Andy Schoonover era um pai com um problema. Sua filha estava com dor de ouvido. Ele a levou ao médico e descobriu que a causa era um tímpano perfurado. Felizmente, a solução foi simples: um procedimento de 15 minutos para colocar tubos nos ouvidos.
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O que não era tão simples era quem pagaria a conta. Schoonover pagava US$ 1.200 por mês de seguro-saúde. Mesmo assim, ele recebeu uma conta de US$ 8 mil por serviços que os médicos consideraram “desnecessários”. Muitos clientes provavelmente apenas reclamariam do sistema, enquanto preenchiam o cheque. Mas ao cobrar Schoonover, as seguradoras mexeram com o cara errado.
Ele assumiu como missão destruir o seguro saúde tradicional, construindo um sistema paralelo. “O sistema atual tem tantos incentivos perversos e tantas pessoas ganhando que não há como consertar, é preciso destruir”, diz ele. Sua ideia é uma empresa chamada CrowdHealth. Nela, os membros pagam muito menos por serviços médicos do que pagariam às seguradoras. As contas pesasdas são pagas coletivamente, por “crowdfunding”.
Schoonover, 44 anos, tem um MBA em Stanford. Ele comprou a empresa de saúde VRI. A companhia antecipou problemas de saúde dos clientes monitorando sinais vitais, como o açúcar no sangue e a pressão arterial. O foco nos cuidados preventivos garantiu a saúde física dos clientes e a saúde financeira de Schoonover. Ele vendeu a VRI em 2014 para um fundo de private equity por US$ 100 milhões.
A CrowdHealth, fundada em Austin, Texas, em 2021, é a resposta de Schoonover ao caos na saúde. Sua meta é ser o contrário do pesadelo do sistema atual: enxuta, eficiente e, acima de tudo, humana. Nesse breve período ela captou US$ 12 milhões. Desde a última rodada de capital em 2022, ela vale US$ 30 milhões, embora Schoonover sugira que a cifra é maior. A empresa tem 7 mil clientes. Cada um paga US$ 50 por mês. A receita anual é de cerca de US$ 4 milhões. A CrowdHealt ainda não é lucrativa, mas Schoonover diz que será até o segundo trimestre. E quem está amando essa abordagem pouco ortodoxa? Os entusiastas do bitcoin, por exemplo, estão conseguindo uma taxa de retenção de 99% mês a mês.
A CrowdHealth não é uma seguradora. Os US$ 50 mensais garantem aos membros os serviços de caçadores de pechinchas. Uma empresa terceirizada reduz as contas médicas e as despesas na farmácia. As reduções chegam a 30%. As receitas são simples: saber o custo dos serviços médicos sem a comissão das seguradoras e oferecer aos prestadores de serviços a alternativa de serem pagos em dinheiro, na hora. Schoonover diz que a maioria dos médicos é a favor de abandonar os intermediários. Porém, ele admite que nem todos concordam.
“Empreendimentos como esse funcionam até a hora que deixam de funcionar”, diz Larry Levitt, vice-presidente executivo de política de saúde da KFF, antiga Kaiser Family Foundation, à Forbes. “Sete mil membros parece ser muito, mas é pouco em um seguro saúde. Alguns casos ruins e caros poderiam desequilibrar o sistema. E, ao contrário das seguradoras, o setor não é regulamentado, o que significa que cliente cujas contas não forem pagas não tem a quem recorrer.”
Nota de Generosidade
Além das taxas mensais, há também contribuições que os membros são incentivados, mas não forçados, a fazer. Uma família de quatro pessoas, todas com menos de 55 anos, pagará potencialmente US$ 400 adicionais por mês no máximo no crowdfunding para que outras possam pagar suas contas médicas. O gasto mensal será de US$ 600, incluindo os quatro pagamentos de US$ 50. Compare isso com os US$ 1.437 por mês para um plano médio e a CrowdHealth começa a parecer um bom negócio.
