O setor do agronegócio tem buscado nos últimos 50 anos produzir mais com menos. O produtor rural está sempre atrás das tecnologias mais modernas, visando produzir de maneira sustentável, gerando renda, empregos e fazendo a roda da economia girar. Entretanto, temos nos preocupado muito pouco em construir a imagem do agronegócio. Temos muitas realizações positivas para mostrar ao mundo, mas a imagem construída no Brasil e exterior é negativa.
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Você já ouviu falar do “mere exposure effect”? As pessoas são expostas a uma realidade, a uma narrativa, e mesmo que ela não seja verdadeira, torna-se tão familiar que a pessoa acaba acreditando e aceitando-a como verdadeira. Mas você pode estar se perguntando “porque estou lendo isto em uma coluna voltada para o agronegócio?” Já notou como o agro brasileiro é retratado? São dois personagens extremos, ou o coronel, poderoso, arrogante, que oprime os mais fracos e comete crimes — ou o outro personagem comum: o jeca tatu, simplório e ignorante. Nenhum dos dois representa o agronegócio deste país, que hoje é moderno, tecnológico, um dos mais recentes e sustentáveis agronegócios do mundo. Quem, no entanto, já não ouviu alguém bradar que o agro é morte? De onde virá essa esta agenda antiagro e quais são os reais interesses por trás dessa narrativa?
Para saber onde estamos, precisamos revisitar o passado. O Brasil, como outros países, carrega nas costas a carga histórica de um vergonhoso passado de escravidão (coronéis associados a poder e opressão). Não é motivo de orgulho, mas infelizmente é um passado comum a alguns países. Entretanto, no caso do nosso país, a história não poderia ser uma coisa mais distante da realidade do agro praticado hoje em dia no Brasil.
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Números mostram justamente o contrário, que o setor é atualmente a maior escada social existente no país. Em 20 anos, o Brasil saltou de US$ 25 bilhões (R$ 123,5 bilhões) para US$ 160 bilhões (R$ 790,4 bilhões) vendidos ao mundo, ou seja, US$ 160 bilhões entrando em nosso país e levando desenvolvimento a cidades, trazendo oportunidades e qualidade de vida para todos, nos municípios onde o agro se instala. O IDH (índice de desenvolvimento humano) já é mais elevado do que os estados onde estão localizados. A remuneração paga no setor do agronegócio é mais alta quando comparada a outros setores, e também tem aumentado a formalização, o nível educacional e a profissionalização de mulheres.
O agro emprega 27% da população ocupada no Brasil, ou 28,5 milhões de pessoas. 33% de toda vegetação nativa do país está dentro de fazendas, sendo preservada por produtores rurais. O Brasil é líder mundial do plantio direto e uso de bioinsumos. O país produz de duas a três safras na mesma área, sendo um dos maiores produtores mundiais de soja, carnes, algodão, milho, café, açúcar, celulose, fumo e suco de laranja. Isto em 30% do território nacional que, por fim, responde por 24% do PIB nacional.
Agora pergunto, onde está retratado este agro? Eu não vejo produtores rurais retratados nas novelas, filmes, jornais ou revistas não-especializadas, e assim como não o vejo, a população também não o vê, e desta maneira remanesce a imagem que já se conhece, que é familiar, do fazendeiro como coronel arrogante ou um simples jeca-tatu.
A imagem do agronegócio brasileiro no exterior tornou-se uma preocupação crucial não só para o setor como para a economia do País. O agronegócio abriu mais de 200 novos mercados desde 2019, 78 somente em 2023. O setor é responsável por metade das nossas exportações, equilibrando assim a balança comercial. O Brasil tem sido associado a desmatamentos, queimadas, uso excessivo de defensivos e o descaso com a pauta ambiental. É preciso que o setor e o Estado se unam para traçar um plano estratégico visando atualizar a leitura da sociedade sobre o agronegócio brasileiro. Um setor que incomoda e produz em larga escala, a preços competitivos enquanto se preserva. Se não mudar a comunicação, informar melhor suas ações e eliminar o desmatamento ilegal, terá sempre um telhado de vidro.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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