Estamos na era do déficit de atenção?

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Posso apostar que uma parcela daqueles que estão lendo este texto agora anda tendo dificuldade para manter o foco. Ler, por exemplo, tem se tornado mais difícil, porque qualquer ruído, qualquer notificação que chega no celular já é suficiente para nos deixar dispersos.

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Já se fala, inclusive, numa cultura do déficit de atenção. Não estou falando do TDAH (o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), cujas taxas de diagnóstico são cada vez maiores no mundo todo, mas do fato que parece que estamos cada vez mais distraídos.

Somos bombardeados o tempo todo, o dia todo, com todo tipo de informação, com todo tipo de estímulo. Dos vídeos ultracurtos do TikTok à imensa variedade de conteúdos a que estamos expostos – áudios no WhatsApp, memes, emojis, stories no Instagram, só para citar alguns com os quais interagimos o dia inteiro – tudo incita permanentemente a nossa cognição. O resultado é que a capacidade para sustentar o foco vai ficando prejudicada.

Eis um dado que pode ajudar a dimensionar o que eu estou falando. Uma pesquisa do Centro de Estudos sobre a Atenção do King’s College, de Londres, mostrou que, no Reino Unido, os adultos subestimam a frequência com que verificam seus smartphones. Enquanto a maioria acha que dá uma checadinha no celular só 25 vezes ao dia (eu diria que isso já é muito), o que dados sugerem é que, lá, os números chegam a 80 vezes ao dia.

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Como manter-se concentrado se, em apenas uma hora, considerando o exemplo acima, desviamos o foco do que fazemos para dar uma espiada no celular ao menos três vezes?

Embora não possamos afirmar que realmente a nossa capacidade de atenção diminuiu, por falta de estudos de longo prazo, o que se pode dizer, baseando-se em várias pesquisas, é que as pessoas têm tido, sim, a percepção de uma redução na capacidade de manterem-se concentradas.

Pesquisas também têm mostrado que a tecnologia é uma das responsáveis por isso. Desviar a atenção entre redes sociais, smartphones, tablets, internet, televisão, rádio ou outros meios de comunicação prejudica a capacidade de realizar tarefas simples.

A questão é que muitas pessoas – entre 3% e 6% da população mundial – têm apelado para remédios para tratar o TDAH, os chamados psicoestimulantes, como solução para uma condição que parece fazer parte desse mundo em que vivemos. Acontece que o uso abusivo desses medicamentos, e sem orientação médica, traz grande prejuízo à saúde mental.

O que fazer, então, dado que todos nós precisamos fazer uso dessas tecnologias para trabalhar, para nos locomover, para pagar as contas e até para nos relacionarmos?

Dado que o cardápio de coisas que temos à nossa disposição e que são capazes de nos distrair é gigante e dado que temos tarefas a cumprir no dia a dia, a sugestão é fazer algo bem simples: uma listinha das suas prioridades em ordem decrescente. Isso irá ajudá-lo a concentrar a energia naquilo que é mais importante, ao invés de querer dividir a atenção entre todos os itens da lista.

Enquanto está trabalhando, procure desligar as notificações do seu celular e do seu computador ou deixe o seu celular no mudo. Tal atitude, com o tempo, vai auxiliá-lo a habituar-se a manter a atenção concentrada ao menos durante um período do dia.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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