dentro da Arábia Saudita. Os projetos de petróleo Marjan e Berri adiciona, cada um, mais de 250 mil barris por dia de capacidade de produção, enquanto o recém-anunciado campo de gás Jafurah produzirá 56 milhões de metros cúbicos por dia até 2030, e a expansão da planta de gás Fadhili, de US$ 8 bilhões (R$ 43,5 bilhões), adicionará mais 43 milhões de metros cúbicos por dia.

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Mas a Aramco, após décadas como uma operadora isolada, está ansiosa para diversificar globalmente. Está investindo US$ 6 bilhões (R$ 32,7 bilhões) em uma planta petroquímica na China, comprou 40% da Gas & Oil Pakistan, adquiriu a cadeia de postos de gasolina chilena Esmax por US$ 370 milhões (R$ 2 trilhões) e comprou uma participação na desenvolvedora australiana de GNL MidOcean Energy.

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Os rumores são de que Nasser está ávido por mais negócios, especialmente aqueles que possam ajudar a cumprir a promessa da Aramco de emissões líquidas zero de carbono até 2050. Um alvo razoável poderia ser a BP (capitalização de mercado de US$ 100 bilhões (R$ 545 bilhões) que tem estado ocupada demais reorganizando seus principais executivos para participar da atual onda de fusões e aquisições das grandes empresas de petróleo. A BP caiu 19 posições na lista Global 2000 deste ano, para o 47º lugar.
A BP, é claro, possui ativos de petróleo e gás globalmente dispersos, mas o que pode interessar mais a Nasser é sua recentemente consolidada divisão de energias renováveis, a LightsourceBP, que possui 60 gigawatts de projetos de energia eólica e solar em desenvolvimento. Isso seria um grande avanço para a gradual transição verde da Saudi Aramco.

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