Um estudo da Harvard Business Review revelou que as mulheres enfrentam etarismo no ambiente de trabalho independentemente da idade. Segundo a pesquisa, elas são consideradas jovens demais ou sofrem discriminação por estarem velhas e irrelevantes.
Muitos recrutadores escolhem não contratar mulheres na faixa dos 40 anos devido a preocupações com responsabilidades familiares e menopausa iminente. Da mesma forma, mulheres na faixa dos 50 e 60 anos enfrentam discriminação pela idade e aparência, enquanto homens da mesma faixa etária estão no alto de suas carreiras. Resumindo, “não existe uma idade certa” para as mulheres em relação ao avanço profissional.
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Outra pesquisa, realizada no início deste ano pela Women of Influence+ (WOI+), uma organização global sediada em Toronto, no Canadá, comprometida com a promoção da equidade de gênero no local de trabalho, analisou o tema. Mais de 1.000 mulheres de 46 países participaram do estudo, intitulado “Explorando o Impacto do Etarismo nas Mulheres no Local de Trabalho”. Os resultados mostraram que 77,8% das entrevistadas já enfrentaram preconceito ou discriminação pela idade no ambiente de trabalho, e 80,7% já testemunharam mulheres sendo tratadas de forma diferente por conta da idade.
De acordo com a pesquisa, profissionais de todos os níveis discriminam com base na idade – incluindo o RH, colegas de trabalho, clientes, gerentes e executivos. Os homens foram identificados como os principais etaristas (especialmente em funções de RH, liderança executiva e posições de cliente ou fornecedor). “Fui informada por um recrutador executivo que mulheres deveriam se aposentar após os 50 anos porque não são mais vendáveis,” disse uma das entrevistadas. No entanto, mulheres também estavam envolvidas na discriminação etária.
Do etarismo à mudança
Sofrer esse tipo de preconceito no trabalho motivou executivas a transformar essa experiência em um catalisador para a mudança. Algumas usaram isso como impulso para iniciar seus próprios negócios, enquanto outras começaram a atuar pelo combate ao etarismo de gênero.
Mulheres acima de 50 anos muitas vezes enfrentam desafios no mercado de trabalho devido ao etarismo e ao viés de gênero. Como resultado, muitas optam por seguir caminhos alternativos de carreira, como consultoria, coaching, empreendedorismo ou trabalho freelance. Essas opções permitem que elas utilizem sua experiência e habilidades em ambientes onde podem evitar os preconceitos tradicionais de contratação e criar novas oportunidades para si mesmas.
A trajetória de carreira de Yvette Vink é um exemplo disso. Em uma conversa recente, Vink compartilhou sua jornada de transição de uma executiva de operações bem-sucedida para uma coach executiva, oferecendo insights e encorajamento quem está embarcando em jornadas de carreira similares.
Mãe solo, Vink enfrenta preconceitos de gênero e idade, apesar de suas contribuições e experiência. “Eu era frequentemente a pessoa procurada para reverter situações,” lembra. “Mas, uma vez que a tempestade passava, eu me via marginalizada ou até substituída por ser mulher.”
Ela relatou uma situação quando um vice-presidente sênior admitiu abertamente que não a teria contratado se soubesse sua idade. O etarismo, que faz com que as oportunidades profissionais diminuam para mulheres acima de 45 anos, é comum, mas raramente discutido. Durante a pandemia de Covid-19, Vink perdeu seu emprego como diretora de operações, onde havia estabelecido uma nova divisão para uma empresa tradicional. Sob a sua liderança, três mulheres construíram e gerenciaram essa nova área e atingiram suas metas com sucesso. No entanto, a divisão foi fechada e terceirizada para um colega homem de uma empresa concorrente.
Após o fechamento da divisão, Vink precisou enfrentar mais desafios ao procurar emprego. “Quatro recrutadores me disseram que eu teria mais sucesso em consultoria em vez de procurar posições corporativas, pois eu era considerada velha demais para esses cargos.”
Apesar de seu currículo impressionante de 30 anos no mercado, os recrutadores acreditavam que sua idade dificultava a recolocação em funções corporativas.
A pandemia se tornou um ponto de virada para Vink. Enfrentando o fechamento abrupto da sua divisão e experiências desanimadoras com recrutadores, ela escolheu mudar e usar sua vasta experiência corporativa como base para um novo empreendimento. Entendendo que a sua experiência não era isolada, Vink começou a atuar como consultora de executivos e abriu a Dream Connection para trabalhar com executivas descontentes na carreira e ajudá-las a reacender suas paixões pessoais e profissionais.
A Dream Connection foca em mulheres acima de 45 anos que se sentem marginalizadas ou irrelevantes devido a preconceitos sistêmicos no mercado de trabalho. Ela emprega uma abordagem estruturada para ajudar as clientes a redescobrir o que as entusiasma, valorizar sua autoestima, esclarecer metas para o futuro e fazer a transição de maneira suave para novas carreiras ou empreendimentos. “Percebi que minha jornada poderia fornecer um roteiro para outras,” disse Vink. “É sobre transformar reveses e descontentamento em degraus e reacender aquela chama interior.”
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A metodologia de Vink é focada na capacitação. Suas sessões começam com a reconstrução da autoconfiança, permitindo que as mulheres redescubram seu potencial. Isso é seguido por um trabalho minucioso para esclarecer valores, definir metas e explorar novas oportunidades profissionais, como freelancing ou consultoria, por exemplo.
“É incrivelmente gratificante ver as mulheres se transformarem e perceberem seu valor novamente,” afirma Vink. “Muitas delas sentem que não têm nada a oferecer, mas ao final do nosso tempo juntas, estão rejuvenescidas, prontas para enfrentar novos desafios e, muitas vezes, no caminho para viver as vidas que sempre imaginaram.”
Além da consultoria, Vink lidera o “Wanderlust Travel with Purpose,” um empreendimento de viagens que combina imersão cultural com doações de caridade. Essa iniciativa reflete sua crença em viver com propósito e retribuir à comunidade. “Por exemplo, durante uma viagem recente a Bali, nosso grupo se envolveu em atividades culturais, apoiou um orfanato local e contribuiu de outras maneiras significativas,” explica. “É sobre criar experiências inesquecíveis enquanto se faz um impacto positivo.”
A jornada de executiva a empreendedora oferece lições valiosas e encorajamento para aqueles que estão passando por transições de carreira similares.
Veja alguns passos para navegar neste momento e avaliar uma transição de carreira:
Reconecte-se com o que te traz alegria: redescubra o que te entusiasma e perceba como é possível alcançar mais.
Reconstrua a confiança reconhecendo seu valor: faça um inventário de suas habilidades, dons e experiências de vida. Não deixe que a idade e os reveses te limitem; eles podem aprimorar suas competências.
Defina metas claras: planeje seu próximo passo. A clareza guiará suas ações, seja começando uma nova carreira, trabalhando como freelancer ou iniciando seu próprio negócio.
Busque apoio e crie redes: cerque-se de uma comunidade. O networking pode abrir portas e encorajar transições.
Abrace novos empreendimentos: esteja aberta a novas experiências e oportunidades. Às vezes, o caminho adiante está em terrenos desconhecidos.
*Angela Chan é colaboradora da Forbes US. Ela é especialista em liderança feminina e negócios de varejo, além de trabalhar como consultora independente.
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