O ex-diretor da NYSE, Tom Farley, se tornará o próximo rei das criptomoedas?

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Thomas “Tom” Farley, CEO da Bullish exchange de Criptomoedas – Foto: Chris Goodney/BLOOMBERG

Thomas “Tom” Farley, CEO da Bullish exchange de Criptomoedas – Foto: Chris Goodney/BLOOMBERG

O que você faz para superar o fato de ter administrado a Bolsa de Valores de Nova York por cinco anos? Para Tom Farley, a resposta é mergulhar de cabeça no mundo das criptomoedas.

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No mês passado, o CoinDesk, principal site de notícias dedicado a ativos digitais, revelou que foi adquirido pela exchange de criptomoedas Bullish, onde Farley atualmente ocupa o cargo de CEO. Um dia depois, na CNBC, Farley confirmou que sua exchange também era um potencial comprador da FTX. Quando questionado sobre o que aconteceria se a Bullish adquirisse a exchange em processo de falência, Farley afirmou: “Estou limitado quanto ao que posso dizer contratualmente. Mas, olhe, estamos nos aproximando da FTX.”

Farley, que recusou pedidos de entrevista da Forbes, aparentemente prefere o modo sigiloso quando se trata de divulgações empresariais. Após liderar uma tentativa fracassada de fundir sua Far Peak Acquisition com a Bullish por meio de uma SPAC* de US$ 600 milhões em 2022, Farley apareceu como CEO em maio de 2023, sem nenhum anúncio público.

A Bullish não respondeu a pedidos de informações sobre como e sob quais termos Farley foi contratado. Uma pessoa familiarizada com a situação confirmou que sua contratação não foi divulgada publicamente. Ele foi anunciado como CEO da Bullish em 2 de maio por um comunicado à imprensa. Seu perfil no LinkedIn mostra que ele começou naquele mês.

A transação fracassada com a Far Peak Acquisition teria fornecido cerca de US$ 840 milhões em novo capital para a exchange e teria servido para Farley se tornar CEO da Bullish. Os acionistas da SPAC e investidores associados teriam adquirido cerca de 9% do patrimônio da empresa ampliada, embora menos de 3% do poder de voto. Então, a exchange acabou ficando com Farley, mas sem o dinheiro da Far Peak.

Semelhante à FTX sob a liderança de Bankman-Fried, a Bullish insiste que é ‘regulamentada e em conformidade’.

Dois executivos da SPAC também se juntaram à Bullish: David Bonanno, anteriormente diretor financeiro da Far Peak e agora diretor de estratégia da exchange, e Sara Stratoberdha, que era vice-presidente do veículo de investimento e agora é chefe de desenvolvimento de negócios.

Enquanto os detalhes da ascensão de Farley ao cargo de CEO permanecem um mistério, o fracasso de sua SPAC não é. Quem afirma é Kristi Marvin, fundadora do site SpacInsider.com, referindo-se às centenas de SPACs que não realizaram aquisições após a venda massiva do mercado. Outro acordo SPAC-crypto de destaque, que teria levado a desenvolvedora da stablecoin USDC, Circle, a abrir capital, foi abandonado em 5 de dezembro.

Apesar de apoiadores respeitáveis como Farley, Marvin acredita que o presidente da SEC, Gary Gensler, estava contra a transação. “Gensler tinha várias áreas de foco”, diz ela, uma das quais era “o mercado de criptomoedas, outro eram os SPACs.”

Ao chegar à liderança da Bullish sem a ajuda de sua SPAC, Farley passou a promover os sucessos de sua exchange iniciante. Em setembro, a Bullish pagou por um perfil elogioso de Farley no Wall Street Journal. Nela, seu destacou o futuro das criptomoedas e como a Bullish liderava com sua abordagem “dentro das quatro linhas”.

“Guiada por um compromisso firme em manter padrões regulatórios e de conformidade, a Bullish visa fortalecer a integridade do mercado de criptomoedas”, afirmou o perfil. “A exchange de ativos digitais já alcançou marcos importantes que indicam um modelo de gestão mais maduro para a negociação institucional de criptomoedas.”

A Bullish alega ter movimentado mais de US$ 300 bilhões em volume de negociação desde o início das operações em novembro de 2021 e que “consistentemente se classifica entre as três principais exchanges globais por volume de negociação à vista para bitcoin e ether”, citando dados da Coin Metrics.

Jamie Lovegrove, representante da Coin Metrics, acrescentou que os números de volume são relatados pelo software próprio da exchange e não são verificados de forma independente. Na realidade, de acordo com o CoinGecko, o “volume de negociação normalizado” da Bullish, que elimina suspeitas de falsas negociações comuns em exchanges de criptomoedas, foi de apenas cerca de US$ 40 milhões nas últimas 24 horas, em comparação com os relatados US$ 1,2 bilhão. Nos últimos três meses, a Bullish relatou um volume médio diário de negociação de mais de US$ 700 milhões, mas dados do CoinGecko indicam que raramente ultrapassa os US$ 40 milhões.

