O dólar ampliou ainda mais seus ganhos e chegou a flertar com o nível de R$ 5,29 nesta terça-feira (16), com investidores repercutindo temores sobre a saúde fiscal do Brasil, o Federal Reserve e as tensões no Oriente Médio, o que acendeu o alerta entre alguns agentes financeiros para eventuais intervenções do Banco Central no câmbio.
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Às 12h50 (de Brasília), o dólar à vista subia 1,69%, a R$ 5,2709 na venda. Mais cedo, no pico do dia, a divisa norte-americana saltou 2,01%, a R$ 5,2879, maior nível intradiário desde março de 2023.
Segundo Eduardo Moutinho, analista de mercado do Ebury Bank, “os níveis atuais (do dólar) são claramente desconfortáveis para o BC, considerando o impacto sobre a inflação, e, com o Fed mantendo juros mais altos por mais tempo, uma intervenção deve ser apropriada para evitar uma desvalorização maior do real”.
Praticamente não houve intervenções extraordinárias do Banco Central no câmbio ao longo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com exceção de um leilão de swaps no início deste mês para, segundo a autarquia, atender a uma demanda pontual pelo resgate de um título, que, a propósito, venceu na segunda-feira.
No geral, o Banco Central sempre reforça que não tem intenção de controlar o patamar do câmbio, que é flutuante, e que quaisquer atuações no dólar têm objetivo de garantir o bom funcionamento do mercado em caso de disfuncionalidades.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,75%, a R$ 5,2855 na venda.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, destacou nesta terça-feira a frustração dos mercados com a decisão do governo de afrouxar a meta de resultado primário para zero para o próximo ano, em uma redução do esforço anunciado anteriormente, que previa superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
“A gente já sabia que (o governo) faria isso, mas o fato de ter feito finalmente começa a destravar uma percepção de que o governo estaria disposto a encorrer em revisões de meta para não ver o gasto ser prejudicado, em vez de controlar o gasto”, explicou Spiess.
“E tem ainda o fato de que a economia lá fora tem dado alguns sinais positivos. Economia mais forte significa maior inflação e, consequentemente, essa maior resiliência inflacionária demanda maior patamar de juros”, completou o analista.
No exterior, vários pares arriscados do real também tinham perdas acentuadas, com destaque para o peso mexicano, que cedia 1,90%. O peso chileno caía 0,85%, enquanto o dólar australiano recuava 0,50%.
Na véspera, dados mostraram alta bem mais intensa do que o esperado nas vendas no varejo dos Estados Unidos em março, mais uma evidência de que a economia encerrou o primeiro trimestre em terreno sólido.
Quanto menos o Fed cortar os juros diante de uma economia resiliente, melhor para o dólar, que se torna mais atraente para investidores estrangeiros quando os rendimentos oferecidos pelo mercado norte-americano ficam mais altos.
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O departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco citou ainda “apreensão com possível acirramento do conflito no Oriente Médio”, conforme o mundo aguarda uma resposta de Israel ao primeiro ataque direto do Irã contra o país.
Em momentos de tensão geopolítica, o dólar é visto com um porto seguro, de forma que costuma haver picos na demanda. Operadores também chamam a atenção para o fato de que saltos no preço do petróleo decorrentes do risco no Oriente Médio podem elevar as pressões inflacionárias no EUA, dando mais argumentos para o Fed seguir cauteloso.
Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,1835 na venda, em alta de 1,21%, maior valor de fechamento desde 27 de março de 2023.
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