Primeiro, a Renault tentou com o Duster, em 2011. Depois, com o Captur, em 2017. Mas só agora, com o Kardian, tem enfim um carro desejável e convincente na prolífica categoria de SUVs compactos.
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Diferente de seus antecessores, não é uma mera tradução dos veículos da romena Dacia – a marca de carros simples do Renault Group – para o mercado brasileiro, mas sim um dos protagonistas do Renault International Game Plan 2027, nova estratégia da empresa que consumirá 3 bilhões de euros para lançar oito modelos e reposicionar a marca em segmentos de maior valor fora da Europa.
Veja galeria de fotos do Renault Kardian:
O Kardian (franceses pronunciam “Kardiãn”) é o primeiro nascido da Renault Group Modular Platform, arquitetura baseada na europeia CMF-B. Ser modular significa que a seção dianteira é fixa, mas a central tem quatro opções comprimento (curto, médio, longo e extralongo) e a traseira, três (médio, longo e extralongo). O que se traduz em entre-eixos que vão de 2,60 – como o do Kardian – a 2,95 metros.
Também permite receber motorização híbrida, e a Renault já admitiu que terá um híbrido flex, como Stellantis e Volkswagen. Um SUV médio para rivalizar com o Jeep Compass já foi confirmado pela montadora e uma picape da classe da Fiat Toro, por ora representada pelo conceito Niagara, deve ser o terceiro elemento.
Suspensões e sistemas de freios, direção, arrefecimento, exaustão e alimentação também são novos. Até os pedais e as estruturas dos bancos foram reformulados. Há seis airbags, assistente de partida em rampa e faróis em LED desde a versão de entrada, Evolution, de R$ 112.790. Versão Techno, de R$ 122.990, acrescenta freio de estacionamento eletrônico, alerta de colisão frontal e frenagem de emergência
Como anda
Uma plataforma completamente nova como a RGMP era exatamente do que a Renault precisava no Brasil. Por isso foi estranho sair da apresentação direto para o banco do motorista e se deparar com uma coluna de direção que, apesar dos bons ângulos de altura e profundidade, é do tipo que despenca no colo do motorista quando destravada para ajuste.
Mas logo esta indelicadeza seria diminuída por outras gentilezas com o motorista, como os bancos dianteiros com ótimos apoios laterais, a distinta e diminuta alavanca do câmbio, os intuitivos comandos no console central, o muito bem posicionado carregador sem fio de celular e o painel digital claro e objetivo.
A direção é leve como a do Captur nunca foi, e a manutenção do comando satélite para funções do rádio mostra personalidade. Exceto por uma elegante luz ambiente – disponível somente na Première Edition, que soma controle de velocidade adaptativo, alerta de ponto cego, sensor crepuscular e faróis de neblina e que no próximo ano deverá ser rebatizada de Iconic –, não há firulas no acabamento interno, que usa plástico sem cerimônia e nem por isso é de má qualidade. A tela multimídia de 8 polegadas acerta no tamanho e na posição, além de facilitar seu uso.
Difícil enxergar um quê de SUV no Kardian, muito mais próximo de um hatch aventureiro. Mas, se Fiat Pulse e Volkswagen Nivus também são considerados como tais…Com 4,12 metros de comprimento e 2,60 de entre-eixos, entrega espaço traseiro hospitaleiro e porta-malas de bons 358 litros (padrão VDA).
Logo o entrosamento entre o novo motor 1.0 turboflex de 3 cilindros (120/125 cv e 20,4/22,4 kgfm de torque com gasolina e etanol, respectivamente) e o câmbio automatizado de duas embreagens e seis marchas (banhado a óleo) afastaria a desconfiança com esse tipo de transmissão, mais comum em carros de luxo e inédita nessa faixa de preço. As trocas são rápidas e no tempo certo.
Desafio maior do Kardian será atrair consumidores para uma marca habituada a oferecer carros medianos – como agora pode vender algo tão bom?
É o problema que enfrenta o excelente Megane E-Tech, hatch elétrico de R$ 279,9 mil. Dos 220 exemplares importados inicialmente, apenas 102 foram emplacados desde setembro de 2023 – mesmo mês em que a Volvo anotou mais de mil pedidos na pré-venda do também elétrico EX30, que vai de R$ 219.950 a R$ 279.950.
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