Recentemente, saiu uma notícia que entristece, mas não surpreende: a organização dos Jogos Olímpicos de Paris anunciou que vai reduzir a oferta de proteína animal nas refeições do evento. O motivo seria de que a carne representa uma ameaça ambiental. E essa grave acusação vai totalmente na contramão de qualquer embasamento técnico-científico.
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Para afirmar isso, é preciso partir do princípio óbvio de que animais não são carros, mas organismos vivos intimamente conectados aos seus respectivos ecossistemas. Quem vive, sabe disso. A produção agropecuária se baseia em ciclos biogeoquímicos, como o da água e do carbono. E ao comparar animais a motores movidos a combustão, o debate perde imediatamente qualquer senso de racionalidade.
Em 2018, um amplo estudo concluiu que pastagens bem manejadas são capazes de aumentar o sequestro de carbono por conterem uma rica microbiota e seus componentes consequentes. É importante notar que de todo o carbono disponível, 65% estão armazenados nos solos, 21% na atmosfera e 15% na estrutura das plantas e animais. Em outras palavras, a pecuária promove um importante papel na remoção de carbono da atmosfera e o aloca no solo dos pastos.
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O Brasil vem paulatinamente reduzindo sua área de pastagens degradadas como uma resposta à pressão econômica da atividade pecuária. Afinal, fazendas degradadas não dão lucro. Há estudos que apontam que, do ano 2000 para cá, essas áreas caíram de 31% para os atuais 17,5% do total de pastagens no Brasil. E também vale lembrar que, no país, as áreas de pastagem caíram de um total de 190 milhões de hectares para os atuais 160 milhões de hectares.
O país tem se mostrado eficiente em reduzir a idade de abate dos animais e isso faz com que eles emitam menos metano ao longo da vida. Por fim, sabe-se amplamente que a carne é aliada estratégica da prática desportiva por servir como eficiente fonte para a geração de massa muscular, especialmente entre atletas de alta performance. Além de fonte proteica, aminoácidos essenciais e o complexo vitamínico B estão contidos na carne vermelha, com minerais como ferro, zinco, selênio, fósforo, sódio e magnésio.
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A pecuária é uma excelente maneira de produzir alimentos e também para adotar como estilo de vida. A restrição da carne nos Jogos Olímpicos entristece porque um evento tão tradicional, amplamente divulgado e conhecido, não deveria se valer de uma informação sem base científica para promover a sustentabilidade com o chapéu dos outros.
Seria razoável que o comitê organizador sugerisse que todos os participantes do evento se locomovessem em meios de transporte que não emitam carbono? Considerando que a respiração humana emite esse elemento, ainda que todo mundo fosse de barquinho a remo, seria bem difícil.
As fontes dos dados utilizados aqui nessa análise são o Michigan State University, um estudo de Jay Swartz publicado na Yale Environment 360, o Mapa (Ministério da Agricultura), MapBiomas e Atenagro.
*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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