Os profissionais encarregados de implementar políticas de retorno ao presencial podem ser os mais propensos a deixar a empresa por conta das mudanças no regime de trabalho, apontam duas novas pesquisas. Isso pode surpreender os CEOs que estavam mais preocupados com a resistência dos trabalhadores menos experientes – e da geração Z – para a volta ao escritório.
A Gartner, uma empresa de consultoria e pesquisa em recursos humanos, compartilhou resultados de um estudo com 3.500 profissionais, que mostrou que 33% dos executivos obrigados a retornar ao escritório afirmaram que deixariam sua empresa atual por esse motivo. Enquanto isso, apenas 19% dos entrevistados não executivos disseram o mesmo.
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A pesquisa, realizada em novembro de 2023, mas divulgada em maio deste ano, afirmou que isso ocorreu apesar de mais da metade dos executivos que foram obrigados a retornar ao escritório dizerem que o motivo dado por seus empregadores foi convincente. “Os líderes seniores – que muitas vezes são os responsáveis por comunicar e representar essas decisões na empresa – não estão imunes às expectativas crescentes de flexibilidade que vemos em todos os funcionários”, afirma a diretora de pesquisa da Gartner, Caroline Ogawa.
Retorno ao presencial nas big techs
O estudo da consultoria foi divulgado dois dias após um artigo acadêmico que mostrou como a implementação de políticas de retorno ao trabalho presencial em três grandes empresas de tecnologia pareceu impactar as demissões de profissionais experientes.
O artigo analisou dados de currículos de uma empresa chamada People Data Labs após as exigências de retorno ao escritório na Apple, Microsoft e SpaceX, de Elon Musk, comparando a saída de funcionários seniores nessas empresas com outras companhias semelhantes.
Aqueles que saíram não sofreram para encontrar outros empregos, afirma David Van Dijcke, doutorando pela Universidade de Michigan. “Não encontramos nenhuma evidência de que eles estejam aceitando mudanças de cargo, rebaixamentos ou ficando desempregados”, diz Dijcke, co-autor do artigo com Florian Gunsilius, da Universidade de Michigan, e Austin Wright, professor assistente da Universidade de Chicago. “Isso sugere que esses profissionais seniores têm muitas outras opções.”
O que dizem as empresas
A SpaceX não respondeu imediatamente a um pedido para comentar sobre a pesquisa. O porta-voz da Apple, Josh Rosenstock, indicou uma declaração anterior da empresa que aponta “conclusões imprecisas” sobre a análise e que ela “não reflete a realidade do nosso negócio”, além de dizer que “a rotatividade está em níveis historicamente baixos.”
A Microsoft também refutou as conclusões do artigo. Amy Coleman, vice-presidente corporativa de recursos humanos da empresa, escreveu em um email que os resultados dos estudos não correspondem aos dados internos da companhia, “especialmente em relação à rotatividade”. “Também é impreciso dizer que temos uma ordem de retorno ao escritório. Temos um formato de trabalho híbrido que gira em torno da flexibilidade e uma combinação de modelos em termos de localização e horário”, escreveu ela.
Diversas reportagens afirmaram que, em abril de 2022, a Microsoft começou a pedir que os trabalhadores trabalhassem presencialmente 50% do tempo, a menos que tivessem permissão de seus gerentes. No entanto, a empresa tem funções que podem ser executadas totalmente de forma remota, e, segundo um porta-voz, o modelo híbrido recebeu feedbacks positivos dos empregados e é um “ponto de partida para a flexibilidade”, e não uma norma rígida.
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Geração Z não é a única que busca flexibilidade
Ambos as estudos se baseiam em pesquisas anteriores ou dados que sugerem que os profissionais mais resistentes ao retorno presencial ou menos propensos a trabalhar no escritório não são os da Geração Z.
De acordo com o economista Nick Bloom, da Universidade de Stanford, que pesquisa sobre o trabalho remoto, e outros especialistas, a porcentagem de dias de trabalho em casa é mais alta entre trabalhadores de 30 até 44 anos. Esse grupo tem maior probabilidade de ter filhos pequenos ou enfrentar longos deslocamentos entre trabalho e suas casas.
Uma pesquisa com quase 400 trabalhadores realizada pela empresa Seramount descobriu que apenas 11% dos trabalhadores da Geração Z desejam trabalhar em casa em tempo integral, em comparação com 34% dos trabalhadores mais velhos.
Outro estudo, da empresa de verificação de antecedentes Checkr, constatou que 68% dos gestores querem continuar no modelo remoto, em comparação com apenas 48% dos profissionais em geral.
Essas descobertas chegam em um momento em que algumas empresas estão restringindo as opções de trabalho remoto. O Walmart afirmou que, além da redução de “várias centenas” de empregos corporativos, espera que a maioria dos trabalhadores remotos se realoque até algum escritório.
De acordo com um relatório recente do Flex Index, cerca de 37% das empresas – o percentual mais alto registrado até o momento – adotam um modelo “híbrido estruturado”, que permite o trabalho remoto, mas também exige algum tempo presencial no escritório.
O estudo aponta uma diminuição no percentual de empresas que esperam que os funcionários trabalhem no modelo totalmente presencial, mesmo que algumas companhias, como UPS e Boeing, agora exijam cinco dias por semana no escritório para determinados grupos de funcionários.
Brian Elliott, que anteriormente liderou o consórcio de pesquisa Future Forum da Slack e agora aconselha equipes executivas sobre modelos de trabalho flexíveis, aponta para outra análise da Gartner, de janeiro, que mostrou que a “intenção de permanecer na empresa” entre executivos de alto escalão foi 16% menor após anúncios de políticas de retorno ao escritório, o dobro da taxa dos empregados.
Van Dijcke afirma que ele e seus co-autores estudaram as três empresas do relatório (Apple, Microsoft e SpaceX) porque elas estavam entre as primeiras a implementar algum tipo de política de retorno presencial. Isso permitiu aos pesquisadores separar os resultados das demissões generalizadas no setor de tecnologia que ocorreram posteriormente.
A maneira como as políticas são implementadas pode evoluir com o tempo, e Van Dijcke explica que os resultados podem mudar à medida que mais empresas passem a adotar requisitos de presença no escritório do que em 2022 – o que significa que as oportunidades de trocar de emprego buscando flexibilidade podem se tornar mais raras.
Ainda assim, enquanto os líderes empresariais continuam a se preocupar com o impacto do trabalho remoto na produtividade, colaboração e no fortalecimento da equipe, eles devem equilibrar essas preocupações com os riscos de perder talentos de alto nível se optarem por implementar uma política rígida, diz Elliott. “Tudo se resume à confiança”, afirma ele. “Pessoas talentosas sempre têm outras opções.”
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