Como empreender a escrita?

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Me sento para escrever. Num instante, noto que a iluminação não está adequada. Me levanto, acendo a luz. E faço isso mais duas vezes ao longo da próxima meia hora, porque percebo que ainda não tenho luz suficiente. Me sento para escrever. Constato que estou com fome. Na verdade, uma fome fulminante. Faz quatro horas que comi pela última vez, me lembro. Então, me levanto, preparo algo rápido, como. Me sento para escrever. Ai, que vontade de um café. Tem pronto? Não, mas eu passo rapidinho. Me sento para escrever. Cadê a água? Não dá para escrever sem água ao lado. Me levanto, encho um copo, me sento para escrever.

Começo a escrever. Duas palavras e sinto falta do meu caderno. Preciso fazer uma anotação, à caneta, em outro lugar, e na terceira dimensão, para não perder o raciocínio. Vou até meu quarto, pego caderno e caneta na bolsa, coloco ao meu lado, e faço a primeira anotação, como que provando para mim mesma que era realmente uma necessidade. Me sento para escrever. Está frio. (Esfriou essa tarde.) Me levanto, pego uma manta. Me sento para escrever.

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Escrever é, antes de tudo, vencer os obstáculos que você mesmo cria para adiar a escrita

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Não vou nem falar de quantas vezes me levanto para ir ao banheiro. Nem dos áudios de WhatsApp que esperavam há horas para serem ouvidos e, entre uma frase e outra ganhando vida na tela do computador, têm sua vez.

Todo escritor sabe do que estou falando. E se você escreve esporadicamente no seu trabalho ou mesmo por hobby, deve saber também.

Escrever é, antes de tudo, vencer os obstáculos que você mesmo cria para adiar a escrita. Um processo que me parece inevitável. Acredito que seja até preparatório para a escrita – porque, sim, se você persistir, uma hora ela engata.

No meu caso, quando finalmente engreno, esqueço de tudo. De comer, de ir ao banheiro, de ouvir o que a pessoa que passa ao meu lado está me perguntando, de atender o telefone que toca em vão, de dormir. Mas é preciso ter disciplina também para parar de escrever. Dar uma pausa. Fazer atividade física. Me alimentar. Ventilar o cérebro. Descansar. Ler um pouco – no meu caso, que escrevo não ficção, gosto de ler literatura para aguçar a criatividade. Falar de outros temas.

Se você precisa escrever, mas está com dificuldade de se dedicar consistentemente, aqui vão algumas sugestões de quem tem a escrita como ofício:

1. Planeje-se. Muitas vezes, as pessoas se sentam para escrever sem uma ideia clara de começo, meio, fim e os porquês de suas escolhas. Que tópicos precisa abordar? Como vai ilustrar cada um? Que histórias não podem faltar? Em que ordem as ideias lhe parecem mais bem encadeadas? Trace um plano. Dedique tempo a refletir sobre o que vai escrever antes de começar. Essa etapa vai aquecendo seu cérebro, conectando-lhe ao texto que virá a seguir.

2. Coloque na agenda o tempo para escrita. Feche períodos para isso. Quanto mais longo e elaborado o texto, mais horas seguidas são bem-vindas para fazer um mergulho sem interrupções. Crie regras para ajudar você mesmo a se concentrar nesse mundo de estímulos constantes. Por exemplo, uma hora sem olhar o celular (e o alarme ajuda nesse caso).

3. Crie o ambiente que faz você se sentir melhor. No meu caso, ter água, café, papel e caneta sempre ao alcance das mãos é reconfortante. Entenda o que é importante para você, que desculpas lhe fariam levantar mais vezes do que seria produtivo e cerque-se do que vai ajudá-lo a se concentrar no que precisa agora.

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4. Acolha o processo. Não se irrite porque não consegue se sentar e imediatamente começar a escrever. Haverá dias em que isso será possível. Haverá outros, porém, em que as palavras parecem difíceis de acessar. Como tudo na vida, temos dias a dias. Compreenda que escrever é mesmo um desafio e dê-se tempo para engatar.

Por se tratar de um trabalho criativo, é fácil subestimarmos a importância do planejamento e da disciplina. Mas são eles que trarão ritmo e autoconfiança para quem escreve. Os rompantes de inspiração virão, de repente, e esporadicamente, como a cereja do bolo. Aqui também vale a máxima de Pattabhi Jois, o pai do ashtanga vinyasa yoga, que pratico há quase vinte anos: “Pratique e tudo virá”.

Ariane Abdallah é jornalista, autora do livro “De um gole só – a história da Ambev e a criação da maior cervejaria do mundo” e fundadora do Atelier de Conteúdo, empresa especializada na produção de livros, artigos e estudos de cultura organizacional. 

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