COP28: gigantes do leite prometem reduzir o metano em suas cadeias de produção

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VirginClara Bastian/Guetty

Aliança no setor leiteiro criada na COP28 visa monitorar o metano no setor leiteiro

Seis das maiores empresas de laticínios lançaram nesta terça-feira (5), na COP 28, em Dubai, uma aliança inédita para reduzir as emissões de metano. O metano, um gás de efeito estufa altamente potente, pode aquecer o planeta até 27 vezes mais rápido do que outros gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono. As seis empresas que anunciaram a aliança são Kraft Heinz, Lactalis USA, Nestlé, Danone, Grupo Bel e General Mills. Juntas, essas empresas representam US$ 200 bilhões (R$ 980 bilhões) em receitas e processam alimentos que chegam a quase todos os lares do planeta.

O anúncio das empresas de laticínios é um divisor de águas nos esforços globais para enfrentar o aquecimento global. Sendo esta a primeira vez que entidades do setor agrícola, especificamente empresas de laticínios, se comprometem coletivamente a combater as emissões de metano.

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O desenvolvimento representa uma mudança significativa de foco. Historicamente, os esforços e compromissos para reduzir as emissões de metano se concentraram predominantemente no setor do petróleo e do gás, embora a agricultura seja a maior fonte de emissões de metano. Vale registrar que as emissões de metano relacionadas com o petróleo e o gás ocorrem em diferentes fases de perfuração e produção e, por vezes, quando os poços de petróleo são abandonados.

O compromisso de reduzir as emissões de metano por parte destes gigantes do leite surge apenas três dias depois de 50 empresas petrolíferas, que representam quase metade da produção global de petróleo, terem assumido o compromisso de reduzir as emissões de metano para perto de zero até 2030.

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A importância desta medida não deve ser superdimensionada, mas é importante equilibrar a celebração do acordo com o foco no futuro. Isso significa que todas as partes interessadas estão tomando medidas decisivas e eficazes, garantindo que anúncios como estes se traduzam em progressos substanciais na mitigação das alterações climáticas.

O que é necessário agora?

O que é necessário agora é a responsabilização, porque as pessoas, de modo geral, já estão cansadas de promessas climáticas não cumpridas. Por exemplo, os países desenvolvidos, na COP 15, prometeram pagar US$ 100 bilhões por ano aos países em desenvolvimento, promessa que ainda não foi cumprida. Para garantir uma maior responsabilização por este anúncio, é portanto essencial que todas as principais partes interessadas – incluindo governos e investidores – supervisionem e façam cumprir ativamente estes compromissos.

Ação para governos

Os governos devem refletir com ousadia a redução do metano proveniente da agricultura nos seus novos planos e compromissos nacionais em matéria de clima. Quase 151 países, dos 193 que assinaram o Acordo de Paris, que estabelece a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius até 2050 – por meio das NDC (Contribuições Determinadas Nacionalmente, na sigla em inglês). Estas NDC podem ser vistas como planos de ação nacionais.

Há perspectiva de que os países definam novas contribuições revistas dentro de dois anos. Estas deverão refletir a ambição de reduzir as emissões de metano provenientes da agricultura. Países como os Estados Unidos, que fazem parte do Compromisso Global para o Metano, deveriam, em particular, refletir esta ambição.

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Atualmente, as contribuições determinadas em nível nacional apresentadas pelos EUA refletem apenas a ambição de gerir o metano proveniente do petróleo e do gás, bem como do estrume animal, que constituem apenas uma parte das emissões de metano. A fermentação entérica, responsável pelo dobro do metano liberado em comparação ao manejo de esterco da agricultura nos Estados Unidos, também merece atenção. A fermentação entérica é o metano liberado do processo digestivo do gado e pode ser reduzida por inovações como aditivos alimentares redutores de metano.

Ação para investidores

No mercado, investidores com ações ou qualquer outra participação nestas empresas têm um papel fundamental em responsabilizá-las pela monitorização e relatórios periódicos. Devem aproveitar a interação com as empresas, por meio de iniciativas de envolvimento para verificar a existência de greenwashing, o que significa compromissos ousados ​​assumidos sem qualquer ação ou evidência.

A Iniciativa FAIRR, uma rede colaborativa de investidores que aumenta a conscientização sobre os riscos e oportunidades ambientais, sociais e de governança (ESG) no setor alimentar global, analisou as emissões de 60 dos maiores produtores de gado e descobriu que apenas duas dessas empresas estabeleceram metas para reduzir as emissões de metano. Definir metas claras e mensuráveis ​​é crucial; sem elas, é como atirar no escuro – os esforços podem ser bem-intencionados, mas carecem de direção e impacto. Agora, parece que a aliança leiteira se concentrará na medição e na elaboração de relatórios, mas sem estabelecer metas específicas, mas isto pode não ser suficientemente motivador.

À medida que se caminha para uma era de maior consciência ambiental, o compromisso destes gigantes do leite oferece um vislumbre de esperança e um modelo a ser seguido por outros. Em particular, é crucial que outras empresas com elevadas emissões de metano, como os principais produtores de carne bovina, reconheçam a importância de estabelecer metas claras para reduzir as suas emissões de metano. A “revolução dos laticínios” pode inspirar alianças semelhantes na indústria, espalhando uma onda de mudanças ambientais positivas.

*Simi Thambi​ é colaboradora da Forbes EUA e economista climática. Já trabalhou com organizações como as Nações Unidas, Fundo Monetário Internacional e governo da Índia. Atualmente lidera o trabalho de avaliação de cenários de risco climático para a Iniciativa FAIRR, rede global com cerca de 380 investidores e US$ 70 trilhões em ativos combinados.

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