Nova general manager da L’Óreal Luxo revela estratégias para carreira internacional

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Marina Torres, nova líder da L’Óreal Luxo no Brasil, mostra como desenvolveu flexibilidade para liderar equipes com culturas diferentes 

Depois de mais de 20 anos fora do Brasil, Marina Torres volta ao país, 4º maior mercado de beleza do mundo, para assumir a divisão de luxo da L’Óreal, à frente de marcas como Lancôme, Giorgio Armani, Yves Saint Laurent e Prada. “Queriam um brasileiro que tivesse experiência em mercados desenvolvidos para assumir um que está em desenvolvimento e tem muito potencial”, diz a executiva, que parecia a candidata perfeita.

A brasileira se mudou para Portugal aos 16 anos com a família, fez faculdade na Inglaterra e construiu toda a sua carreira internacionalmente e em diferentes áreas dentro do maior grupo de beleza do mundo. “Sou uma L’Oréal baby”, diz, explicando que é assim que chamam os funcionários que começaram na empresa ainda na faculdade.

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A porta de entrada para uma carreira que já soma mais de 15 anos na empresa foi a produção de um evento na sua faculdade. Depois de formada, foi trainee em Londres, onde assumiu diferentes posições de liderança. “Cada marca em que eu trabalhei tinha modelos de negócios, consumidores e produtos diferentes”, diz a executiva, que se apaixonou pela divisão de luxo. “Era mais família, com atenção ao detalhe. Mesmo como estagiária, eu conseguia contribuir bastante.”

Nos últimos cinco anos, atuou nos Estados Unidos, no time de Travel Retail Americas, divisão responsável pela venda de produtos de beleza em canais de viagem, como aeroportos, lojas duty-free e cruzeiros. “A carreira é um ziguezague”, diz. Marina deixou a posição de diretora de marketing na Inglaterra para ser gestora comercial em Miami. “As pessoas perguntaram por que eu fiz isso. Mas o que eu aprendi lá me fez uma profissional melhor.”

Aqui, Marina Torres fala dos desafios de liderar equipes com culturas diferentes e mostra como desenvolveu flexibilidade para lidar com os erros e aprender com eles. “Na minha bagagem, tem muito mais projetos que não deram certo e que me ensinaram a ser resiliente, mudar o curso e manter a equipe motivada.”

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Forbes: Por que você decidiu voltar ao Brasil depois de mais de 20 anos?

Marina Torres: Eu estava há 4 anos e meio nos Estados Unidos e já pensando em opções de próximos passos. A ideia seria ir para Paris porque é a sede e eu ainda ainda não passei por lá. Mas depois da reunião internacional em junho do ano passado, eu estava no estacionamento do prédio e falei para um diretor na América Latina que eu gostaria de ser diretora da divisão de luxo, mas que não tinham muitas posições disponíveis. E ele perguntou: “E o Brasil?”, e eu comecei a pensar. O Brasil cresceu muito a nível de luxo, principalmente no pós-pandemia. Em novembro me chamaram para vir para cá na posição de diretora de marcas para aprender sobre o mercado e me preparar para ser uma boa candidata quando a Sabrina [Zanker, então diretora geral da divisão de luxo] fosse assumir o seu próximo desafio.

F: Como e por que construir toda a carreira dentro de uma mesma empresa?

MT: Hoje em dia nós vemos muito mais as pessoas mudando de indústrias ou de companhias e menos fazendo carreira em uma empresa. Houve vários momentos em que eu me perguntei se eu não estava me fechando a outras oportunidades e se deveria mudar. E a minha conclusão sempre foi que eu estou numa companhia que eu gosto e onde continuo me desenvolvendo, aprendendo e sendo desafiada. Na minha jornada, cada marca em que eu trabalhei foi muito diferente. Modelos de negócios, consumidores e produtos diferentes. E a L’Oréal no Brasil é muito diferente da Inglaterra ou em travel retail. Isso dá uma energizada e traz muito aprendizado para continuar crescendo, ao mesmo tempo em que você conhece o grupo e consegue agregar valor passando essa experiência para as pessoas.

F: Como você lidou com a primeira mudança de país e ao longo da carreira?

MT: A mudança sempre dá um pouco de medo porque você está saindo da sua zona de conforto para descobrir algo diferente. O momento que foi mais marcante para mim foi sair de uma escola brasileira e começar em uma escola americana sem ter inglês fluente. Mas depois tudo se encaixou. Quando eu fui para a Inglaterra foi a mesma coisa. E voltar para o Brasil depois de 23 anos também não foi fácil. Tem um livro que diz “Feel the fear and do it anyway”, ou seja, “sinta o medo e faça de qualquer forma”. Isso te dá uma resiliência muito grande.

F: O que você mais gostava de morar fora e o que só tem no Brasil?

MT: O que eu mais gostava de morar fora era a segurança. Mas o Brasil é calor, é alegria e diversidade. Gosto muito de música popular brasileira, assim como gosto de sertanejo e rock. Adoro São Paulo, mas também amo o Rio e explorar o Nordeste. Tem algo cultural muito especial que outros países não têm.

F: Como adaptar o estilo de liderança conforme a cultura do país?

MT: Flexibilidade não era algo que eu tinha. Mas com o tempo você aprende a desenvolver e a entender melhor as pessoas com quem você está trabalhando. Isso é muito importante quando você muda de cultura porque é tudo muito relativo. É preciso se adaptar para conseguir o melhor das pessoas e também de você mesmo. Mas é um processo. Como líder, você trabalha com pessoas e cada uma tem a sua individualidade. É preciso ter humildade de saber que você não é perfeito, também tem as suas próprias questões culturais. Eu tenho um lado anglo-saxão e também um lado brasileiro. Também aprendi a ter abertura e expressar como eu sou e pedir feedback. A parte mais difícil é criar um ambiente que as pessoas se sintam à vontade para passar feedback e perspectivas diferentes.

