No campo da psicologia, estudos têm mostrado uma “lacuna de citação”, em que as contribuições de pesquisa feitas por homens são referenciadas com mais frequência do que as das mulheres. Uma nova pesquisa publicada na revista acadêmica American Psychologist oferece uma possível explicação para isso: os homens se esquecem das contribuições das pesquisadoras mulheres.
Apesar de representarem dois terços dos docentes de psicologia, as mulheres são menos reconhecidas pelo seu trabalho, sendo citadas com menos frequência do que os homens. Artigos que apresentam mulheres como primeiros ou últimos autores recebem cerca de 30% menos citações do que aqueles com homens como primeiros ou últimos autores.
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O novo estudo “I Forgot That You Existed: Role of Memory Accessibility in the Gender Citation Gap” (“Eu Esqueci Que Você Existia: O Papel da Acessibilidade da Memória na Lacuna de Citações de Gênero”) sugere que as publicações de professores recebem mais citações porque os homens se lembram mais facilmente do trabalho de seus colegas do sexo masculino.
Como foi conduzida a pesquisa
No estudo, os pesquisadores pediram a professores de psicologia de universidades de pesquisa de alto nível que listassem até cinco especialistas em sua área de estudo. No geral, as pesquisadoras foram listadas com menos frequência do que os homens. “A sub-representação das pesquisadoras foi inteiramente impulsionada pelos homens”, escrevem os pesquisadores. Em outras palavras, as mulheres citaram colegas homens e mulheres na mesma proporção, mas os homens listaram predominantemente outros homens.
A ordem em que os professores listam os especialistas também é reveladora. Os homens eram mais propensos a incluir nomes de mulheres mais tarde nas suas listas, mas as pesquisadoras não tiveram uma ordem específica nas citações.
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Por que os homens não se lembram das mulheres na ciência?
A ciência tende a ser vista como um ambiente dominado pelos homens – como tantos outros. Estudos mostram que quando você pede a alguém para desenhar um cientista, normalmente recebe a imagem de um homem. Da mesma forma, atributos como genialidade e excelência também estão associados aos homens. Quando os professores do sexo masculino estavam considerando quem listar como especialistas, esses estereótipos provavelmente estavam em mente.
Outras pesquisas reforçam que as pessoas têm maior probabilidade de se lembrarem do que condiz com estereótipos. É um movimento inconsciente, o que sugere que os homens não ignoram as cientistas de forma intencional.
Impacto nas carreiras de mulheres na ciência
A falta de citações de mulheres provavelmente impacta as carreiras das acadêmicas. “As citações desempenham um papel importante em decisões cruciais de carreira, como contratação e estabilidade, e continuam a afetar o prestígio de um pesquisador”, explicam os pesquisadores no artigo.
Isso também afeta a ciência, já que uma quantidade importante de trabalho é negligenciada e o campo está potencialmente perdendo insights únicos e perspectivas diversas.
É importante ressaltar que o trabalho dos homens não é mais citado porque sua pesquisa é de qualidade superior à das mulheres. “Há pouca evidência empírica para apoiar a afirmação de que o trabalho dos homens é simplesmente melhor ou mais digno de citação”, afirma Veronica Yan, professora da Universidade do Texas e principal autora do estudo.
No entanto, existem diversas pesquisas relevantes que mostram que existem preconceitos de gênero no julgamento e na tomada de decisões no meio acadêmico e fora dele. “A mensagem esperançosa é que os padrões parecem estar mudando com os pesquisadores mais jovens.”
Para além da academia
Embora o estudo tenha analisado pesquisadores de psicologia, outras áreas enfrentam problemas semelhantes. Pesquisas mostram que o desequilíbrio de gênero nas citações no campo da neurociência também é impulsionado principalmente por autores do sexo masculino.
Na ciência política, o fenômeno ganhou até nome: o “Efeito Mateus” ocorre quando a pesquisa masculina é vista como a mais central e importante em um campo. E o “efeito Matilda” acontece quando a pesquisa das mulheres é menos valorizada do que a dos homens ou as suas ideias são atribuídas a acadêmicos do sexo masculino.
O estudo começou como uma forma de examinar a lacuna de citações, mas não se trata apenas disso. “Os resultados destacam os preconceitos sobre quem vem à mente quando se pensa em excelência”, diz Yan. E o tema também vai para além da academia. “Esses preconceitos podem afetar a forma como educamos as pessoas e damos plataformas a elas – por exemplo, quando pensamos em quem convidar para uma palestra, quem nomear para bolsas e prêmios.”
* Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).
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