Como o bilionário Dick Wolf continua fazendo fortuna com a TV aberta?

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Poucos em Hollywood estão tão comprometidos com o tradicional cronograma da TV aberta quanto Dick Wolf, que em um ano comum produz episódios suficientes de suas franquias Law & Order, Chicago e FBI para preencher completamente três noites no horário nobre.

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Porém, 2023 não foi um ano comum. Greves dos sindicatos de escritores e atores paralisaram a produção por quase cinco meses, arruinando qualquer esperança de que os nove programas de Wolf pudessem cumprir suas habituais encomendas de 22 episódios. “Tenho certeza de que perdi mais dinheiro na greve do que qualquer outro produtor”, diz Wolf à Forbes.

No entanto, incrivelmente, dentro de quatro semanas antes do fim das greves, oito desses programas estavam com elenco escolhido, equipe contratada e filmando. É uma proeza tão improvável que Wolf, de 77 anos, a compara a uma cena de um de seus filmes favoritos, Patton. Na cena, o famoso general prometeu que suas tropas marchariam na neve para lutar por ele sem hesitação.

“As pessoas perguntam, como você fez isso?”, diz Wolf com bravata à la Patton, sentado em um pátio sombreado no Beverly Hills Hotel. “Eu disse, fiz tudo sozinho. Quer dizer, tenho a melhor organização que já existiu nesse negócio.”

Trajetória

A Wolf Entertainment é, no mínimo, uma das produtoras mais lucrativas e diversificadas da história de Hollywood. Ao longo de uma carreira que ultrapassa 30 anos, a Forbes estima que Wolf tenha ganho US$ 1,9 bilhão antes de impostos e taxas de agentes. Quando combinado com suas múltiplas casas, iates e uma extensa coleção de arte — mesmo depois de doar 200 peças de arte barroca e renascentista recentemente, além de dinheiro suficiente para ter duas galerias nomeadas em sua homenagem no Metropolitan Museum of Art de Nova York—, a Forbes estima o patrimônio líquido de Wolf em US$ 1,2 bilhão, colocando-o, ao lado de Oprah Winfrey e Tyler Perry, na rara classe de bilionários da TV.

Em um momento em que a maioria dos produtores busca fortuna na Netflix, Apple, Amazon e outros serviços de streaming, os quase 200 episódios produzidos pela Wolf Entertainment a cada ano representam um dos últimos pilares que sustentam o cronograma de transmissão aberta nos EUA. Sete programas de Wolf, incluindo FBI e Chicago Fire, figuraram entre os 16 programas roteirizados mais assistidos da temporada de televisão 2022-2023.

Monetização

Seu status como o incontestável rei da transmissão lhe rendeu um acordo sem precedentes com a Universal Television. O contrato concede quase metade dos lucros de seus programas cada vez que o estúdio os vende para redes como NBC e CBS, canais da TV fechada, mercados estrangeiros ou plataformas de streaming. Isso, além de sua taxa de produção executiva, que a Forbes estima ser de até US$ 350 mil por episódio em seus programas mais populares, pagos antecipadamente como parte do orçamento de produção.

Ao longo dos anos, o acordo de Wolf se expandiu para incluir bônus, proteções e promessas, enquanto preserva características generosas de contrato que já não são padrão na indústria. Por exemplo, após o quinto ano, suas séries têm a garantia de que a rede deve pagar o valor total dos custos de produção, mesmo que ultrapasse a taxa de licença original da rede. Isso transforma toda a receita em lucros puros para a Wolf Entertainment. Mesmo após pagar seus funcionários, agentes e advogados, a Forbes estima que Wolf ganhou aproximadamente US$ 125 milhões nos últimos 12 meses antes dos impostos.

“Se eu tivesse que representar o próximo Dick Wolf hoje, não conseguiria esses acordos”, diz Cliff Gilbert-Lurie, sócio sênior da Ziffren Brittenham, que negociou todos os contratos de Wolf. “Mesmo se eu soubesse que essa era a trajetória de carreira, não seria possível.”

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Os programas de Wolf não são os únicos a gerar grandes pagamentos. O que o diferencia até mesmo de outros criadores de sucessos de TV – como Chuck Lorre, David E. Kelley ou Shonda Rhimes – é o volume e a longevidade de seus programas.

Law & Order, que estreou em 1990, é o segundo drama de maior duração de todos os tempos, com 22 temporadas e contando. Foi superado apenas por Law & Order: SVU, com 24 temporadas e mais de 500 episódios.

Neste ponto, os procedimentos de criação de Wolf estão mais próximos de uma utilidade pública — onipresentes, confiáveis e facilmente acessíveis devido à história que se fecha em cada episódio. No total, a Wolf Entertainment produziu mais de 2 mil episódios de televisão, sem sinais de desaceleração em breve.

“Ainda há produtores incríveis que virão e farão coisas na TV que as pessoas não fizeram antes”, diz o produtor Greg Berlanti, que comanda um império de programas de TV para a Warner Brothers, incluindo programas da DC Comics como The Flash, Supergirl, Titans e Superman & Lois. “Dito isso, não consigo imaginar que haverá oportunidades para quebrar os recordes que Dick estabeleceu.”

Carreira do bilionário

A marca vem naturalmente para Wolf, que começou sua carreira como redator publicitário em Nova York, onde trabalhou em grandes campanhas para Crest e National Airlines. Ele fez a transição para a redação de TV nos anos 1980 com Hill Street Blues e Miami Vice antes de estrear Law & Order em 1990.

