O frango, fenômeno de consumo no Brasil devido ao seu preço mais acessível, toma um lugar de maior destaque no prato do consumidor quando o valor da carne bovina começa a pesar no bolso. Não é por acaso que o país se tornou o segundo maior produtor global, com 14,9 milhões de toneladas em 2023. É sobre isso que pensa diuturnamente o médico veterinário Ramon Amaral, sócio-proprietário e diretor da Brazilian Fish, mas “puxando a sardinha” para o seu prato. “Quero fazer com que a tilápia custe o mesmo preço do frango”, diz ele. “Decidi que minha missão é tornar a tilápia mais acessível, para que todos possam consumir.”
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A missão não é simples, mas o que deseja Amaral faz sentido como negócio pensado no longo prazo. Em 2022, o país produziu 550 mil toneladas de tilápia, número 3% acima do total de 2021, com tendência de expansão em 2023, ano que ainda não teve seus dados fechados. A espécie representa 63,9% da produção nacional de peixes de cultivo, de acordo com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), entidade da qual a Brazilian Fish é filiada. Também em 2022, uma pesquisa da Peixe BR, com 4,2 mil pessoas em todo o país, realizada em parceria com o Instituto Axxus, mostrou que 83% delas têm certeza de que a proteína animal mais saudável é o peixe.
Localizada em Santa Fé do Sul, município paulista na divisa com Mato Grosso do Sul, a Brazilian Fish pertence ao Grupo Ambar Amaral, que também trabalha com pecuária de corte. O projeto verticalizado, com produção e frigorífico, processa 11 mil toneladas de tilápia por ano.
São 3.500 tanques-rede em sete fazendas. Há, também, 14 hectares de lâmina d’água em tanque escavado para produzir os alevinos. A criação na nascente do Rio Paraná fica no parque aquícola do reservatório da usina hidrelétrica de Ilha Solteira, com produção total nessa região de cerca de 30 mil toneladas de tilápias por ano.
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A Brazilian Fish deve confirmar para este ano um crescimento de 30%. Para 2024, é esperado um aumento da ordem de 80% a partir de investimentos de cerca de R$ 35 milhões em um novo centro de reprodução, em biofertilizante de resíduos da indústria (51% do peixe) e em um laboratório de melhoramento genético. “Na sequência, nosso próximo investimento será na produção de vacinas para os peixes, um produto que hoje compramos”, diz Amaral.
A produção inicial dos biofertilizantes é de 1 milhão de litros ao ano. Para isso, serão utilizados apenas 4% dos resíduos da produção de tilápia. No frigorífico, a meta é sair de 50 toneladas de tilápias processadas por dia para 80 toneladas. Isso porque, com o melhoramento da genética dos peixes, Amaral acredita que a conversão alimentar, hoje de um aproveitamento de 33% em filé para cada animal abatido, possa ir para 43%. A estratégia significa peixes maiores,que ganham peso mais rapidamente, justamente o que fez a indústria avícola nas últimas décadas.
Amaral quer reduzir em 15% a conversão atual, que é de 1.5 (1,5 quilo de ração para engordar um quilo de peixe). “Dá para repassar o valor. Conforme formos tendo mais rendimento, esse impacto chega na ponta final”, acredita ele. Hoje, um quilo de filé de frango custa cerca de R$ 20 no supermercado, enquanto o filé de tilápia custa três vezes mais.
Para acelerar a conquista desse mercado e ganhar tempo, a aposta é na inovação. A marca tem 17 produtos feitos de tilápia. Além dos filés, há uma linha de congelados com iscas, carne moída, bolinho, quibe, trouxinha, pururuca e pratos elaborados com quatro queijos e à parmegiana. No final de outubro de 2023, a Brazilian Fish ficou em primeiro lugar no prêmio Seafood Innovation Show, durante o Seafood Show Latin America (segunda feira internacional de comercialização e tecnologia do pescado), em São Paulo, ao mostrar o que está levando para as gôndolas: coxinhas de tilápia.
Sônia Ambar, mãe de Ramon, é presidente do Grupo Ambar Amaral e atua como diretora de produtos da Brazilian Fish. Além disso, ela é integrante do FMA (Forbes Mulher Agro), grupo de executivas criado no início deste ano pela Forbes Brasil. “Acredito muito nessa novidade que estamos trazendo. A coxinha ‘vai bombar’”, afirma Sônia, salientando que o salgadinho faz parte de uma estratégia de investimentos que pode chegar a R$ 1,2 milhão só para esse produto.
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A coxinha nasceu de um desafio familiar, mas não é somente isso que move o setor de P&D. Observar para onde o mundo do peixe navega está na agenda. No primeiro semestre deste ano, Sônia esteve em feiras de pescado na Islândia e na Espanha. “Encontrei uma máquina que faz sorvetes em formatos diferentes, que são lúdicos para as crianças. Pretendo trazer essa máquina para o Brasil”, diz ela, que já está testando ingredientes. “Quero chegar na consistência e sabor ideais para o novo produto, com previsão de lançamento em 2024.”
Mas as viagens também servem a outro propósito: a exportação, hoje de apenas 5% da produção da Brazilian Fish. Para os EUA, por exemplo, a primeira ocorreu em 2014, com vendas ainda pontuais. A maior parte do envio ao exterior é de pele de peixe, para Taiwan, e de escamas para o Japão, o que começou a partir de 2019, após uma dura negociação que levou cinco anos, segundo Amaral. “Temos clientes que aguardam a liberação de envio de pescados para a Europa, mas por enquanto é proibido”, diz ele.
O embargo começou em 2018, com o continente europeu alegando questões sanitárias brasileiras insatisfatórias, que, segundo lideranças do setor, são barreiras comerciais. Em 2022, as exportações de pescado do Brasil renderam US$ 23,8 milhões, volume 15% ante 2021, com a tilápia responsável por 98%. No cenário mundial, o país ainda tem uma minúscula participação (de 1%), enquanto o frango voa alto, com 35% do mercado global.
*Reportagem publicada na edição 113 de Revista Forbes, acessível por aplicativo (iOS e Android) ou impressa.
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