F: Além dessa flexibilidade, o que foi mais importante para desenvolver ao longo da carreira?

MT: Foram vários aprendizados e um dos mais importantes é conseguir construir a sua credibilidade com as pessoas. Nesse momento, eu estou numa posição fantástica, em um cargo alto com experiência internacional. Mas eu comecei como uma brasileira na Inglaterra e precisei fazer eles entenderem o meu potencial e confiarem em mim. Essa é uma indústria muito subjetiva e emotiva, principalmente a área de fragrância, então você precisa ter credibilidade para conseguir ter conversas elevadas. Precisa estar preparada para trazer os argumentos, entregar o que você tem que entregar e mostrar os resultados. Assim você consegue defender as suas posições com mais convicção e as pessoas vão estar mais abertas a te ouvir. É a construção da sua marca pessoal.

F: Você era a candidata perfeita para essa posição. Quais resultados te destacaram para assumir essa posição?

MT: Sempre brincava que se fosse por resultados e conquistas eu não teria chegado a lugar nenhum porque no começo da minha carreira todos os lançamentos que nós fizemos não deram certo. Mas existe um aprendizado muito importante nisso. Nós fazemos apostas, alguns produtos realmente explodem e viram best sellers, mas outros não. A jornada é muito mais sobre conseguir trazer as pessoas com você na sua visão e ter uma execução o mais próximo possível do perfeito. Mas também ter a humildade e a mente analítica para conseguir enxergar o que não deu certo, onde você falhou e como não repetir esses erros no futuro. Um projeto que fizemos no ano passado foi um dos maiores sucessos que eu tive, mas na minha bagagem tem muito mais projetos que não deram certo e que eu tive que aprender a ser resiliente, mudar o curso, pensar diferente e manter a equipe motivada. Os erros ajudam muito.

F: E como motivar a equipe quando nem você mesma está motivada?

MT: Eu tenho vontade de aprender e não tenho medo de buscar ajuda. Teve um momento na minha carreira que eu senti que precisava de uma ajuda e comecei a fazer terapia, o que foi muito bom tanto para a vida pessoal quanto profissional. Também participava de um grupo de líderes e de mulheres e trocar ideia com pessoas fora da indústria é muito interessante.

Não existe uma solução única. Ainda estou entendendo como as pessoas se engajam no Brasil. Para conseguir dar essa força e ser autêntica, você tem que ter essa resiliência e processar o desafio e o fracasso.

F: O que você diria para brasileiros que querem ter experiências internacionais?

MT: Eu sempre encorajo as pessoas a fazer coisas diferentes. Uma experiência internacional é maravilhoso a nível profissional e a nível pessoal porque você aprende a lidar com uma cultura diferente, se adaptar, enfrentar o medo e sair da sua zona de conforto. Os caminhos para fazer são sempre diferentes e cada um tem que olhar o que quer tirar dessa experiência. O que eu geralmente falo para a minha equipe é: se é uma coisa que você realmente quer fazer, não desista por não ser fácil. Há várias oportunidades, e se uma não der certo, continue tentando porque é muito enriquecedor e não precisa ser para sempre, pode ser por seis meses ou um ano.

F: Qual foi o turning point da sua carreira?

MT: Eu poderia falar a nível de posição, mas acho que o turning point da minha carreira profissional foi a separação dos meus pais. Naquele momento, eu percebi que precisava ter algo que fosse meu. E a minha carreira virou essa coisa que é minha e que ninguém pode tirar de mim. Não só é algo que paga as contas, mas é realmente uma paixão. Isso mudou muito a maneira como eu vejo a minha carreira e o compromisso que eu tenho com o meu trabalho.

F: O que você gostaria de ter ouvido no início da sua carreira que poderia ter feito a diferença?

MT: Sabe que eu não tenho uma resposta para essa pergunta? Porque eu posso te dizer o melhor conselho que eu recebi na minha carreira, mas acho que as coisas todas se encaixaram quando tinham que se encaixar. E talvez se tivessem me falado isso antes, eu não teria passado pelos perrengues que eu passei e que me tornaram até melhor. Mas o melhor conselho que eu recebi foi que todo mundo tem a visão da carreira sendo um gráfico exponencial. Você quer sempre crescer e ser promovido porque essa é a medida do sucesso. Mas na verdade é um ziguezague.

Quando eu saí da Inglaterra eu fui para travel retail, eu deixei de ser uma diretora de marketing com 16 pessoas com um superbudget e muita visibilidade pra ir pra uma subsidiária pequena numa posição de gestora de comercial. Mas o que eu aprendi naqueles dois anos me fazem hoje uma profissional muito melhor. Eu consigo ter conversas com os clientes e com a equipe comercial porque eu passei por lá e ter feito o cargo deles me dá credibilidade para poder desafiá-los. Então esse foi um grande aprendizado que me passaram durante a carreira.

A trajetória de Marina Torres, general manager da L’Óreal Luxo

Por quais empresas passou

HSBC (estágio) e L’Oréal

Formação

Business Administration

Primeiro emprego

L’Oréal, Assistant Product Manager Giorgio Armani Fragrances

Primeiro cargo de liderança

L’Oréal, Senior Product Manager, YSL Fragrances

Tempo de carreira

Mais de 15 anos

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