Numa tarde abafada de novembro em West Palm Beach, Flórida, Terry Taylor atende o telefone em seu escritório à beira-mar.
“Sei que você contatou basicamente todo mundo que conheço. Então acho que é hora de você ter notícias minhas”, diz ele, com um sotaque sulista.
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Depois de semanas tentando entrar em contato com Taylor – o esquivo bilionário por trás de um dos maiores grupos de concessionárias de automóveis dos EUA – ou qualquer pessoa que saiba alguma coisa sobre ele, um aceno finalmente chegou do próprio homem.
“Concordarei em responder a algumas perguntas”, diz Taylor, que admite que suas tentativas de manter o sigilo são intencionais. O homem de 72 anos nunca se sentou para uma entrevista. Na verdade, ele raramente participa de alguma coisa, faltando à maioria das reuniões mesmo com seus próprios associados, e apenas concordando em comparecer a convenções ou conferências com a condição de não ser apresentado a ninguém.
“Ele é como o Batman”, disse uma fonte. “Você ouve falar dele e admira seu trabalho, mas ninguém nunca o viu na vida real.”
Durante quatro décadas, Taylor construiu silenciosamente um vasto império nas sombras, embora haja mais do que alguns sinais dele, se você souber onde procurar. Depois de receber uma dica de uma fonte antiga, começamos a investigar Taylor e seus negócios automotivos, examinando dezenas de registros comerciais da Flórida e conversando com oito pessoas que o conhecem, incluindo analistas, revendedores de automóveis rivais e parceiros.
Ao todo, a Forbes estima que o patrimônio líquido de Taylor seja de US$ 1,9 bilhão. A maior parte está vinculada à sua participação estimada em 75% na Automotive Management Services, que possui mais de 120 concessionárias em toda a América e vale cerca de US$ 1,6 bilhão, pelas nossas contas.
Mas, assim como o alter ego do Batman, Bruce Wayne, Taylor também tem uma propensão para uma vida boa. Ele gastou pelo menos US$ 180 milhões em casas luxuosas, incluindo US$ 30 milhões na cobertura de Tommy Hilfiger em Nova York em 2019. Ele também tem um jato particular de US$ 45 milhões com suas iniciais “TT” na cauda.
Já se passou cerca de meio século desde que Taylor começou a vender carros. Seu pai, Warren Taylor, abriu uma loja de usados da Ford em Daytona Beach depois de retornar de um período de quatro anos no Corpo de Fuzileiros Navais. Terry trabalhou na concessionária na adolescência, e os registros comerciais da Flórida mostram que ele foi nomeado vice-presidente em 1975, quando tinha apenas 23 anos. Pouco depois, seu pai decidiu vendê-la.
“Não era como um negócio de família”, diz ele. “Não me foi entregue nada.”
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Usando o dinheiro juntado trabalhando para seu pai, Taylor retornou ao negócio por conta própria, comprando sua primeira concessionária de carros novos, da Ford, em Daytona Beach, em 1982.
“Ele sempre vestia camisas ou ternos recém-passados, mesmo na Flórida com o calor intenso”, relembra diz Gary Yeomans, que administra aquela concessionária há quase meio século. “Ele tinha essa memória fotográfica. Ele pode recitar os números de tudo o que possui. Você não consegue tirar nada dele.”
Não demorou muito para que Taylor comprasse outras concessionárias no norte da Flórida, desta vez vendendo também modelos da Toyota.
“Comprava um ou dois aqui e três ali, conforme as condições do mercado permitiam. Usei alguns empréstimos, principalmente em dinheiro”, relembra.
Pode ser relativamente fácil multiplicar uma concessionária em muitas, de acordo com Ray Ciccolo, dono de 13 concessionárias na área da Nova Inglaterra, desde que você conquiste a confiança das pessoas certas.
“Depois que a montadora tiver um pouco mais de confiança em você e o banco perceber que você demonstrou que pode administrar uma concessionária de sucesso, eles serão um pouco mais flexíveis com os termos financeiros”, diz ele. “É um efeito dominó quando você tem algumas sob controle”, explica Ciccolo.
Quando Taylor começou a se expandir para fora da Flórida, em meados da década de 1980, ele percebeu que não conseguiria gerenciar todos os locais sozinho. Então ele começou a fazer parceria com seus gerentes gerais para garantir que seu vasto império automobilístico permanecesse bem administrado.
Em 1986, Taylor vendeu 25% de uma concessionária a Yeomans, que trabalhava lá como assalariado há quatro anos. “Fiquei grato. Não é muito comum. Você tem um nível diferente de orgulho de algo quando tem propriedade e não é apenas um trabalho”, ressalta.
Yeomans permanece como gerente geral e ainda possui 25% da concessionária, agora chamada Gary Yeomans Palm Beach Ford (ele não disse quanto pagou inicialmente por sua participação ou quanto ela vale agora).
À medida que Taylor continuou a comprar concessionárias durante os anos 1990, ele muitas vezes manteve o gerente geral titular de uma concessionária recém-adquirida, oferecendo-lhe capital para continuar a administrar o negócio no local, enquanto Taylor mantinha a participação majoritária. Existem agora aproximadamente 100 gerentes gerais em toda a rede da Taylor, cada um com participações de aproximadamente 25%, de acordo com o próprio magnata.
“Muito do sucesso neste negócio depende das pessoas”, diz Taylor. “Quando você tem as pessoas certas, normalmente terá sucesso.”
