A colheita de uvas de 2023 na Borgonha, região histórica no centro-leste da França famosa pelos vinhos, foi encerrada em outubro, quando o tradicional seria o mês de setembro. Apesar do clima de montanha-russa e da persistente falta d’água, o Bourgogne Wine Board relata uma perspectiva geral positiva: “Sol e uvas”.
Entre a próxima geração de vinhateiros, um tema tem se tornado persistente: o frescor do vinho está ameaçado pelo aumento das temperaturas, devido às mudanças climáticas. Enquanto a nova geração lida com o problema na adega, uma solução importante para a viticultura tem se mostrado como alternativa: a agricultura orgânica certificada.
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“Na Maison Jadot, começamos a conversão orgânica em 2021”, diz Amandine Brillanceau, mestre de adega da Maison Louis Jadot. “Estamos muito envolvidos com o Bourgogne Wine Board. Queremos liderar pelo exemplo e dar uma boa energia para a conversão.”
A família Ninot é fabricante de barris e viticultura desde o século 14. “Meu avô foi uma das pontas de lança da denominação Rully, quando a Côte Chalonnaise não era muito conhecida”, diz Erell Ninot, que agora dirige o Domaine Ninot com seu irmão, Flavien.
Depois de estudar administração de empresas em Beaune, Erell voltou para ajudar seu pai a administrar a vinícola. Flavien juntou-se a eles há dez anos, como gerente de vinhedos. Erell percebeu rapidamente que não estavam trabalhando com as safras do avô. “Com as mudanças climáticas, é sempre uma surpresa”, diz ela.
Outrora um domínio de produção em volume, o foco da Ninot hoje em dia está em safras menores e com qualidade superior. Com esse objetivo, ela pressionou seu irmão a converter imediatamente os vinhedos em agricultura orgânica certificada.
“Prefiro vinhos frescos e minerais com acidez suficiente. Com o aumento das temperaturas, não podemos colher cedo porque precisamos da acidez, mas se as uvas permanecerem penduradas por muito tempo, o álcool aumenta. Acreditamos que, por sermos orgânicos, podemos manter mais acidez nas uvas por causa do equilíbrio do solo”, diz Erell.
A produtora acredita que a conversão orgânica certificada é uma tendência da nova geração de vignerons na Borgonha. “É essa geração que está fazendo as mudanças orgânicas. Os jovens com novas propriedades querem o orgânico imediatamente, mas aqueles que começaram com seus pais têm que migrar para o orgânico mais lentamente.”
A família Derey tem suas raízes no cultivo de videiras na Borgonha desde 1650, com a propriedade moderna dando início à produção na década de 1950, no vilarejo de Couchey. Hoje, os três filhos de Pierre Derey estão levando o histórico Domaine Derey Frères para o futuro.
“É fácil vender vinho na Borgonha”, diz Romain Derey. Mas, com a crescente imprevisibilidade do clima, prestar mais atenção aos detalhes da adega e do vinhedo é de fundamental importância para o sucesso. Passar de um vinhateiro para três, por exemplo, permite que os irmãos tenham mais tempo para lidar com as questões climáticas.
A primeira mudança na vinícola foi migrar para práticas agrícolas orgânicas certificadas, o que foi feito este ano. Por meio de ajustes na poda, nas culturas de cobertura e no manejo do solo, o foco tem sido o cultivo de vinhas velhas. “Temos que ser intelectuais no trabalho com os vinhedos, fazer podas mais suaves, utilizar mais culturas de cobertura e menos lavoura para podermos cultivar um vinhedo antigo”, explica Romain. Nosso pai diz: “Façam o que quiserem, amem o vinho que produzem, mas lembrem-se de que precisam vendê-lo, portanto, não façam porcaria”.
Como hidrólogo, Nicolas Thevenot passou anos estudando o impacto das mudanças climáticas no Benin. No entanto, a vida em um laboratório se tornou insatisfatória, e a beleza de Borgonha e a vinícola de sua família o chamaram de volta. Ele retornou em 2005 e, hoje, junto com sua irmã Hélène são a quinta geração na administração do Domaine Thevenot Le Brun.
Criado em 1960, o Domaine está localizado no coração da região de Hautes Côtes, no vilarejo de Marey-les-Fussy. O avô de Nicolas, Maurice, foi um dos fundadores da moderna Hautes Côtes. A família já havia incorporado práticas orgânicas em sua agricultura há muito tempo. No entanto, Thevenot iniciou o processo de certificação há dois anos.
“Decidi buscar a certificação por causa da crise da Covid”, diz ele. “Tive tempo para pensar. Em Bourgogne, os vinhos vendem bem. Temos que usar isso para sermos melhores ao meio ambiente e para as pessoas que trabalham nos vinhedos. A certificação está se tornando mais comum na Borgonha.”
Depois de obter um mestrado em vinho, viticultura e enologia, Pierre-Etinne Chevallier entrou no cenário vinícola da Bourgogne no final de 2022, quando comprou o Domaine de la Monette. Um aspecto fundamental que o atraiu foi sua certificação orgânica de 12 anos.
Caminhando pelos vinhedos com Chevallier, ele chama a atenção para o forte contraste de seu vinhedo, um solo rico e escuro que parece se estender como uma esponja úmida e a biodiversidade da cultura de cobertura, em comparação com um vinhedo vizinho, de solo cinza morto, rachado e nu, entre as videiras devido à pulverização com herbicidas químicos.
Chevallier tem três filhos pequenos; ele quer que eles corram pelas videiras sem se preocupar com a exposição a produtos químicos. “É muito raro ter um novo vinicultor em Borgonha. Para ser aceito, você tem que demonstrar que conhece a área e sabe como fazer um vinho de qualidade”, afirma ele.
O que começou como um projeto micro negociante tornou-se um sonho de viticultor em 2017, quando o mestre de adega canadense Matthew Chittick e a borgonhesa Camille Thiriet lançaram a Maison MC Thiriet. Embora de pequeno porte, eles entendem que os métodos agrícolas são importantes. “Acho que a agricultura orgânica é o mínimo hoje em dia”, diz Chittick. “Nesses primeiros anos, queremos apenas garantir que as videiras estejam saudáveis. Temos uma vida inteira para trabalhar nas videiras e passá-las para alguém no futuro.”
A Maison MC Thiriet busca vinhos frescos com taninos suaves e acessíveis, além de um baixo teor alcoólico. No entanto, à medida que o clima esquenta, eles dizem que manter o baixo teor alcoólico está se tornando cada vez mais desafiador. “Temos muita sorte, tem sido uma ótima experiência”, conta Chittick. “Apesar de sermos pequenos, há uma grande responsabilidade de cuidar dos vinhedos para o futuro. Os jovens estão realmente melhorando a viticultura por meio de produtos orgânicos e sustentabilidade. Estamos produzindo vinho para um futuro melhor.”
*Michelle Williams é colaboradora da Forbes EUA, escritora e membro do Circle of Wine Writers. Também colabora com a Wine-Searcher, Wine Enthusiast Magazine, The Buyer e Wine Business Monthly.
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