No ano passado, a SunPower, empresa de energia solar residencial sediada em Richmond, CA, atrasou a entrega de seus resultados do terceiro trimestre, previstos para 29 de novembro de 2023. Segundo uma divulgação da SEC feita em 11 de dezembro, o atraso da SunPower desencadeou uma quebra de acordo e inadimplência de US$ 300 milhões em dívidas pendentes com credores, incluindo o Bank of America, Citi, JPMorgan Chase e Apollo Management.
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De repente, a SunPower, outrora uma empresa de energia solar em ascensão, avaliada em até US$ 9 bilhões, estava à mercê de credores que tinham o direito de exigir o pagamento imediato das dívidas e dos juros.
Quando a SunPower finalmente divulgou seu balanço financeiro trimestral em 18 de dezembro, as notícias não eram boas. As receitas caíram 10% em relação ao ano anterior, com menos clientes se cadastrando, especialmente na Califórnia. Isso se deve, em grande parte, ao aumento das taxas de juros, que elevou o custo de capital – algo negativo quando se está vendendo ativos que exigem um grande investimento inicial que leva 20 anos para ser pago com a coleta de energia solar.
A SunPower também revelou que estava descontinuando seu produto SunVault Battery, que não conseguiu conquistar uma participação de mercado suficiente em comparação com o Powerwall da Tesla. De acordo com uma revisão de dezembro do seu relatório de resultados, a situação é grave: “Dúvidas substanciais existem sobre nossa capacidade de continuar como empresa em funcionamento e, se não conseguirmos continuar com nossos negócios, nossas ações comuns podem ter pouco ou nenhum valor”.
Wall Street aparentemente tem fé na capacidade da empresa solar se recuperar. Suas ações, que caíram mais de 90% desde o pico no início de 2021, ainda lhe conferem uma capitalização de mercado de US$ 630 milhões.
Problemas contábeis
Junto com esses problemas fundamentais, a SunPower revelou uma confusão contábil. A empresa refez seus últimos três anos de finanças e confessou erros de dezenas de milhões de dólares, ignorados pelos contadores da Ernst & Young.
Isso incluiu contagem incorreta de inventários, capitalização de certos custos que deveriam ter sido gastos, classificação incorreta de operações específicas como descontinuadas e informando de forma incorreta sobre receitas de contratos. Em 2022, por exemplo, a SunPower classificou US$ 49 milhões como “custo de receita” quando deveria ter sido incluído como despesas com vendas, gerais e administrativas.
A conclusão: a SunPower reconheceu que havia superestimado seu lucro líquido em US$ 2 milhões em 2020, US$ 9 milhões em 2021 (resultando em uma perda revisada de US$ 47 milhões) e US$ 13 milhões em 2022 (para um lucro revisado de US$ 47 milhões). Não é uma boa imagem para a SunPower, ou qualquer outra empresa de capital aberto, dizer que não se pode confiar nos últimos três anos de seus registros e que a opinião da Ernst & Young sobre a eficácia dos controles internos da empresa “também não deve mais ser confiável”.
Em dezembro, a SunPower obteve renúncias dos credores mencionados acima, dando-lhe até 19 de janeiro para encontrar novas fontes de liquidez. Em documentos, a empresa reconhece que, sem renúncias adicionais, seus credores podem exigir o pagamento imediato do que lhes é devido, instituir uma taxa de juros de inadimplência ou “exercer outros meios”.
O ex-CEO da SunPower, Tom Warner, renunciou em 2021, sendo substituído por Peter Faricy. A empresa substituiu seu CFO em 2022. Nos últimos meses, o controlador e o EVP de produtos financeiros também renunciaram. As ações da SunPower caíram 85% em relação ao pico de US$ 25 no final de 2022 e caíram cerca de 35% em dezembro após divulgar o default. A empresa acumulou US$ 2 bilhões em perdas desde a sua fundação em 1985.
Agora, wuem está tomando decisões pela companhia é a Global Infrastructure Partners (GIP), gigante de private equity de Washington, D.C. (com US$ 90 bilhões em ativos), que em 2022 criou uma parceria chamada Sol Holdings com a gigante do petróleo francesa TotalEnergies, maior acionista da SunPower desde 2011. A Total contribuiu com seus 51% das ações da SunPower para a Sol, que agora é controlada pela GIP após negociar outros ativos com a Total. Em dezembro, a Sol emprestou emergencialmente US$ 25 milhões para a SunPower. Um porta-voz da GIP se recusou a comentar.
O credor mais lento em conceder uma renúncia à SunPower foi a Atlas Securitized Product Partners, uma divisão da Apollo Management, que no ano passado comprou uma carteira de empréstimos do falido Credit Suisse. Isso incluiu os US$ 65 milhões estendidos em 2022 a uma das subsidiárias de financiamento da SunPower. A Apollo não respondeu a um pedido de comentário.
Não há muito valor para ser extraído pelos credores, porque, como outros desenvolvedores solares, a SunPower continuamente vendeu seus projetos ou agrupou em securitização empréstimos e arrendamentos. Em 2020, a SunPower separou sua divisão Maxeon Solar, que fabrica módulos solares. Em 2022, vendeu seu negócio solar industrial por US$ 250 milhões para a Total.