Na década de 2000, Taylor começou a subir de nível, com marcas de carros de luxo – como Mercedes-Benz, Lexus e Porsche – ocupando uma parte crescente de seu império e de seus resultados financeiros. As concessionárias de alto padrão geralmente geram receitas duas vezes maiores que suas contrapartes de marcas de consumo, de acordo com analistas da indústria automobilística.
Mas a recessão atingiu duramente Taylor e outros concessionários automóveis, uma vez que as vendas de automóveis caíram mais de 30%. As concessionárias começaram a fechar as portas, chegando ao mercado com “descontos significativos”, segundo Daniel Imbro, analista da indústria automotiva da Stephens.
Taylor conseguiu se manter à tona graças ao número de concessionárias que tinha e à maneira como os vários locais puderam compartilhar informações e aproveitar outros serviços com margens maiores, como financiamento, manutenção e vendas de peças.
Taylor também aproveitou sua posição mais forte e conquistou muitas outras concessionárias que estavam “baratas”. Embora não diga exatamente quantos comprou na época ou quanto pagou, ele estima que o número de concessionárias cresceu cerca de 15% no início de 2010. “Não é algo que obviamente planejamos que acontecesse, nem gostaríamos que acontecesse, mas foi uma oportunidade e aproveitamos”, diz Taylor. “Havia muitas concessionárias à venda.”
Uma das maiores conquistas de Taylor foi a aquisição de 15 concessionárias da Alexander Automotive, com sede no Tennessee, que ele comprou por uma quantia não revelada em abril de 2011, de acordo com a Federal Trade Commission.
À medida que o negócio crescia, Taylor se esforçava para permanecer na sombra. Ao contrário de outros magnatas do ramo, ele nunca deu seu nome a nenhuma concessionária. “Esta é uma indústria onde os proprietários têm grandes egos e geralmente dão seus nomes às concessionárias e em cada carro seu nome está fixado com destaque na parte traseira, mas ele é uma anomalia porque é exatamente o oposto”, disse Ciccolo. A Automotive Management nem mesmo lista quantas concessionárias possui em seu site ou em comunicados à imprensa.
“Gosto de ser discreto. Isso torna as coisas muito mais fáceis”, diz Taylor.
Essa abordagem nem sempre está sob seu controle. Em 2017, um dos gerentes gerais entrou com uma ação contra Taylor por fraude. Michael Petrello, a quem Taylor emprestou US$ 980 mil em 2014 para comprar uma participação de 20% em uma concessionária Ford Lincoln no Tennessee, o acusou de canalizar dinheiro da revenda para seus próprios bolsos, de acordo com documentos judiciais.
Entre 2014 e 2017, Taylor inflou os custos dos serviços e reteve receitas de Petrello. O processo também dizia que Taylor fez isso em parte para forçar Petrello a vender de volta sua participação.
No tribunal, o advogado de Taylor lutou para manter em segredo quantas concessionárias ele possui, dizendo que o número é “altamente proprietário”. (O empresário admitiu à Forbes que são “mais de 120”).
O caso foi resolvido em 2018 em termos não divulgados. Petrello não respondeu aos pedidos de comentários da reportagem.
“Digamos apenas que discordamos sobre como administrar uma concessionária de automóveis”, diz Taylor, acrescentando: “um único desentendimento em minha vida com provavelmente mais de 150 parceiros é um histórico muito bom, se você para par pensar”.
Essas parcerias ajudaram Taylor a viver de maneira fabulosa demais para realmente se esconder. Ele tinha um iate de US$ 30 milhões, o Mia Elise II, que vendeu em dezembro. E ele tem pelo menos sete casas, pelas quais pagou US$ 180 milhões (agora valem cerca de US$ 270 milhões). Sua residência principal é uma mansão à beira-mar de US$ 115 milhões em Palm Beach, onde ele e sua família moram desde 2003.
Sua coleção de casas aparentemente se tornou tão complicada que ele não reconheceu o endereço de uma propriedade na Flórida em seu nome quando contatado pela primeira vez. pela Forbes, mas logo lembrou que foi um lugar que ele comprou para sua mãe em 2022 por US$ 7,5 milhões.
Quando não está em casa, ou a 35 mil pés de altura a caminho de uma de suas concessionárias mais distantes, Taylor provavelmente está em seu escritório à beira-mar em West Palm Beach, junto com várias centenas de outros funcionários, a maioria dos quais passa o tempo procurando oportunidades de expansão.
“Ainda estou fazendo a mesma coisa que fazia há 30, 20, 10 anos”, diz Taylor. “Ainda estou em nossa sede na maior parte dos dias.”
Yeomans concorda: “Taylor não mudou muito desde os 30 anos. Ele ainda é alguém que sempre atende o telefone, sempre responde”, diz ele. “E seu estilo de liderança não mudou. Ele não é esquentado, é um cara que sempre vai conversar com você.”
Bem, talvez nem sempre.
O colega bilionário Don Hankey, que administra o Hankey Group, um império de financiamento para automóveis com sede em Los Angeles, tentou fechar um acordo com Taylor durante a recessão. “Queríamos que todas as suas lojas nos concedessem empréstimos quase prime ou subprime”, diz Hankey.
De acordo com Hankey, o plano fracassou depois que ele se deparou com um problema que até um bilionário enfrenta com Taylor: ele não conseguiu convencê-lo a se encontrar pessoalmente.
*É repórter de finanças da Forbes, baseado em Nova York. Acabou de se formar na Columbia Graduate School of Journalism, antes da qual trabalhou e estudou na Irlanda, cobrindo finanças e economia europeias.
(Traduzido por Rodrigo Mora).
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