Kathleen Hicks, vice-secretária de Defesa dos Estados Unidos, está acelerando o projeto Replicator, que busca produzir rapidamente milhares de drones pequenos e altamente capazes a baixo custo. Isso seria fácil no setor comercial, mas no âmbito militar é como desafiar a lei da gravidade.
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O desafio está nos altos custos de construir um dispositivo conforme as especificações militares e que seja capaz de passar por todas as etapas de certificação, teste e aprovação.
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No conflito entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, ambos os lados implantaram dezenas de milhares de pequenos drones comerciais, como os Quadricópteros de consumo, com custo inferior a US$ 2.000, que tornaram-se vitais para a reconhecimento tático, ajuste de fogo de artilharia e transporte de bombas. Drones de corrida FPV, com custo de US$ 400, também são usados para destruir tanques e outros alvos. A organização ucraniana Fundraisers United24 recentemente mostrou imagens dos primeiros 800 itens de um lote de 3.000 drones FPV que serão enviados para a linha de frente, todos construídos localmente.
Alguns dos modelos feitos na Ucrânia são altamente sofisticados, com o tipo de autonomia que Hicks parece estar buscando para o projeto Replicator.
Porém, para repetir esse feito com o Replicator, a vice-secretária enfrentará um grande desafio das práticas consolidadas dos EUA. As equipes contratadas são às vezes acusadas de adicionar componentes desnecessariamente caros aos seus produtos para aumentar os lucros, uma prática conhecida como “chapeamento de ouro”. Isso pode ser um eufemismo, visto que alguns drones seriam mais baratos se fossem feitos de ouro maciço.
Reconhecimento de curto alcance (mas alto custo)
O drone Skydio 2, que um revisor chamou de “assustadoramente inteligente” graças à IA embutida, era vendido por US$ 999. A inteligência permite que ele se fixe no operador e o siga sem as mãos, orbitando ao redor ou acompanhando-o enquanto esquia, anda de bicicleta ou patina, evitando obstáculos. Infelizmente, não está mais disponível, pois a Skydio se afastou do mercado de consumo em agosto.
A empresa, em vez disso, produziu o Skydio RQ-28A, uma versão militar com recursos não encontrados no modelo de consumo, incluindo um visor térmico para operações noturnas e software para enviar dados a sistemas militares, além de um tempo de voo de 35 minutos. O Exército também pode ter exigido várias outras alterações para atender aos requisitos de sobrevivência em altas e baixas temperaturas e lidar com interferência eletrônica.
Essas mudanças tendem a aumentar o preço do produto final. De acordo com o orçamento de aquisição atual do Exército dos EUA, um conjunto de drone de reconhecimento de curto alcance, incluindo dois drones e uma unidade de controle terrestre, custa US$ 39.806. Isso é aproximadamente US$ 20.000 para cada drone.
Mas o Exército acabará pagando muito mais por seus quadricópteros. O Skydio RQ-28A já está programado para ser substituído por um sistema mais avançado, conhecido como SRR Tranche 2, que pode ser produzido pela Skydio ou por um concorrente. Os drones Tranche 2 adicionam a capacidade de evitar obstáculos à noite, autonomia avançada, GPS militar de alta precisão (Código M) e comunicações resistentes a interferências, além de um tempo de voo de 45 minutos.
Esses extras elevam o custo para cerca de US$ 100.000 por drone. Supondo um peso semelhante ao do RQ-28A — aproximadamente 2.267 gramas, os drones custam cerca de 30% menos que o ouro.
Os guardiões
O orçamento de P&D da Marinha para 2024 descreve um projeto chamado Goalkeeper como uma continuação do anterior LOCUST. Este projeto, abreviação de “Tecnologia de Enxame de Veículos Aéreos Não Tripulados de Baixo Custo”, envolvia enxames de pequenos drones Coyote, da Raytheon, lançados de navios, aeronaves ou submarinos em grupos de até 50 atacantes.
A produção do drone Goalkeeper é detalhada no Orçamento de Munições da Marinha, que mostra que o primeiro lote de 900 Sistemas de Armas Autônomas Goalkeeper custará US$ 243 milhões. O que resulta em US$ 270.000 por drone.
Isso não chega exatamente ao nível do ouro; com 5,8kg, um Coyote de ouro maciço seria cerca de 50% mais caro. De acordo com uma peça de 2016 no Military.com, os Coyotes custavam cerca de US$ 30.000, mas as especificações cada vez mais altas multiplicaram o seu custo.
O objetivo do Goalkeeper é produzir enormes enxames de drones para sobrecarregar as defesas aéreas inimigas. Entretanto, o programa de bilhões de dólares entregará apenas 4.000 drones ao longo de vários anos. Isso é muito menos do que a Ucrânia usa em um único mês (cerca de 10.000, de acordo com o think tank britânico RUSI) e certamente não o suficiente para uma campanha sustentada.
Blackjacks de ouro
Subindo na escala de preço, encontramos que o orçamento da Marinha de 2017 registra a compra de drones RQ-21 Blackjack a um custo final de US$ 16,2 milhões por sistema. Cada sistema inclui cinco drones e dois controladores terrestres, ou pouco mais de US$ 3 milhões por drone.
(Em 2019, os EUA aprovaram a venda para os Emirados Árabes Unidos de 20 Blackjacks mais suporte por US$ 80 milhões, ou US$ 4 milhões por drone).
O Blackjack tem uma envergadura de 15 pés e uma autonomia de voo de 16 horas, com uma variedade de sensores diurnos e noturnos e equipamentos de retransmissão de comunicações. Em 2017, quando a compra foi feita, o preço do ouro era cerca de US$ 18.000 por libra (453 g), então o Blackjack parece ter custado mais do que seu peso em ouro.
O Replicator pode quebrar o padrão?
A vice-secretária Hicks está bem ciente de como o custo dos programas de drones tende a disparar. Para vencer contratos do Replicator, os fornecedores precisarão explicar como manterão os custos baixos ao longo do processo de desenvolvimento e produção.
Em novembro, o Exército divulgou um documento vinculado ao Replicator pedindo aos contratantes que descrevessem como poderiam fornecer um pequeno drone com visão diurna/noturna e uma autonomia de 30 minutos por menos de US$ 3.000 por unidade. Isso está de acordo com os drones comerciais, mas é uma pechincha para hardware militar.
O Replicator foi inspirado no sucesso da Ucrânia em produzir massas de drones de reconhecimento e ataque a baixo custo. Mas mesmo na Ucrânia há reclamações de agiotagem. Um operador de drone ucraniano citado pelo The Guardian criticou empresários – “pequenos ricos czares” – que produziram drones FPV por US$ 400 e os venderam para grupos voluntários por US$ 650. A Ucrânia depende dos EUA para itens de alto valor, como tanques M1 e mísseis ATACMS, que eles não podem construir por conta própria. Se os EUA podem competir com a Ucrânia no outro extremo do mercado, onde os lucros são menores, é outra questão.
O post Drones do Pentágono custam seu peso em ouro apareceu primeiro em Forbes Brasil.