O que aprendo com minha irmã enquanto ela está em coma

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Marcos Medeiros

Para você, que tem um familiar passando por um problema de saúde, recomendo aprender a controlar o que está ao seu alcance

Justo eu que dediquei um artigo inteiro aos benefícios de escrever cartas, não consegui dedicar uma única linha para ela. As palavras romperam comigo.

Justo agora que pausei a minha carreira corporativa para conseguir escutar a canção da vida. Na minha idealização, seria capaz de me apoderar do remo do barco, dominar a minha vida, assim como o barqueiro do Livro dos Cantos Potentes.

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Já estava tudo planejado. Dois meses para organizar a casa e a vida da família. No terceiro mês, iniciaria os cafés e almoços de trabalho. Nada mais inspirador e mobilizador do que começar o dia com um pastel de nata e um espresso na Praça das Flores. Em seis meses, estaria produzindo projetos espetaculares e impactantes aqui, além-mar.

Porque a mente é como um espelho; ela acumula pó enquanto reflete. Ela necessita a brisa suave da sabedoria da Alma para afastar o pó das nossas ilusões. Tenta, ó iniciante, unir tua Mente e tua Alma. Helena Blavatsky (escritora, filósofa e teóloga russa me alertou sobre o crescimento nos momentos mais dolorosos da vida).

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Quando a Carol nasceu, eu tinha quatro anos. Ela, a quarta filha. Minha mãe adora contar a história de que eu me recusava a ir embora da maternidade quando fui visitá-las. Não por ciúmes ou por estar com saudades da minha mãe. Chorei até ficar sem fôlego pois não admitia a possibilidade de me separar daquela que seria a minha melhor amiga.

A Carol é a pessoa mais inteligente da família, considerando muitas gerações dos dois lados da família materna e paterna. Ela conseguiu realizar o maior sonho do meu pai: uma filha formada pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Quanta pompa e elegância não fosse pelo episódio, logo no primeiro ano, de sair na capa do maior jornal do Brasil vestida de Tabasco, juntamente com um grupo de amigas (hoje, juízas e promotoras), segurando, orgulhosamente, uma garrafa de procedência duvidosa, na peruada, festa tradicional da faculdade.

Não existe no mundo um nome mais homenageado que o seu.

A Carolina do Chico Buarque, que guarda tanto amor. A do Luiz Gonzaga, que foi pro samba e deixou todo mundo caidinho pelo cheiro que ela tem. A Carolina Carol bela do Toquinho. A que chora e canta do Martinho da Vila. A Carolina do Seu Jorge que é uma menina bem difícil de esquecer. E a mais importante de todas, a minha irmã Carolina, que é a que transborda vida.

A minha irmã caçula é uma combinação retumbante de inteligência com escárnio. Generosidade com reclamação. Entusiasmo com preguiça. Sarcasmo com sensibilidade. Ela ocupa, sem pedir licença, cada centímetro cúbico por onde passa.

Como eu seria capaz de aceitar que ela, aos 44 anos, no auge da sua vida pessoal e profissional, esbanjando saúde, e que teve no máximo dois episódios de resfriado, tenha sofrido um AVC hemorrágico enquanto praticava spinning? Justo ela que bradava aos quatro ventos que seu esporte favorito era levantamento de copo.

Gilberto Gil que me perdoe o sacrilégio, mas:

A raiva, invadiu o meu coração
De repente me encheu de raiva …

Como não sentir raiva? A Carol não merecia passar por isso. A Luiza, filha de 2 anos e 9 meses, não merecia passar por isso. O Beto, seu marido tão amoroso, não merecia passar por isso. Meus pais, que perderam um filho há 4 anos, não mereciam passar por isso. Mas existem coisas que não podemos mudar.

A aceitação é uma força que ignoramos porque somos condicionados a enfrentar, lutar e esbravejar.

Somente depois de 28 dias do acidente, com esforço extraordinário, passei a entender que aceitar é estar lúcida do momento presente. Aceitar aquilo que a vida nos apresenta é a única saída. É parar de resistir à própria vida. Ponto.

Foi preciso aprender a respir-Ar. Dizer para o meu diafragma que aquelas 32 respirações por minuto não estavam ajudando em nada. Pelo contrário: o pânico tomou conta de mim. A sombra queria tomar o lugar da minha luz.

A fé sincera e verdadeira é sempre calma. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança.

Para nós, acostumados com prazos e a pressão do “tudo para agora”, lidar com uma situação como essa mostra que Kairós, o senhor do tempo que não pode ser controlado, reina absoluto.

Para você, que teve ou tem um familiar ou amigo passando por um problema de saúde (físico ou mental), recomendo aprender a controlar o que está ao seu alcance: a sua saúde, a sua vibração (que vai chegar até a pessoa amada) e o mais importante: a sua fé.

Sem fé, não temos esperança, e sem esperança não temos propriamente vida – Fernando Pessoa

P.S.: Até a publicação deste artigo, a Carol ainda estava inconsciente. Nós, familiares, amigos e equipe médica, seguimos unidos através do sentimento mais poderoso do universo: o AMOR. O amor cura. Disso você pode ter certeza.

Luciana Rodrigues é executiva C-level do setor de comunicação, mentora e conselheira.

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