O CrowdHealth evita a situação em que todos os participantes usam o plano e ninguém paga a mais ao atribuir uma “nota de generosidade” a todas as contas. Este número mostra a todos os membros qual foi a contribuição de cada cliente. Pense nisso como uma cutucada no egoísmo. Quando alguém precisa de financiamento, os demais clientes dão uma olhada em sua pontuação. Sem generosidade, sem ajuda. Não há reembolsos. Em vez disso, os membros têm um manual explicando o que será financiado ou não. O plano prevê uma consulta preventiva por ano, totalmente paga pelos demais participantes. Então os membros concordam em cobrir os primeiros US$ 500 de quaisquer outras reivindicações. Para além disso os outros intervém. a multidão intervém. É um sistema construído em dar e receber, contando com a natureza humana para garantir que aqueles que ajudam os outros sejam ajudados.
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Brooks Lockett, redator freelancer e membro do CrowdHealth desde 2022, diz que demorou um pouco para se acostumar com o sistema. Ele tinha suas dúvidas. Por exemplo, a CrowdHealth poderia lidar com as despesas caras de saúde? Mas quando ele teve que aspirar o joelho após uma lesão em uma escalada em 2023, a CrowdHealth conseguiu reduzir o preço para apenas algumas centenas de dólares.
“A CrowdHealth não é para todos, mas funciona para quem deseja uma abordagem minimalista e está disposto a cuidar da saúde”, diz Lockett. “A maior revelação foi como o modelo de pagamento muda a relação médico-paciente. Os médicos preferem clientes que pagam em dinheiro. É uma loucura como a experiência é muito melhor agora que meus médicos sabem que estou negociando diretamente com eles, eles levam mais tempo para serem humanos comigo.”
A CrowdHealth tem limitações. Não aceita fumantes nem homens que pesem mais de 120 quilos e mulheres que pesem mais de 100 quilos. Não atende todos os estados. E não inclui práticas como acupuntura e quiropraxia, transtornos como TDAH, reabilitação de dependências e tratamentos para transtornos alimentares. Questões reprodutivas –abortos, contraceptivos, infertilidade e impotência – não são elegíveis.
Depois, há também uma área cinzenta que pode levantar algumas sobrancelhas: recortes para o que a CrowdHealth chama de “atividades perigosas”. Isto inclui riscos claros, como corridas fora de estrada, mas pode incluir qualquer atividade considerada muito arriscada.
Modelo Amish
A abordagem da CrowdHealth segue um modelo que funcionou durante gerações na comunidade Amish. Quando alguém fica doente espera-se que ele pague 20% dos custos. Os amigos e os vizinhos cobrem o resto. Sem companhias de seguros nem intermediários, só apoio da comunidade.
Existem diferenças entre a experiência Amish e o CrowdHealth que a tornam uma comparação imperfeita. Os Amish são unidos por laços culturais profundos. Não está claro se esse espírito existe em um grupo mais amplo e diversificado de desconhecidos. Esse é o verdadeiro teste para o CrowdHealth: conquistar um amplo espectro da sociedade. As pessoas gravitam naturalmente em torno de ajudar aqueles com quem se identificam. Para que o CrowdHealth realmente decole, ele precisa superar divisões.
Existem outras diferenças, segundo Hempstead, da Fundação Robert Wood Johnson. Os Amish constituem uma grande parte das comunidades em que vivem, por isso os sistemas de saúde locais não podem ignorá-los. “Eles também não recorrem a procedimentos elaborados nem procuram cuidados caros no final da vida, e também não são muito litigiosos”, diz ela.
A estratégia da CrowdHealth é explorar grupos de afinidade existentes e está dando certo com um grupo, os investidores em bitcoin. Schoonover é uma voz familiar nos podcasts de bitcoin, onde se referirá ao sistema existente como “saúde fiduciária”. Mas é mais do que apenas conexões pessoais. A abordagem não convencional da CrowdHealth às despesas de saúde ressoa entre os bitcoiners, um grupo já interessado em redefinir as normas do dinheiro. Está provando ser uma combinação perfeita.
“Temos provas de que, uma vez que as pessoas são responsáveis pelas suas próprias contas, o comportamento muda”, diz Schoonover. “Se não é responsável você tenta extrair o máximo de valor possível do sistema. Se você faz parte de um grupo que ajuda uns aos outros as contas caem.”
O post Conheça a startup de saúde que funciona com crowdfunding apareceu primeiro em Forbes Brasil.