Em plena pandemia, a ex-executiva Dhafyni Mendes e Tatiana Sadala, então na Johnson&Johnson, chamaram algumas conhecidas para bater um papo via Zoom sobre liderança feminina e o momento que estavam vivendo. “Na primeira semana, 5 mil mulheres se inscreveram”, lembra Dhafyni. Da alta demanda, nasceu um negócio: “Começou quando a CEO de uma gigante de beleza quis comprar acessos para todas as mulheres da sua empresa.”
De lá para cá, a Todas Group fez projetos de desenvolvimento corporativo e liderança feminina para grandes empresas, como Santander, Enel, Pfizer e L’Óreal, envolvendo mais de 30 mil mulheres. “Mapeamos as 16 habilidades que são aceleradoras de carreiras femininas e desenvolvemos uma trilha para que todas as mulheres possam desenvolvê-las”, explica a empreendedora sobre a metodologia da Todas, criada a partir do estudo de carreira de 40 das maiores líderes da América Latina.
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Mulheres, posicionamento e inovação
Entre essas habilidades – autoconfiança, comunicação, protagonismo, alta performance emocional e posicionamento – esta última é a mais estratégica. “O que muda o jogo para as mulheres é o posicionamento”, diz ela, explicando que isso também esbarra nos outros pilares.
Saber se posicionar ajuda a lidar com microagressões sofridas no ambiente profissional e também a sustentar seus diferenciais. “Porque quando ela não se encaixa, ela se destaca”, afirma a empreendedora. Além disso, é essencial para deixar claro o que está entregando e aonde quer chegar. “As mulheres geralmente são vistas como ótimas gestoras porque dão os créditos do trabalho para o time, e não deixam claro o valor individual que têm.”
Estudos mostram que mulheres em cargos de liderança aumentam a produtividade, a retenção de talentos, o bem-estar e a lucratividade. “Acima de tudo, elas trazem inovação pelo simples fato de pensarem diferente, e essa inovação tem grandes benefícios para todos.”
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Como promover lideranças femininas
O trabalho da Todas envolve diretamente as profissionais, mas também a cultura da companhia como um todo. “A gente não coloca a responsabilidade apenas sobre a mulher. Quando o ambiente está alinhado, os resultados são melhores”, diz Dhafyni. Em um ano de trabalho com uma grande mineradora, por exemplo, conseguiram aumentar o número de mulheres promovidas em 41%, de lideranças femininas seniores em 50%, além de ter a primeira liderança negra.
Os treinamentos são sugeridos para a empresa de acordo com o momento e os objetivos. “Tudo que a gente faz é de maneira muito objetiva para que a mulher consiga aplicar na próxima reunião de trabalho”, diz. Mas alguns temas fazem sentido para todas. É o caso da gestão de tempo. “As mulheres têm muitas coisas para fazer e por muito tempo ser multitarefas foi visto como algo bom e feminino, mas a verdade é que elas estão sobrecarregadas.”
Entre as mentoras dos programas da Todas, que abordam esse e outros temas, estão grandes nomes, como Kim Farrell, head do TikTok, Rachel Maia, CEO da RM Consulting, e Flavia Bittencourt, CEO da Adidas.
Da vivência ao negócio
Na divisão entre as cofundadoras, Dhafyni toca a parte de pesquisa, comunicação e marketing, Tatiana está à frente das vendas e relações com investidores e Simone Murata, das operações. “Existem muitos vieses em torno de uma empresa fundada por mulheres”, diz Dhafyni, mas em três anos elas expandiram para a América Latina e estão estudando a possibilidade de ir também para o mercado europeu.
As fundadoras trazem conhecimentos e experiências complementares para o dia a dia do negócio. “Na nossa primeira conversa, a Tati me disse que estudou nas melhores escolas de inovação, mas nunca havia ouvido o que eu estava falando”, lembra Dhafyni.
Depois de uma carreira na comunicação de marcas que queriam se aproximar do público feminino e uma experiência como diretora global da Jeunesse, empresa de produtos de bem-estar, quando liderou um time de 10 mil mulheres em 7 países, ela viu de perto como as mulheres se colocam no mercado de trabalho.
A Todas nasceu durante a sua segunda gravidez e a licença-maternidade da sua sócia. “Fui mãe antes de ter um trabalho, mas para mim a maternidade é liderança pura”, diz Dhafyni, que engravidou pela primeira vez aos 19 anos. “Entendi as múltiplas demandas e cobranças que são feitas de uma mulher que é mãe e profissional.”
Com a flexibilidade que seu negócio permite, conseguiu trabalhar durante toda a gestação – literalmente até os últimos minutos antes de sua filha nascer. “Comecei a ter contrações durante uma reunião com investidor”, lembra.
Ela reconhece os impactos que a maternidade pode ter na carreira, mas defende que não é preciso abrir mão de uma ou outra. “Não conheço nenhuma mulher que ficou menos comprometida depois de ter um filho. Pelo contrário, ela desenvolve novas habilidades.”
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