O que está por trás do apetite da Le Cordon Bleu pelo mercado brasileiro

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A Le Cordon Bleu dobrou seu tamanho em São Paulo em 2023

Vinte mil alunos formados anualmente, de 75 nacionalidades. Trinta e cinco escolas em 25 países. Quase 130 anos de tradição. Os números falam por si só quando o assunto é a Le Cordon Bleu e sua posição com uma das maiores escolas de culinária e hospitalidade do mundo. Presente no Brasil desde 2018, a empresa dobrou seu espaço em São Paulo após a inauguração, em setembro, do seu novo modelo de negócio: o Culinary Village. A área, de 700 metros quadrados na Vila Madalena, é multiúso, com cozinha profissional e sala de jantar disponíveis para gravações e eventos, coworking, café e uma boutique de produtos licenciados.

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A aposta no Brasil, porém, vai além disso. Para os próximos três anos, estão previstas oito novos cursos em diferentes capitais, em parceria com a Anhembi Morumbi. Um livro sobre a culinária nacional foi lançado, e uma biblioteca pública com o acervo de livros gastronômicos de Nina Horta (1939-2019) foi inaugurada em São Paulo. Quem sublinha o interesse pelo país é André Cointreau, presidente da LCB desde 1984, quando sua família – dona das marcas Rémy Martin e Cointreau – comprou a instituição. A seguir, os melhores momentos da entrevista com o executivo.

Forbes – Qual é a relação da Le Cordon Bleu com o Brasil?

André Cointreau – A Le Cordon Bleu sempre se interessou pela principal capital das regiões deste mundo. Já faz muito tempo que nos interessamos por esse tipo de potência que é o Brasil, uma das 10 maiores economias e influências do mundo. Não tem como não estar aqui, um país tão aberto, disposto a progredir. E o Brasil é muito importante pela sua demografia, bem diferente de outras partes do mundo, como o Japão e a China. Aqui existem muitos jovens, e nos interessa muito o desenvolvimento dessa nova geração. Além de existirem brasileiros por todo lugar, em nossas outras escolas.

Ricardo D’Angelo

André Cointreau, CEO da Le Cordon Bleu, veio ao Brasil acompanhar a inauguração do Culinary Village em setembro

E por que investir fortemente no mercado brasileiro agora?

Nem esperávamos alcançar o nível em que estamos hoje no país. Temos o programa mais assistido do canal de televisão, Sabor & Arte, por exemplo. Em cinco anos, mesmo passando por uma pandemia, alcançamos 2.800 certificações no Brasil – nada mal. Por isso, vamos expandir com o Anhembi Morumbi na Mooca e na Vila Olímpia, e implementar o ensino superior no Rio. Além de abrir novas unidades em Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e outras cidades no próximo ano. É uma expansão em qualidade.

O que há de especial no Culinary Village inaugurado em São Paulo?

Estivemos em um espaço apenas vocacional nesses cinco anos. Agora, dobramos nossos metros quadrados em São Paulo, com um espaço para eventos corporativos, produção de televisão, coworking, cafeteria. É uma evolução no mercado B2B. Há uma demanda incrível por esse tipo de plataforma. Sabe por quê? Nada une tanto as pessoas quanto cozinhar e comer juntos.



Quais são as expectativas dessa diversificação de negócios da LCB?

A expectativa é ser o número 1 absoluto em qualidade em todos os nossos negócios. Essa é a parte mais difícil. Na parte financeira, esperamos uma movimentação nos nossos números, claro – até porque estamos aumentando o número de cidades e a oferta de cursos e produtos. Mas minha abordagem tem sido a de, pelo menos, breakeven. O foco é se empenhar pela expansão, e acho que estamos entregando qualidade por um preço bastante competitivo.

A LCB começou como uma revista e se tornou uma das principais escolas de culinária do mundo. Como ajudou nessa evolução?

Minha participação foi muito, muito menor do que a da fundadora, Marthe Distel, que criou todas as bases que se desenvolveram depois. Ela era uma jornalista francesa que criou uma revista de receitas em 1895. Não demorou muito para ter aulas de demonstrações e, então, uma escola. Na época, só havia escolas de hotelaria e gastronomia com homens – ela criou uma para mulheres. Marthe foi uma pioneira: ela foi a primeira pessoa a fazer uma demonstração de receita em um fogão elétrico, por exemplo. Desde o começo, grandes chefs participam. E o sucesso também veio porque os estrangeiros entenderam rápido que poderiam vir estudar na escola e ser respeitados. O primeiro deles foi um estudante russo, em 1897, e um japonês em 1905. Talvez meu toque pessoal tenha sido focar realmente nos próprios países em que estávamos expandindo.

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Registro da primeira aula de culinária da Le Cordon Bleu, em 1895

O senhor está à frente da empresa há quase 40 anos. Esperava a evolução que tiveram nessas décadas?

Absolutamente não, não imaginei que iria expandir tanto. Meu plano de negócios, se um dia eu tive um, foi muito extrapolado. Mas, em termos de princípios, eles continuam os mesmos de antes, pensando sempre na expansão do negócio de forma sistematizada.

Desde que assumiu a LCB, como as suas metas mudaram?

Nossa filosofia é ser primeiramente local e flexível. Planos muito rígidos podem reduzir oportunidades. Dito isso, é uma flexibilidade sobre como fazemos as coisas, não sobre o que queremos – isso não mudou. Sempre queremos ser o número 1. Cada vez que abrimos um novo instituto, o objetivo é que ele seja o principal daquele país.

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Sua formação é em negócios e você vem de uma família do ramo das bebidas. Em que momento sua vida se cruzou com a culinária?

Sou muito, muito francês – cruzei muito cedo com a comida (risos). Até os 11 anos, estava mais perto dos vinhedos do que da cidade, rodeado por cozinheiras fantásticas – que eram verdadeiras chefs. Então, desde sempre, estivemos completamente banhados nesse amor incrível que é a comida. As reuniões familiares eram todas em volta da mesa. E aprendi que você consegue negociar muito melhor em torno de uma boa mesa. Essa foi e tem sido minha formação: comida, comida, comida.

Na culinária brasileira, qual é o seu prato favorito?

Poderia falar de peixes amazônicos. Mas gosto principalmente de pratos típicos que não são valorizados o suficiente – a feijoada, por exemplo. E é legal fazer novas interpretações desses clássicos, mas sempre com a autenticidade primeiro. Gosto do autêntico.

Entrevista publicada na edição 112 da revista, disponível nos aplicativos na App Store e na Play Store e também no site da Forbes.

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