No Natal de 1993, Alcione Albanesi reuniu um grupo de 20 amigos de São Paulo para ajudar famílias do sertão nordestino que soube que estavam enfrentando a fome e uma seca devastadora. “Percorremos milhares de quilômetros e chegamos a povoados extremamente pobres e isolados, onde as pessoas viviam em casas de barro, sem acesso a qualquer recurso. Parecia que havíamos descoberto um outro país dentro do nosso. O que vi e senti mudou minha forma de ver o mundo. Nunca mais deixei de ajudar”, resumiu Albanesi.
O que começou com uma ação de fim de ano se transformou em um dos maiores projetos sociais do país. Hoje, 150 mil pessoas são beneficiadas em 300 povoados carentes do sertão de Alagoas, Pernambuco e Ceará pela ONG Amigos do Bem. “Continuamos a levar alimentos, água e atendimentos de saúde, pois a miséria nessa região é secular e emergencial, mas estamos transformando a realidade e construindo um futuro diferente com educação e geração de trabalho e renda.”
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Segundo um estudo do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), o impacto da Amigos do Bem pode ser medido em números: a ONG tem um Retorno Social sobre Investimento (SROI) de 6,45 – ou seja, cada R$ 1 doado ao projeto se transforma em R$ 6,45 em impacto na ponta. O IDIS também estima que os investimentos realizados entre 2012 e 2021 geraram impactos sociais de mais de R$ 2 bilhões. A ONG atende 12 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que convidou Albanesi para ser a representante do ODS 1, a Erradicação da Pobreza, no Brasil.
Muito antes de se dedicar ao terceiro setor, Albanesi já se destacava como empreendedora: trabalhou como modelo, economizou dinheiro e, aos 17 anos, tinha sua confecção, com 80 funcionários. Aos 25, vendeu o negócio para abrir uma loja de materiais elétricos no centro de São Paulo – “recebi muitas provocações de outros lojistas e tive que dar muito mais braçadas para vencer do que qualquer homem daria”, recorda. Pouco depois, fundou a FLC, marca que se tornou líder no mercado, com quase 40% de market share no segmento de lâmpadas no país, à frente das multinacionais.
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“Por muitos anos, dividi minha atenção e tempo entre a FLC e a Amigos do Bem, até que, em 2014, tomei a decisão mais difícil da minha vida: vender o negócio para me dedicar integralmente e de forma voluntária ao projeto”, relembra, sem arrependimentos, mesmo tendo se desfeito da empresa quando o faturamento crescia 30% ao ano. “Na Amigos do Bem, buscamos a mesma eficiência e governança de uma empresa privada, porém, o resultado é a transformação de vidas. O diferencial do nosso projeto não é o quanto fazemos, mas como fazemos.”
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*Reportagem publicada na edição 116 da revista Forbes, em fevereiro de 2024.
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