A Bullish, que não opera nos EUA, é supervisionada pela Comissão de Serviços Financeiros de Gibraltar. A FTX também era regulamentada por um órgão de uma nação insular, a Comissão de Valores Mobiliários das Bahamas.

“Se Tom ou qualquer outra pessoa quiser estar neste campo, eu diria, ‘faça isso dentro da lei’”, diz Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (U.S. Securities and Exchange Commission, SEC).

Na sua matéria de destaque paga no Wall Street Journal, a Bullish afirma que, ao contrário de outras exchanges de ativos digitais, ela “é auditada por uma das quatro grandes empresas de contabilidade, a Deloitte & Touche.” No entanto, no site da exchange, na seção Confiança e Transparência, não há links para os prometidos demonstrativos financeiros auditados.

Trajetória

A história da Bullish é breve. Foi estabelecida em 2021 como subsidiária da Block.one, uma empresa de software blockchain apoiada por um grupo de bilionários. Dentre eles estão o cofundador do PayPal, Peter Thiel, os gestores de fundos de hedge Alan Howard e Louis Bacon, e o magnata de Hong Kong, Richard Li.

Antes de iniciar suas operações, a Bullish fechou um acordo em julho de 2021 para que a Far Peak de Farley e outros investissem cerca de US$ 840 milhões. Isto corresponde à 9% da empresa, com seu patrimônio em US$ 9 bilhões. Essa manobra teria facilitado a abertura de capital para a Bullish em comparação com a rota tradicional. O IPO é uma alternativa mais cara e exigiria maior escrutínio da SEC.

Ao contrário da Coindesk e Binance, a Bullish limita seu foco a investidores institucionais. Oferece cerca de duas dezenas de principais criptomoedas, a maioria das quais negocia apenas contra a stablecoin USDC, conforme mostra seu site. A exchange oferece negociação à vista e com margem, e a partir de 7 de dezembro, contratos futuros perpétuos de bitcoin e ether. Os futuros perpétuos permitem que investidores assumam posições sobre preços futuros sem terem datas de vencimento fixas, ao contrário dos contratos convencionais de commodities. Certamente, Farley espera se beneficiar da aprovação da SEC para um ETF de bitcoin à vista. Presumivelmente isto abrirá as portas para instituições investirem em ativos digitais.

Os termos da aquisição da CoinDesk entre Bullish e Digital Currency Group não foram anunciados. O Wall Street Journal informou em julho que a venda anterior para um grupo de investidores liderado por Matthew Roszak, da Tally Capital, e Peter Vessenes, da Capital6. Na ocasião a transação teria sido no valor de US$ 125 milhões, e que o CoinDesk teve receita de US$ 50 milhões em 2022.

No anúncio da nova transação, Farley, de 48 anos, foi citado dizendo que “a Bullish injetará imediatamente capital em várias das iniciativas de crescimento da CoinDesk, que impulsionarão o lançamento de novos serviços, eventos e produtos.” Os detalhes não foram revelados, mas a empresa afirmou que a atual administração do CoinDesk será mantida.

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Sobre os rumores da FTX, marca que tem um valor questionável para a Bullish ou qualquer outra pessoa, a exchange de cripto antes bem-sucedida tem uma valiosa base de clientes estimada em até 9 milhões. Seus outros ativos incluem um tesouro de criptomoedas, que se recuperaram rapidamente junto com os mercados de cripto. De acordo com uma análise recente da Forbes, os ativos digitais da FTX, incluindo solana e bitcoin, deveriam representar boa maior parte, os US$ 15 bilhões que ela deve aos pequenos clientes.

Um ativo que não havia mostrado muito movimento desde a falência da FTX era seu próprio token de lealdade chamado FTT. Segundo dados da Arkham Intelligence e Nansen, a massa falida detém cerca de 260 milhões de FTT. Após atingir uma máxima acima de US$ 84 em setembro de 2021, com um valor de mercado de mais de US$ 9,3 bilhões. Na véspera da desintegração da exchange, o FTT caiu para cerca de US$ 25 e depois despencou abaixo de US$ 1 para fechar em 2022. Estava ainda perto desse nível em meados de agosto. No entanto, desde o relato de que a Bullish e outras empresas estavam analisando os ativos da FTX, o preço saltou para quase US$ 5. Isto adiciona cerca de US$ 1 bilhão ao valor da exchange falida.

A ideia de que a FTX poderia ser revivida por Farley recebeu uma bênção qualificada de ninguém menos que Gary Gensler. “Construa a confiança dos investidores no que você está fazendo e garanta que você está fazendo as divulgações adequadas – e também que você não está misturando todas essas funções, negociando contra seus clientes. Ou usando seus ativos de cripto para seus próprios fins.”

* – Special Purpose Acquisition Company: empresa de aquisição com propósito especial, em tradução livre. A grosso modo, é uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) que lança ações para levantar capital e adquirir empresas de determinado ramo. Se a aquisição der errado, os investidores saem no prejuízo. Caso bem sucedida, os lucros podem ser estratosféricos.

(Tradução de Chico Stefanelli)

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