O programa foi revolucionário por seus enredos inspirados em manchetes e construção bifurcada. Combina um crime na primeira metade com um dilema moral maior na segunda. Law & Order tornou-se um sucesso de audiência e um forte concorrente em premiações. Recebeu 11 indicações consecutivas ao Emmy e uma vitória na categoria de Melhor Série Dramática entre 1992 e 2002.

Vantagens úinicas

Em 2004, Wolf tinha dois programas de sucesso, SVU e Criminal Intent, rodando justamente quando seu contrato com a Universal estava prestes a ser renovado. O estúdio estava em processo de venda para a NBC e precisava dos programas de Wolf em seu portfólio. Isso lhe a alavancagem para negociar a participação nos lucros.

As negociações foram “brutais”, diz Wolf, mas agora ele é quase um parceiro igual da Universal em projetos. Ele opera a Wolf Entertainment como um mini estúdio, confiando em uma equipe de cinco executivos principais para supervisionar mais de 3 mil escritores, atores e membros da equipe nos programas.

“Basicamente, é assim que me vejo agora”, diz ele. “Somos maiores do que qualquer estúdio de televisão. Não há outro estúdio além da Universal que tenha tantos programas de transmissão no ar.”

O modelo tradicional de pagamento — que geralmente entra em vigor após 100 episódios e é onde o dinheiro real é feito na TV — incentiva Wolf a produzir o maior número possível de episódios. Mas, em 2011, ele tinha apenas um programa no ar. O Law & Order original passou por um cancelamento complicado em 2010, após 456 episódios. Depois, Criminal Intent foi cancelado no ano seguinte após 10 temporadas, e um spin-off de Law & Order ambientado em Los Angeles fracassou após apenas uma temporada.

Volta por cima

Logo depois, Wolf contratou Rick Rosen, um agente da WME, para ajudá-lo a reconstruir seu império. Apresentaram à NBC uma nova ideia de trazer seu formato de criação para Chicago, que implementou um crédito fiscal para produção cinematográfica, podendo manter os custos baixos.

Enquanto filmava o piloto para o que se tornaria Chicago Fire, o presidente e COO da Wolf Entertainment, Peter Jankowski, lembra-se de Wolf se voltando para ele com uma ideia: um universo compartilhado de programas ambientados em Chicago que poderiam ser transmitidos consecutivamente na mesma noite. Foi um risco e, inicialmente, a proposta encontrou alguma resistência.

“O ex-presidente da NBC, Bob Greenblatt, nos disse em determinado momento: ‘Se você mencionar Chicago P.D. mais uma vez, vou cancelar Chicago Fire’”, lembra Rosen. “E então, literalmente, cerca de três meses depois, ele disse: ‘Quão rápido você pode ter Chicago P.D. pronto?’”

Essa revolucionária “interligação” mudaria o cenário da televisão de rede ao longo da próxima década. Chicago P.D. estreou em 2014, seguido por Chicago Med no ano seguinte, formando um bloco de três horas para a NBC nas noites de quarta-feira. Personagens sobrepostos e eventos de crossover impulsionaram as classificações dos três programas.

Um trio de programas do FBI, produzidos por Wolf, surgiram para a CBS nas terças-feiras. Com essas novas franquias prosperando, Wolf reviveu o Law & Order principal em 2020. Adicionou Law & Order: Organized Crime em 2021 para acompanhar SVU na NBC nas noites de quinta-feira. Outras redes implementaram uma estratégia de franquia semelhante para programas como NCIS e 9-1-1.

Visão estratégica

Em teoria, essa estratégia de franchising serve a outro propósito: como todas as séries estão interligadas, se torna mais difícil o cancelamento de qualquer um dos programas de Wolf. E, como o formato é a estrela, em vez de atores individuais ou narrativas contínuas, eles são essencialmente projetados para durar para sempre.

Por enquanto, Wolf acredita que “a morte iminente da televisão aberta é exagerada”. Ainda é o melhor lugar para alcançar 10 milhões de pessoas em uma única noite. Ele quer adicionar ainda mais programas e realmente se tornar o “último homem de pé” na TV. Ainda assim, ele é um realista. “Quando acabar, acabou”, diz ele. “Acho que há mais 10-12 anos de televisão aberta antes de ser basicamente tudo streaming.”

A era do streaming

Grandes acordos de streaming para produtores ainda existem. Como os contratos de nove dígitos que a Netflix ofereceu a Shonda Rhimes, showrunner de Grey’s Anatomy, e Ryan Murphy, de American Horror Story. Mas geralmente não incluem participação nos lucros de longo prazo, com a tendência para menos episódios destinados a atender uma audiência específica.

O extenso catálogo dos programas de Wolf pode ser vendido perpetuamente, mais recentemente em um acordo de US$ 300 milhões com Peacock em 2020, mas ainda resta saber como o lucrativo fluxo residual fluirá em um futuro totalmente baseado em streaming.

Para isso, Wolf também tem um plano. Voltando aos dramas de 30 minutos de sua infância, ele quer adaptar sua linha de três horas em séries de meia hora, seis episódios cada, para streaming. Em sua mente, ele já está programando franquias e universos compartilhados bem-sucedidos. “Em três anos, eu gostaria de ser a maior, se não a única pessoa produzindo volumes de meia hora”, diz ele.

O primeiro desses programas, On Call, uma série policial, está programado para estrear no Amazon Prime Video em 2024. É co-criado por Elliot Wolf, o terceiro dos cinco filhos de Wolf. “A percepção pública agora é muito Dick Wolf”, diz Elliot. “Nossa maior esperança é que a empresa se torne uma instituição, que a Wolf Entertainment seja tão onipresente quanto Dick.”

 

(Tradução de Chico Stefanelli)

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