Gaúchos na resistência: RAR faz 45 anos e reafirma que produção continua

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Sergio Martins Barbosa, da RAR, diz que logística é o ponto de atenção da empresa hoje

Esta quarta-feira, 15 de maio, era para ter sido um dia de muita festa na RAR, empresa gaúcha fundada por Raul Anselmo Randon há exatos 45 anos. Nesse tempo, a RAR se tornou uma das principais produtoras de maçãs do país, com 2,5 milhões de toneladas colhidas por safra para atender ao mercado interno e também para exportação. São mais de 10 países, com dois deles – Emirados Árabes e Singapura – com protocolos fechados no início deste ano e expectativa de embarcar os primeiros lotes da fruta ainda neste semestre.

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A RAR também se tornou um grande nome na produção de queijos duros com a marca Gran Formaggio, projeto iniciado lá nos anos 1990 quando montou a primeira fábrica de queijo tipo Grana fora da Itália. A empresa também produz azeite e é dona de um portfólio com 32 rótulos de vinhos e espumantes, entre nacionais e importados. Com faturamento próximo de R$ 500 milhões nos últimos anos, ela tem em seu planejamento chegar à marca de R$ 1 bilhão até 2030.

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Mas, no atual momento do Rio Grande do Sul, pode-se considerar que a empresa gaúcha é uma sobrevivente. Com sede em Vacaria, no nordeste do estado, a 360 km de Porto Alegre e acima da região dos vinhedos, a RAR sofreu com as chuvas intensas, mas não a ponto de desestruturar sua produção. Ainda assim, como outros produtores, ela está analisando cenários minuciosamente, segundo o presidente executivo, Sérgio Martins Barbosa. Confira o que ele disse à Forbes:

Quais foram as perdas da RAR neste período de chuvas e enchentes?

Em Vacaria, que é uma região mais alta, o impacto da enchente foi menor. Mas tivemos perdas, principalmente, no setor de grãos, em que colhemos cerca de 50% do que foi plantado. No momento, o que mais nos afeta é a inviabilidade da logística dentro do estado.

E para as frutas?

Na fruticultura seguimos com o planejamento que já estava estipulado. As chuvas do final de 2023 prejudicaram a safra, mas conseguimos fazer a manutenção dos pomares para garantir a colheita. Foi mesmo no setor de grãos e cereais que sentimos o impacto das enchentes.

Como a empresa está se estruturando nesse momento para enfrentar a logística hoje comprometida?

Estamos avaliando diariamente o cenário das estradas e pontes interrompidas para desenvolver estratégias de logística. Mas é essencial aguardarmos um panorama mais claro, antes de projetarmos nossas ações futuras.

Os importadores já entraram em contato com a RAR para tomarem ciência do ocorrido?

Em função da BR 116 ser próxima à nossa sede e o fluxo no norte do Rio Grande do Sul estar liberado, temos alternativas logísticas para garantir que nossos importadores sejam atendidos sem interrupções, incluindo o uso de portos em Santa Catarina e Paraná, caso necessário.

A empresa tem feito alguma ação de ajuda aos desabrigados?

Desde o primeiro momento da tragédia, estivemos em diferentes frentes para auxiliar o povo gaúcho. Em parceria com o Instituto Elisabetha Randon, a RAR fez uma contribuição inicial e lançou uma campanha solidária para apoiar as famílias afetadas pelas enchentes.

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A empresa também contribuiu com doação de leite para a cidade de Igrejinha, que foi afetada pelas chuvas, e os colaboradores da RAR também se uniram à causa com doações na sede em Vacaria, que está recebendo donativos de itens essenciais de higiene e limpeza, roupas, água, alimentos e calçados. Tudo vem sendo encaminhado aos pontos de coletas oficiais. Além disso, em conjunto com a Associação Brasileira de Produtores de Maçãs (ABPM), a RAR doou colchões, água mineral e maçãs para as cidades afetadas pelas chuvas.

Há funcionários da RAR atingidos pelas enchentes no RS?

A maioria de nossos funcionários reside em áreas menos afetadas, como Vacaria, Caxias do Sul ou em outros estados brasileiros. Oferecemos suporte integral a todos os afetados pelas enchentes, garantindo que recebam assistência neste momento difícil.

O trabalho que continua na RAR

Passado o período crítico, diz Barbosa, um dos principais objetivos da RAR, que é refinar suas iniciativas ESG (ambiental, social e governança), seguirá em frente. Entre elas está o selo de Bem-Estar Animal para o gado leiteiro, a mitigação de gases em suas operações e investimentos em produção de biogás.

No mais recente ranking das 100 maiores fazendas de leite do país, realizado pela consultoria Milkpoint em 2023, a RAR figura como dona da maior produção leiteira gaúcha. A média diária foi de 39.689 litros de leite, com um total anual de 14,5 milhões de litros. Fazem parte do ranking da Milkpoint cinco fazendas do RS. Entre todas as fazendas brasileiras, a RAR está em 15º lugar.

“Confirmamos nossa posição como os maiores produtores de leite do Rio Grande do Sul e estamos entre os maiores do país. Além disso, recebemos o selo de bem-estar animal em nossa fazenda e laticínio, reforçando o compromisso com práticas sustentáveis”, diz Barbosa. O selo foi obtido com a Integral Certificações (hoje FairFood), de Belo Horizonte (MG), que além de bem-estar animal tem protocolos para outras sete categorias. A RAR foi a primeira no sul do Brasil a conquistar o selo para suas fazendas e produtos lácteos, como queijos, manteiga e creme de leite.

Agora, a empresa quer dar mais um passo. Para mitigar os gases de efeito estufa de sua cadeia de produção, ela foi buscar a ajuda da WayCarbon, empresa especializada em soluções voltadas à transição para uma economia net-zero, para traçar um plano de trabalho. “O projeto está em fase de mapeamento e nossa meta é abordar de forma eficaz a emissão de poluentes pela RAR”, afirma Barbosa.

Mas o trabalho não vai começar do zero. Por exemplo, o uso de combustíveis renováveis já é realidade nas operações do laticínio. No último ano, a geração de biogás a partir dos dejetos dos animais leiteiros gerou uma economia de R$ 1,13 milhão. A capacidade anual de geração é de cerca de 300 mil m³ de biogás A RAR vai em um movimento que é nacional.

De acordo com o Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás (CIBiogás), instalado no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu (PR), o país atualmente produz cerca de 2,8 bilhões de metros cúbicos por ano, ante 1,8 bilhão de m3 ao ano, em 2021. O país tem um potencial anual de produção da ordem de 84,6 bilhões de m3.

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