Na semana em que a pauta sobre as lutas e direitos da mulher ganha maior alcance, considero relevante que se discuta o quanto estamos ou não avançando no mercado financeiro, no sentido de garantir às mulheres maior espaço e autonomia financeira.
De acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mulheres chefiam 45% dos lares brasileiros. Além disso, são elas as responsáveis por pelo menos 90% das decisões de compras das famílias.
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Dados assim, corroboram sobre o quanto a liberdade financeira é estruturante, e quanto é responsabilidade das instituições financeiras em prover meios para qualificação, engajamento e acesso de mulheres ao ecossistema do mercado de capitais.
O desafio do tempo e a falta de oportunidades
O tempo é um recurso precioso que custa mais caro para as mulheres, impactando diretamente sua possibilidade de alcançar a liberdade financeira.
As mulheres dedicam o dobro do tempo às tarefas domésticas em comparação aos homens, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e, mesmo sendo maioria nos cursos superiores, mestrados e doutorados, elas continuam ganhando, em média, 30% a menos que os homens em funções equivalentes.
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A presença feminina no mercado financeiro
No mercado financeiro, a presença feminina ainda é modesta. Como profissionais da área, as mulheres representam apenas 14% dos analistas CNPI credenciados na Apimec, 21% dos consultores cadastrados na CVM e 7% dos profissionais CGA (Certificação de Gestores de Carteiras Anbima).
Apesar de possuírem maior escolaridade que os homens, de acordo com os dados do IBGE, ocupam menos de 38% dos cargos gerenciais e têm renda inferior à dos homens em funções equivalentes.
Como investidoras, o quadro também é desafiador: de acordo com dados da Anbima, dos 36% de brasileiros que investem, apenas 33% são mulheres. Some-se a isso, a redução que vimos observando de 2022 pra cá, no número de CPF de mulheres cadastrados na B3. Atualmente as mulheres representam 24% dos investidores em bolsa.
O mercado financeiro precisa evoluir
O mercado financeiro precisa evoluir e compreender que a inclusão feminina vai além de colocar rostos femininos em sua publicidade ou usar cor de rosa ou tons pastéis em alguns materiais. É necessário trazer a maturidade e inteligência de mercado das mulheres para a gestão de fundos, corretoras e bancos, bem como para sua estratégia de comunicação institucional.
A presença dela neste lado da mesa, além de justa reparação, tem também potencial para estimular, na outra ponta, o crescimento do número de mulheres que investem.
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Isso é possível por inúmeros motivos, dentre eles, o aumento da confiança por parte das investidoras, além de maior propensão de que instituições financeiras lideradas por mulheres sejam mais sensíveis às necessidades, características e pautas desse público.
Mulheres em Cargos de Liderança
A exigência atualmente regulamentada pela B3, de que as empresas de capital aberto tenham mulheres em seus quadros de comando é um avanço que precisa se estender para todas as empresas integrantes do mercado de capitais.
As mulheres pensam finanças com um olhar de longo prazo, focado em independência e no impacto social que seus investimentos podem ter e essa característica tem potencial para mudar o mercado de modo muito positivo.
Benefícios da Liderança Feminina
Um mercado financeiro que propicie mais espaço de comando às mulheres será mais próspero e dinâmico.
Um relatório do S&P Global Market Intelligence, de 2019, mostrou que empresas com CFO mulheres tiveram desempenho 8% melhor no retorno de suas ações em comparação com a média do mercado. Ainda assim, elas ocupam apenas 15,1% das vagas, conforme estudo da Crist Kolder Associates.
Há inúmeros outros dados que ratificam a urgência de se repensar certas estruturas dentro do mercado, mas, mesmo que não houvesse, somente esses dois acima, já seriam suficientes para um debate sério acerca da eficiência do que tivemos até então.
O Futuro do Mercado Financeiro
Um setor financeiro que dá voz e liderança a mulheres é o caminho para quebrar uma barreira que hoje faz com que mulheres investidoras tenham desconfiança em entregar seu dinheiro a um setor que as invisibiliza em todas as frentes.
Mulheres à frente de grandes empresas do mercado financeiro trarão muitas outras para o mundo dos investimentos, beneficiando a sociedade, o mercado financeiro e o planeta. A linguagem com maior inteligência emocional e compromisso com sustentabilidade só será possível quando o setor financeiro tiver ações concretas para eliminar a lacuna entre gênero e investimento.
A Autonomia Financeira como Direito
A independência financeira não se trata apenas de acumular riqueza, mas sim garantir dignidade e autonomia de escolhas.
É essencial proporcionar às mulheres caminhos para que possam gerar renda e se beneficiar da estrutura de um sistema que, inversamente, tanto se beneficia da resiliência e habilidade femininas ao dedicar seu tempo em tarefas invisíveis e, sem as quais a sociedade sequer funcionaria.
A luta pela isonomia de oportunidades é uma responsabilidade de toda a sociedade. A autonomia financeira e a liderança feminina no mercado financeiro são passos fundamentais para relações socioeconômicas mais eficientes para todos.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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