Nos anos 80, eu e a minha namorada à época – que viria a ser a minha primeira companheira – disputávamos um cargo importante na residência médica da Faculdade de Medicina do ABC.
Éramos 15 candidatos; ela, a única representante do sexo feminino. Eu passei e ela não. Não acho que eu fosse mais capacitado que ela, por isso me pareceu que houve um viés de gênero na escolha da banca por mim e não por ela. Caro
leitor, repare no início deste texto. Tratava-se dos anos 80 e não dos anos 50!
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Felizmente, cada vez mais, as mulheres têm sido protagonistas de suas histórias, têm lutado e, progressivamente, conseguido garantir seus direitos e estar em pé de igualdade na concorrência por posições (embora saibamos que nem sempre os salários sejam equivalentes).
A lista de conquistas é enorme. Só para que se tenha uma ideia, no Brasil, entre 2019 e 2022, o número de CEOs mulheres subiu de 13% para 17%. Nas fintechs e bancos, elas já ocupam 33% dos cargos de lideranças.
Apesar desses avanços, ainda estamos longe de conseguir cumprir até 2030 o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5, proposto pela ONU: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Ainda que os ganhos delas estejam cada vez mais visíveis (ainda bem), muitas mulheres têm penado no ambiente de trabalho, já que são mais vulneráveis ao burnout, à depressão e à ansiedade. Uma pesquisa realizada em 2022 falava que 35% das entrevistadas haviam precisado se afastar do trabalho por causa de saúde mental comprometida.
As empresas – e suas lideranças – precisam estar atentas a isso, porque há maneiras de prevenir e reduzir a prevalência desses problemas de saúde mental que tanto afetam colaboradoras e executivas. Saúde mental deve estar sempre no foco das organizações.
Esses mesmos problemas também afetam os homens, mas a carga dessas questões é mais pesada para a mulher. Quase 15% dos lares brasileiros são
chefiados por mães solo e, quando não são, cabe quase sempre a elas os cuidados com os filhos, numa jornada tripla que as penaliza muito mais do que aos homens.
Há maneiras de apoiar a saúde mental das mulheres no ambiente de trabalho. Uma delas é promovendo ações que contemplem as reais necessidades desse público, entre elas, oferecer uma política de flexibilidade. Sabemos que muitas mulheres “sambam” para compatibilizar trabalho e cuidados com os filhos.
Outra é abordar e combater firmemente o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. Por fim, as altas lideranças deveriam fazer um check-up na política salarial da empresa que representam. A disparidade salarial ainda é uma
realidade em muitas organizações e pode levar uma profissional a se sentir desvalorizada.
Que neste 8 de março possamos celebrar os feitos das mulheres em todas as áreas, incluindo o ambiente doméstico, e lutar por um futuro com mais equidade de gênero.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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