A SunPower tem uma longa experiência em securitizar e vender dezenas de milhares de sistemas solares. Uma década atrás, eles se uniram à First Solar em uma joint venture chamada 8Point3 Energy Partners – na qual transferiram sistemas solares garantidos por arrendamentos de longo prazo. A 8Point3 foi para a bolsa em 2015, e a SunPower obteve cerca de US$ 400 milhões vendendo sua participação em 2018. Naquele ano, formou outra joint venture com o desenvolvedor solar Hannon Armstrong chamada SunStrong Capital, que agrupou quase 38 mil sistemas solares em telhados em um título lastreado em ativos de US$ 400 milhões. Esse papel, conhecido como Sunstrong 2018-1, paga um juros de 5,7%.
Em dezembro, após o default da SunPower, a Kroll Bond Rating Agency colocou a emissão em “watch developing”. A SunStrong (detida em 51% pela SunPower) gerencia os ativos subjacentes ao título, coleta aluguéis e administra os pagamentos aos investidores. Foram por volta de 600 clientes inadimplentes desde a emissão – um desempenho consideravelmente melhor do que o esperado pela Kroll – de acordo com o diretor de pesquisa Kenneth Martens.
No entanto, como a SunStrong delega a manutenção e reparo dos sistemas solares à SunPower, há o risco de que problemas na SunPower tornem mais difícil acompanhar os reparos – o que pode afetar os fluxos de caixa. A Kroll estima o valor presente dos pagamentos futuros de aluguel da ABS em US$ 480 milhões.
Crise nas auditorias
Ainda está se desdobrando o impacto que isso terá sobre a Ernst & Young, agora conhecida como EY. A gigante de auditoria contábil é uma presença constante na indústria solar. Além de gerar cerca de US$ 5 milhões por ano em taxas de auditoria e impostos da SunPower, a E&Y também dá sua aprovação às contas da Sunrun e costumava lidar com a SolarCity, antes de ser adquirida pela Tesla. Se a SunPower diz que seus investidores não podem confiar na opinião da E&Y sobre seus últimos três anos de demonstrações financeiras, que surpresas podem estar esperando por seus outros clientes solares?
A E&Y não respondeu a várias mensagens nesta semana solicitando comentários sobre seu trabalho na indústria solar. Em 2022, a SEC multou a EY em US$ 100 milhões depois que alguns de seus auditores foram pegos trapaceando na seção de ética do exame de CPA. Sua reputação global de auditoria foi manchada recentemente pelo escândalo envolvendo seu ex-cliente, o processador de pagamentos alemão Wirecard, que faliu em 2020 após um sofisticado golpe de US$ 2 bilhões. As autoridades alemãs posteriormente proibiram a E&Y de assumir novos clientes de auditoria por dois anos. A indústria solar “é a Wirecard com esteroides”, diz um financista e ex-executivo solar que contribui para uma investigação federal sobre a indústria.
Por quê? Os insiders e delatores da indústria solar estão preocupados que os generosos subsídios verdes federais tenham inspirado má conduta por parte dos financiadores solares. Os créditos fiscais de investimento federais, conforme instituído na Lei de Redução da Inflação de 2022, permitem que os investidores obtenham 30% do valor inicial de um sistema solar de volta na forma de créditos fiscais.
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Na medida em que os investidores podem inflar esse valor, adicionando custos de financiamento e usando suposições irrealistas sobre o desempenho e os custos de reparo dos painéis solares, podem obter mais créditos fiscais verdes do Tio Sam. Os analistas acreditam que a inflação fraudulenta de avaliações de sistemas solares ao longo da última década totalizou dezenas de bilhões de dólares em créditos fiscais reclamados indevidamente.
O governo não está sem ferramentas, no entanto. A Receita Federal pode reaver os créditos fiscais se um sistema solar for ruim quando se trata de gerar energia solar ou falhar em menos de cinco anos. E pode haver penalidades legais mais severas para empresas que possam ter induzido proprietários a cometer fraudes fiscais assinando empréstimos para sistemas solares supervalorizados.
A SunPower está longe de estar sozinha nisso. A Sunnova, beneficiária de US$ 3 bilhões em garantias de empréstimos do Departamento de Energia, está enfrentando alegações do Congresso de que tem pressionado famílias de baixa renda a assinar contratos solares de longo prazo mais propensos a inadimplências nos pagamentos.
Para a SunPower, a próxima data limite a ser observada é 19 de janeiro, o dia em que suas isenções de empréstimos expiram. Será que o consórcio de credores da SunPower estará disposto a prorrogar a renúncia ou pressionará a empresa para uma reestruturação? A GIP estará disposta a injetar capital?
Um financista solar acredita que a Atlas Secured Products Partners, a divisão da Apollo Management, detém a peça-chave. Se ela tentar devolver os empréstimos da SunPower ao Credit Suisse (agora UBS), isso poderia minar a confiança dos investidores em muitos outros títulos lastreados em energia solar. Ele afirma: “A Apollo colocou-se na posição de desmantelar essa indústria”.
Em 16 de janeiro, a SunPower anunciou que iniciaria um processo de reestruturação. As ações caíram 8%.
O post Após ascensão, empresa de energia solar dos EUA deve US$ 300 milhões a credores apareceu primeiro em Forbes Brasil.