Suas compras na Shein estão superlotando o setor de carga aérea. E agora?

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As plataformas de e-commerce chinesas Temu, que chegou ao Brasil na semana passada, e Shein enviam juntas cerca de nove mil toneladas de carga para todo o mundo todos os dias, o que equivale a 88 aviões cargueiros Boeing 777, de acordo com uma pesquisa de fevereiro da Cargo Facts Consulting.

Essas plataformas se tornaram tão populares globalmente que fizeram os preços do envio rápido por avião da China dispararem, criando uma crise de carga que está alterando as rotas comerciais globais.

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De acordo com os dados mais recentes da empresa de análises logísticas Xeneta, a “taxa média à vista” de frete aéreo de maio do sul da China para os EUA está em cerca de US$ 4,75 (R$ 24) por quilograma, o valor mais alto desde o final do ano passado, rivalizando com o pico de demanda típico do período que antecede a temporada de festas. Isso é mais do que o dobro do mesmo período em 2019, quando a taxa era de US$ 2,32 (R$ 12) por quilograma.

As taxas ainda estão abaixo dos picos recentes de 2020 e 2021, quando chegaram a US$ 10 (R$ 51) a US$ 12 (R$ 62) por quilograma. No entanto, esses picos foram causados pela pandemia, que criou escassez de remessas e problemas nas cadeias de suprimentos em todo o mundo. Agora, analistas dizem que a alta se deve principalmente a apenas duas empresas: Temu e Shein.

“Ninguém previu isso no ano passado”, disse Niall van de Wouw, diretor de frete aéreo da Xeneta. “Os volumes deles podem ser da mesma ordem de magnitude que o maior despachante de cargas do mundo. As quantidades deles são insanas.”

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Temu, que vende principalmente roupas e utensílios domésticos, e Shein, que construiu sua marca com moda e desde então se expandiu para eletrônicos de consumo e itens de cozinha, são diferentes de outros varejistas porque vendem itens fabricados diretamente por empresas chinesas desconhecidas. Parte do baixo custo deles vem da decisão de enviar diretamente a partir desses fabricantes, em vez de trabalhar com marcas conhecidas que impõem custos, preços e padrões de qualidade maiores.

“Shein e Temu têm uma ‘sede’ contínua por frete aéreo, que é incomparável a qualquer coisa que vimos anteriormente”, diz Wenwen Zhang, analista de frete aéreo.

Temu e Shein estão mudando o cenário

Temu e Shein estão mudando o cenário logístico global. Para acompanhar o crescimento dessas plataformas, algumas empresas de logística e companhias aéreas começaram a adicionar mais voos. A Atlas Air, uma empresa americana de frete aéreo, anunciou o lançamento de um segundo avião de carga em parceria com a YunExpress, uma companhia de transporte chinesa.

A Korean Air informou que gerou US$ 2,8 bilhões (R$ 14 bilhões) em receita durante o primeiro trimestre de 2024, citando uma “demanda robusta de carga”, um aumento de 20% em relação ao ano anterior. A companhia aérea acrescentou que durante o segundo trimestre, seu negócio de carga “se aproveitaria da crescente demanda do e-commerce da China, fortalecendo parcerias com clientes e alocando capacidade em rotas-chave”.

O boom impactou até mesmo as rotas de transporte globais. Temu começou novas rotas marítimas e aéreas via Taiwan, Japão e Coreia para os EUA, “alterando padrões comerciais tradicionais”, segundo um relatório da empresa de transporte taiwanesa Dimerco. “Consequentemente, as taxas de frete dessas rotas alternativas agora estão superando aquelas da China continental – um fenômeno incomum.”

Enviar carga por via aérea é consideravelmente mais rápido e mais caro do que por mar, que pode transportar um volume muito maior de mercadorias, embora em um ritmo mais lento.

Os altos custos do frete aéreo se devem em parte aos aviões retornarem vazios. O transporte nessa direção custa um quinto do preço para enviar da China para os EUA. “Você consegue um avião cheio para os EUA e um vazio na volta,” disse van de Wouw.

Além disso, há o custo ambiental. De acordo com a Freightos, uma plataforma de reserva de frete online, os navios de carga geram aproximadamente de 10 a 40 gramas de dióxido de carbono por tonelada-métrica por quilômetro viajado, muito menos do que o frete aéreo, que emite cerca de 500 gramas por tonelada-métrica por quilômetro.

Frete grátis

Por enquanto, Shein e Temu oferecem frete grátis para pedidos acima de um certo valor, aparentemente dispostas a absorver os custos mais altos como uma estratégia para acelerar o crescimento. “Temu e Shein estão contando com o frete aéreo porque seu modelo de negócio é de moda ultra-rápida e eles precisam despachar todos esses produtos imediatamente”, disse Guillermo Ochovo, diretor da Cargo Facts Consulting. “Eles não têm outra opção além de depender do transporte aéreo agora.”

No entanto, isso pode mudar a médio e longo prazo, à medida que as empresas procuram maneiras de reduzir os custos, agora que ambas são plataformas de e-commerce estabelecidas.

Atualmente, elas não possuem uma rede de logística marítima e terrestre doméstica comparável à da Amazon, mas ambas começaram lentamente a expandir sua presença nos Estados Unidos e no México. Shein agora tem dois centros de distribuição em Indiana e Califórnia, e a Temu recentemente começou a trabalhar com vendedores chineses já estabelecidos nos EUA.

Nova no Brasil, mas conhecida do mundo

A empresa controladora da Temu, a PDD Holdings, também possui o e-commerce Pinduoduo, que opera apenas na China, e tem um valor de mercado superior a US$ 167 bilhões. Com mais de 17 mil funcionários em todo o mundo, de acordo com seu relatório anual mais recente, a grande maioria dos quais trabalha na China, a PDD Holdings obteve lucros anuais recordes de mais de US$ 8,4 bilhões (R$ 43 bilhões) em 2023. Destes, aproximadamente US$ 5 bilhões (R$ 26 bilhões) foram lucro líquido atribuído a “outras subsidiárias da PDD Holdings”, incluindo a Temu.

A Shein, por sua vez, está avaliada em US$ 66 bilhões (R$ 340 bilhões) e tem avançado rapidamente no mercado dominado por marcas de moda como Gap e Macy’s. A empresa de capital fechado cresceu rapidamente, aumentando sua receita de aproximadamente US$ 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões) em 2019 para um estimado de US$ 48 bilhões (R$ 247 bilhões) este ano, de acordo com a ECDB, uma empresa alemã de análise de e-commerce .

Ambas as empresas, que provavelmente ultrapassarão receitas de US$ 90 bilhões (R$ 463 bilhões) este ano, têm potencial para ter uma temporada de festas de final de ano recorde — e os transportadores já estão preocupados. “O fato de estarmos discutindo esse tipo de mercado tão cedo no ano está levando muitas pessoas a pensarem em quão desafiadora será a temporada de pico, o quarto trimestre”, disse Brian Bourke, diretor comercial da SEKO Logistics.

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