Surfe brasileiro atravessa ondas e chega às cidades como um negócio sólido

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Staff Images/WSL Brasil

Até 2014, nenhum brasileiro havia ganhado um campeonato mundial de surfe. De lá para cá, foram 7 mundiais para a história do país

O Brasil tem aproximadamente 7,5 mil quilômetros de extensão litorânea e, mesmo assim, o espaço está ficando pequeno para os surfistas. A verdade é que, com o crescimento constante da paixão dos brasileiros pelo esporte, com a base de fãs ultrapassando os 45 milhões e o número de surfistas praticantes chegando em 3 milhões, de acordo com dados da International Surfing Association (ISA), o negócio precisou deixar as praias e seguir para as grandes capitais, mesmo as que não tem praias (verdadeiras).

Os números não mentem. Apenas em 2023, a WSL (Liga Mundial de Surfe) movimentou mais de R$ 110 milhões com a organização de competições no Brasil. A etapa mais importante do esporte, que acontece em Saquarema, no Rio de Janeiro, fez mais de R$ 97 milhões circularem pela região, sendo que as famílias foram impactadas com aproximadamente R$ 18 milhões em rendimentos, além de mais de 500 empregos gerados, de acordo com dados divulgados pela EY.

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Esses dados são motivados pelo desempenho do país no esporte. Até 2013, nenhum atleta que não fosse norte-americano ou australiano havia ganhado um campeonato mundial de surfe. Porém, o cenário mudou completamente em 2014, quando Gabriel Medina ganhou o seu primeiro título mundial e trouxe uma onda de sucessos para os brasileiros, que desde lá conquistaram 7 edições do campeonato.

“Nenhum outro esporte no país teve tantos anos consecutivos de sucesso com o surfe, principalmente quando pensamos em um geração de atletas vencedores e não apenas uma estrela”, afirma Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina. “Com isso, pensando no negócio como negócio, a liga precisou entender como transformar esse sucesso em múltiplas fontes de renda, que hoje se concentram em direitos de transmissão e patrocínios, que são a nossa maior fonte de receita, e vendas de produtos e eventos”.

O esporte realmente virou um exemplo quando se fala de patrocinadores. Em 2022, a etapa de Saquarema contou com 22 patrocinadores, recorde da liga, que incluíram nomes como Corona, Apple, Red Bull, Candy Crush e Banco do Brasil. Em 2023, a liga reorganizou as cotas dos patrocínios, reduzindo o número para 16 marcas, mas também com grandes nomes como Natura, que nunca patrocinou esportes, e Vivo, master da etapa deste ano.

Na visão de Denise Coutinho, diretora de marketing da Natura Brasil, o patrocínio de uma das marcas de perfume da companhia tem conexão direta com o que o surfe apresenta dentro e fora das praias. “Para nós é muito importante a conexão com um público que hoje é atento à preservação dos oceanos e que valoriza as marcas que pensam no seu impacto ao escolher o que consomem. Buscamos, por meio do patrocínio, destacar o nosso jeito de fazer produtos e o compromisso da marca com a despoluição dos oceanos”, afirma.

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Coutinho conta que, no primeiro ano de parceria, os resultados já foram bastante expressivos. “Durante o período do Championship Tour, nosso site teve um aumento de cerca de 300% no número de acessos. Além disso, a marca também cresceu nas buscas no período da competição e viu seu engajamento nas redes sociais ficar acima da média”, diz. “Em pesquisa realizada com o público presente no evento, a marca de perfume foi a 4ª mais lembrada, atrás apenas de patrocinadores masters que possuem maior investimento e presença em outras etapas da WSL”.

Para a Vivo, o investimento no surfe é reflexo da convicção da empresa sobre o papel do esporte como um agente de transformação social e de conexão entre os brasileiros. “O surfe é um esporte democrático que está presente em muitas regiões do Brasil, assim como a Vivo, e conecta as pessoas com a natureza e momentos de bem-estar. A parceria com a WSL reforça os valores e visão da marca – que além de levar cobertura a todo País, aposta na relação da tecnologia com temas contemporâneos como a sustentabilidade, o bem-estar físico e mental”, afirma Marina Daineze, diretora de Marca e Comunicação da Vivo.

Em sua visão, essa conexão genuína contribui para o crescimento dos esportes outdoor e presença da marca nos patrocínios, “que deve conquistar ainda mais admiradores e praticantes ao longo dos próximos anos”.

Conquistando novos territórios

A ideia da WSL realmente é conquistar novos admiradores e participantes, tanto em novos locais na América Latina, como Chile, Peru, Equador, Argentina e outros, mas também dentro do Brasil, que traz tanto retorno para a liga.

De acordo com o presidente da WSL, existem diversos fãs do esporte que moram no interior, em cidades onde a prática do surfe não é possível (ou não era). Agora, com o aumento da tecnologia, as praias, o campo e o asfalto estão cada vez mais conectados.

“O surfe está invadindo um espaço que antes era apenas do golfe, do tênis e do hipismo, por meio das piscinas de ondas que estão sendo feitas em condomínios de alto padrão no interior das grandes capitais”, diz Martinho. “Hoje, existem duas praias artificiais no país, uma na Praia da Grama e outra no Boa Vista Village, mas, em pouco tempo, o Brasil vai ser recordista mundial em número de piscinas, o que deve aproximar ainda mais o esporte dos fãs”.

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A WSL realizou, no fim de outubro, a primeira competição fora do mar, que, na visão do executivo, foi um sucesso. “Todos os envolvidos adoraram: atletas, patrocinadores, representantes da Praia da Grama, o staff e os fãs. Sem dúvida, isso vai revolucionar o esporte e levá-lo para uma audiência ainda maior”, afirma. Para ele, os novos espaços também devem trazer um público diferenciado para o esporte, o AAA, que frequenta esses condomínios.

“Não existe esporte sem dinheiro. E é isso que estamos procurando, aumentar as nossas fontes de renda, trazer o público para perto e transformar o surfe em algo cada vez mais rentável e sustentável para todos os envolvidos”, complementa Martinho.

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