O novo papel dos drones é contra as malditas ervas daninhas nas lavouras

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Drone carregando uma câmera Sentera sobre um campo para mapeá-lo em busca de ervas daninhas

Os drones têm ganhado uma gama crescente de aplicações úteis, mas muita da atenção dada ao seu papel atual tem a ver com seu uso nas guerras modernas. Espera-se muito que os conflitos militares cheguem ao fim, mas existe uma forma de guerra que provavelmente nunca cessará – a “guerra às ervas daninhas” que comprometem a produção de alimentos em qualquer país produtor. A tecnologia baseada em drones está sendo empregada nessa área, e cada vez mais, desenvolvida por grandes empresas do setor e também por startups.

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A “coleta de inteligência” sobre o status das ervas daninhas em uma lavoura é perfeita para imagens baseadas em drones, e essa função está sendo levada a um novo nível de precisão por uma empresa chamada Sentera. Com sede no estado de Minnesota e presente em 45 países, ela foi fundada em 2014 por Eric Taipale, que agora atua como seu diretor de tecnologia.

A empresa levantou recentemente um capital significativo por meio de uma expansão da rodada da Série C, em maio de 2023, liderada pela Conti Ventures, que é uma divisão da Continental Grain Company, investidora global em agro, criada em 1813 na Bélgica, e que tem entre os parceiros nomes como Rabobank, Cargill, 3GCapital e Monark. Também participou da rodada a S2G Ventures, presente em 90 países e que gerencia ativos da ordem de US$ 2 bilhões.

“Em um ambiente onde os atuais mercados de capitais continuam a colocar pressão na captação de recursos às agtechs, acreditamos que este financiamento é uma forte declaração sobre a durabilidade, o impulso e o excelente potencial deste negócio”, disse Chris Abbott, codiretor da Conti Ventures. Com o aporte (de valor não divulgado) o objetivo dos fundadores da Sentera foi encontrar aplicações agrícolas para algumas das tecnologias de câmeras de ultra-alta resolução com as quais haviam trabalhado em outras áreas.

A partir deste e de outras rodadas, como uma de 2021 na qual levantaram US$ 25 milhões (R$ 123 milhões na cotação atual), a tecnologia que desenvolveram foi um dispositivo leve o suficiente para ser transportado em um pequeno drone padrão, mas que inclui cinco câmeras, cada uma das quais detecta um comprimento de onda de luz diferente. O sistema se autocalibra para as condições solares durante o uso. Esta unidade pode voar sobre campos agrícolas cobrindo 100 hectares mais por hora e capturar imagens com resolução de ¼ polegada a uma taxa de 5 quadros por segundo.

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A Sentera desenvolveu um extenso banco de dados conectando esse tipo de imagem com informações sobre ervas daninhas e outras plantas encontradas nas lavouras. Esses dados foram usados ​​para construir um sistema que permite identificar ervas daninhas até o nível de espécie, mesmo quando são mudas jovens, e mapear sua localização exata no campo. Os dados podem então ser usados ​​para desenvolver uma prescrição para equipamentos de pulverização de precisão, podendo então aplicar um conjunto de herbicidas específicos, sendo cada um usado apenas nas partes do campo onde é necessário.

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Mapa para fazer uma “receita” de aplicações de herbicidas, gerenciando as zonas com ervas daninhas em vermelho

A quantidade total de herbicida necessária pode ser reduzida em até 70%. Essa economia torna possível incluir produtos que poderiam ser muito caros ou representar um risco de deriva para fora do local se fossem aplicados como uma pulverização geral em todo o campo.

De acordo com a Mordor Intelligence, o mercado global de herbicidas em 2023 está estimado em US$ 30,32 bilhões, com previsão de US$ 40,84 bilhões em 2028, o que equivale a um CAGR (taxa de crescimento anual composta) no período de 6,14 % ao ano.

O estrago das ervas daninhas

É do senso comum, entre os produtores e técnicos, dizer que uma erva daninha é apenas “uma planta cujo uso ainda não foi identificado”. O fato é que existem certas espécies de plantas intrinsecamente “ervas daninhas” que produzem um grande número de sementes, e que são eficientes em espalhá-las por novos territórios. É assim que essas “ervas daninhas” conseguem estabelecer um “banco de sementes”, garantindo que voltarão a nascer ano após ano, mesmo se o clima ou os esforços do agricultor as suprimirem em qualquer estação de cultivo. As ervas daninhas têm sido um desafio para a humanidade desde os primórdios da agricultura.

Durante a maior parte da história humana, o principal meio de controlar as ervas daninhas nas explorações agrícolas foi o manejo mecânico do solo, com ferramentas que iam da enxada ao arado e ao cultivador. Infelizmente, esse processo de lavoura degrada a saúde do solo ao longo do tempo e leva a fenômenos como o Dust Bowl do início do século 20, nos EUA (eventos de secas extremas por quase oito anos, entre 1930 e 1940).

Os herbicidas químicos (particularmente em combinação com culturas tolerantes a herbicidas) têm permitido que cada vez mais agricultores modernos protejam e melhorem os seus solos por meio da utilização de métodos agrícolas de “plantio direto” e o “strip-till” (uma combinação de plantio direto e convencional), no caso dos EUA. (No Brasil, prevalece o plantio direto, sendo o país que mais utilizao esse método).

Para muitas culturas e regiões, esses sistemas de mobilização mínima do solo são um componente fundamental da “agricultura regenerativa”, que está se tornando o “padrão ouro” para uma produção agrícola respeitadora do ambiente e inteligente do ponto de vista climático.

Ervas daninhas e sua resistência

Infelizmente, as ervas daninhas são muito boas em evoluir em torno de quase qualquer tecnologia usada para suprimi-las. As ervas daninhas tolerantes aos herbicidas são um problema crescente na agricultura moderna e é extraordinariamente difícil e caro descobrir e desenvolver novos herbicidas com novos modos de ação para superar essa resistência.

Quando uma nova espécie de erva daninha invasora ou tolerante a herbicidas chega pela primeira vez a um determinado campo, o agricultor precisa eliminá-la antes que consiga “lançar sementes” e se tornar um problema arraigado. Os agricultores podem sair e “explorar” suas lavouras em busca destas invasoras, mas isso não é viável ao nível de detalhe necessário à escala da agricultura moderna. A tecnologia de drones não só poupará dinheiro aos agricultores, mas também ajudará a manter práticas regenerativas ideais, como o plantio direto, por exemplo.

*Steven Savage, colunista da Forbes EUA, é biólogo pela Universidade de Stanford e doutor pela Universidade da Califórnia, em Davis (tradução e adaptação: ForbesAgro).

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