Outro dia, meio adoentado por uma virose em casa, tirei a tarde para ver TV. Quatro horas depois, eu ainda estava com os olhos grudados nas notícias sobre a tragédia no Rio Grande do Sul. Cheguei a mudar de canal algumas vezes, mas, logicamente, esse é o tema do momento e precisa realmente ser. Notei em mim uma grande ansiedade com as notícias dos resgates das populações gaúchas afetadas e de seus pets, da possibilidade de haver mais chuvas e do que farão os gaúchos, de como eles reconstruirão o estado e suas vidas.
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Este tipo de ansiedade hoje tem nome: ansiedade climática ou ecológica. Embora esse termo já circule há um certo tempo entre especialistas, ainda não é totalmente compreendido.
O que se sabe é que as emergências climáticas que temos presenciado com cada vez mais frequência e em mais lugares do mundo, e o fato de não podermos mais prever o futuro, nem sequer o futuro próximo, têm causado um impacto negativo significativo na saúde mental de muita gente, especialmente de jovens e populações indígenas; mas, mais recentemente, de um grupo maior de pessoas.
É difícil definir o que seria ansiedade climática. Alguns estudiosos dizem que ela implica um guarda-chuva grande de sintomas, que vão desde preocupação crônica, ansiedade e estresse propriamente ditos, à desesperança e sensação de puro medo e terror a respeito do futuro e da destruição do planeta.
Mas que fique claro: não se trata de um transtorno mental. Sentir-se ansioso e angustiado é uma das respostas naturais a ameaças, inclusive a climática. Significa que, de fato, estamos preocupados com isso. Isso não significa que não afete a nossa saúde mental. Até porque afeta, e muito: chega a provocar insônia, crises de pânico e até perda de apetite.
Como lidar com essa situação de maneira a que não nos paralise e não empaque as nossas vidas?
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Parece existir um consenso entre pesquisadores de que resiliência será uma competência pessoal e coletiva cada vez mais importante a partir de agora. Resiliência é um termo que veio da física e significa a capacidade de certos elementos de serem elásticos, flexíveis, e não quebrarem. Essa definição vale para a gente.
Um estudo recente, de 2023, mostrou que a ação coletiva (temos visto isso no Rio Grande do Sul e no Brasil todo, com a corrente de solidariedade e de voluntariado) aumenta o capital social, gera sentimento de pertencimento, fortalece os laços e a resiliência. Ou seja, estar junto, agir em conjunto, ajuda a construir e a fortificar a resiliência.
Se você, assim como eu, sentiu-se ansioso por lidar com as tristes notícias, procure afastar-se um pouco das redes sociais e da TV.
Algumas práticas podem ajudar a lidar com as suas emoções. Uma delas é a meditação. A outra, o mindfulness. Uma terceira, e que geralmente aprendemos quando meditamos, é a respiração profunda, uma ferramenta poderosa e que traz calma e relaxamento.
Por fim, fale. Guardar medos, ansiedades, angústias, pode nos adoecer ainda mais. Nomear aquilo que sentimos nos ajuda a olhar para aquele turbilhão de emoções de um outro lugar.
As tragédias climáticas têm sido, para muitas pessoas, uma oportunidade de fazer algo, de pensar no diferente e agir de alguma forma, de botar a mão na massa. Quem sabe não será para você também?
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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