Roberto Azevêdo, que completou 66 anos em outubro, é chamado de embaixador na maior parte das vezes, ao ser abordado por seus pares, referenciado em eventos ou numa roda de amigos, embora não exerça mais essa função diplomática. Morando em Nova York e sócio da YvY Capital, hoje sua lida se concentra na gestora de recursos que visa a transição para uma economia verde. Mas nada define melhor o engenheiro que ingressou na vida diplomática no início dos anos 1980, e que foi diretor geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) por dois mandatos, do que ser chamado de embaixador.
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Tomador de causas, sua mais recente missão é organizar um plano de posicionamento e de ações do agro brasileiro para a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), entendida que reúne de grandes empresas nacionais, como Bayer, Cargill, CNHIndustrial, SLC, JBS, Raízen, a pequenos produtores, organizados na OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), além de instituições diversas que vão da Embrapa a Banco do Brasil, Itaú e Vivo, entre outras.
Na Abag, a primeira missão de Azevêdo não poderia ser outra: estar em Dubai, para a COP28 (Conferência das Nações Unidades sobre as Mudanças do Clima), encerrada nesta terça-feira (12). Nas próximas semanas, ele pretende apresentar à Abag suas ponderações sobre o que viu e presenciou. “A inserção do agronegócio brasileiro no plano internacional precisa ser muito bem pensada. Quais são os grandes problemas? Qual é a melhor forma de dar tratamento a cada um deles? Quais vamos priorizar, porque não é possível dar tratamento igual a tudo”, diz ele. “Acredito que a força da nossa estratégia está mais na credibilidade e na legitimidade das coisas”, se referenciando ao largo espectro de inserção da Abag no setor da produção de alimentos e bioenergia.
Para ele, há uma tarefa que vai além das COPs, eventos que fazem parte de um processo constante de marcação de posições. “Há uma preocupação não apenas do Brasil, mas do todo mundo inteiro, porque até em elementos básicos da negociação é difícil encontrar convergência, por exemplo, nos combustíveis fósseis, que é o coração do problema”, diz ele. “Estamos falando da maior fonte de emissão de gás carbônico do planeta hoje e se temos dificuldades em reconhecer que esse é um problema, então há uma situação dramática do ponto de vista negocial.”
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Para ele, ao jogar a bola do aquecimento global para a agricultura e pecuária, o mundo foge de sua missão primeira, que são os combustíveis fósseis. “Não é possível colocar tudo dentro do mesmo saco: agricultura, pecuária e desflorestamento”, diz ele. “Cada uma delas tem uma lógica e uma capacidade de contribuir para a questão climática ambiental completamente diferente uma da outra.” Por exemplo, em relação ao desmatamento, Azevêdo coloca como uma “questão legítima”, mas no caso da agricultura e pecuária é preciso uma posição firme perante o mundo.
E explica: “a questão da falta de convergência em torno dos combustíveis fósseis é uma preocupação de todos, exceto dos que produzem combustíveis fósseis ou são dependentes dele. Passar a conta para o agronegócio é preocupação sobretudo para quem tem um agronegócio forte, e de quem tem ou não tem florestas. Essa é uma questão histórica, porque a conta não vai cair para os países sem florestas.”
Azevêdo define as mesas de negociação, um lugar comum na sua trajetória diplomática, que devem ser vistas como de fato o são. Ou seja, os países se sentam ali com propósitos supranacionais, mas todos o fazem também olhando para seus interesses nacionais. “Temos de ser realistas para entender essa pluralidade de interesses”, afirma. Para ele, o principal erro cometido é a simplificação de narrativas e que muitas vezes a solidez científica dos números é deixada de lado. Azevêdo se refere, por exemplo, a uma simplificação de que nenhuma vegetação nativa possa ir para o cultivo de alimentos.
“Claro que o Brasil tem tecnologia e disposição para aumentar sua produção nas terras já abertas, mas quando se diz isso é como congelar o tempo e não se faz mais nada”, afirma. “Não estou falando de Brasil, mas por exemplo do continente Africano, que tem capacidade de aumentar a sua produção e favorecer a qualidade de vida de milhões de pessoas que vivem na pobreza. É essa lógica que precisa ser aprofundada e que hoje é uma discussão sem granularidade, mas que não pode ser simplista”. Além da África, Azevêdo coloca como aliados do Brasil nessa questão os países da América Latina e Ásia. “Não é verdade que esse tema só interessa ao Brasil.”
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Para os próximos dois anos, tempo que levará até o país ser palco de uma COP, a de número 30, marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), e confirmada pela ONU em maio deste ano, o Brasil tem a missão pautar, ou pelo menos tentar seu protagonismo para a relevância que construir até lá. “Como anfitriões e como presidente da reunião, vamos ter capacidade de também colocar as luzes sobre temas que são importantes para o Brasil. O governo brasileiro tem dois anos para estudar, planejar para ter uma visão estratégica do que a gente quer nessa COP30”, diz Azevêdo.
Em relação ao Brasil assumir a “bola da produção de alimentos”, seus impactos e consequências, e fazer um gol na rodada, Azevêdo é pragmático: “é preciso se preparar e ter foco nos temas que realmente são prioritários para o Brasil, dialogando com outros setores, com o setor privado para definir estratégias. Porque uma coisa é você pegar (a bola) e querer, a outra é você pegar e conseguir. Temos que ajudar o governo e o governo tem de nos ajudar, também, porque o esforço para a COP30 no Brasil deve ser coletivo”.
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