Antes mesmo de assumir uma cadeira de marketing no TikTok, a executiva Silvia Belluzzo já era usuária do aplicativo – mais como espectadora, principalmente para brincar com suas filhas, de cinco e oito anos. “É uma plataforma de descobertas”, diz ela.
No início de 2022, descobriu que o app poderia também ser um canal para negócios. Head de marketing do TikTok para pequenas e médias empresas na América Latina, foi a primeira pessoa contratada para trabalhar com foco nesses empreendimentos, um ano depois de a companhia abrir operações no Brasil.
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Antes do TikTok, Belluzzo passou pelo marketing de outras multinacionais, seguindo sua marca registrada de não repetir segmentos. “Sentava numa mesa com pessoas que tinham 20 anos no setor e tinha licença para fazer as perguntas que todo mundo já sabia a resposta”, diz ela. Isso não é vergonha alguma. Pelo contrário, trazia uma visão fresca para o negócio. “Esse olhar de fora me permite propor coisas que até então não foram propostas, sem pensar nas limitações do segmento”, afirma a executiva, que foi da hotelaria à mídia e se vê como uma “guardiã da experiência online”, seja qual for o setor.
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A criação do cargo que ela ocupa hoje prova que o TikTok vai muito além das dancinhas. Segundo dados da empresa, três em cada quatro usuários da plataforma compraram um produto depois de vê-lo por lá.
No Brasil, 15% dos usuários são mais propensos a consumir de pequenos e médios negócios. “Hoje, escuto bem menos que ‘o TikTok não é para o meu negócio’, mas ainda existe um caminho gigante pela frente”, diz a executiva, cujo trabalho é impulsionar esses empreendedores com treinamentos e incentivos, como um concurso que vai distribuir R$ 1,5 milhão a donos de pequenos e médios negócios.
Esta semana, Belluzzo liderou a segunda edição do TikTok Para Elas, evento em parceria com o grupo Mulheres do Brasil, focado em empreendedorismo feminino. São mais de 10 milhões de mulheres que empreendem no país, a maioria por necessidade. “São mulheres que não têm estrutura ou uma equipe por trás e a plataforma tem o potencial de conectar com a sua comunidade”, diz. A hashtag #EmpreendedorismoFeminino tem mais de 4 bilhões de visualizações na plataforma.
Andreia Justos, mecânica que conheceu Belluzzo em um evento do TikTok, decidiu usar a plataforma para divulgar sua oficina, a Queens of Engine, voltada para o público feminino. Em menos de 24 horas, a empreendedora ganhou mais de 14 mil seguidores – hoje são 34 mil –, virou garota propaganda do TikTok e hoje é reconhecida na rua.
Carona no digital
“Early adopter”, como se define, Belluzzo conta que sempre esteve antenada quando o assunto é internet e redes sociais – o que fez sua carreira deslanchar. Logo no primeiro emprego, em 2004, como estagiária de marketing na rede de lojas de aeroporto Dufry, surpreendeu sua chefe com a habilidade de construir sites e ajudou a montar o 1º e-commerce da empresa. “Eu era extremamente tímida, quase me enfiava no computador de tanta vergonha. Dominar a tecnologia me ajudou a crescer”, lembra. Formada em publicidade e ciências sociais, a carioca aprendeu a linguagem HTML sozinha e fuçou nos códigos para criar um blog de música que atingiu 10 mil leitores mensais. “Cresci muito rápido porque tinha um conhecimento muito específico para a época.”
Foi a ebulição do digital e também da sua carreira. A executiva se desenvolveu no e-commerce e passou pela Tim antes de ir para a multinacional hoteleira Accor, onde chegou para criar do zero o site no Brasil. “Em um mês, virou o terceiro site da empresa mais acessado do mundo”, diz ela, que virou case do Google com uma campanha que gerou mais de 100 vezes o retorno sobre o investimento.
E também convenceu o presidente de que a empresa deveria entrar no Twitter (hoje X) – ela mesma já usava a rede social desde o lançamento – e depois no Facebook. “Entendi bem no início que aquilo era importante para abrir um diálogo com o consumidor.”
Caminho da educação
Tudo isso era negociado em francês e inglês, em um momento em que o idioma ainda era visto como uma questão na sua trajetória. “Na época de trainees, eu era muito boa nos processos, mas sempre era reprovada na última etapa na entrevista de inglês.”
Assim que ganhou um dinheiro a mais com um freela, foi para Miami aprender a língua. “Todo mundo me sacaneou, mas era o que o meu dinheiro podia pagar”, diz ela, que hoje responde para uma chefe em Singapura, faz reuniões com as lideranças globais no escritório em Nova York e palestra em grandes eventos internacionais. “Por mais que eu seja fluente, a síndrome da impostora ainda bate muitas vezes.”
Antes de ir para o TikTok, também passou mais de sete anos na multinacional de tecnologia HP, período em que teve suas duas filhas e colocou de pé uma nova área. “Era um ambiente de startup numa empresa gigante de 80 anos”, diz. Entrou sozinha e saiu à frente do marketing do e-commerce de toda a América Latina e Canadá.
Silvia vem de uma família humilde da Baixada Fluminense e que sempre deixou claro que a educação seria o caminho para conquistar uma vida fora do “Rio de Janeiro que as pessoas não querem visitar”. “Não ia chegar muito longe se não fosse pelos estudos”, diz ela, que alcançou posições de liderança em gigantes de diferentes segmentos. Mas que, do alto dos seus cargos, não perde a “mão na massa”. “Saber fazer e entender aquilo que estou pedindo pro meu time me ajuda a não ser a ‘louca do marketing’ e me trouxe respeito por onde eu passei.”
A jornada de Sílvia Belluzzo, diretora de marketing de negócios para PMEs do TikTok na América Latina
Primeiro cargo de liderança
“Como head na Accor. Recebi um papel em branco para criar um e-commerce e começar a área do zero. Cheguei lá com muita vontade, mas não sabia muito bem como ia convencer as pessoas, principalmente os franceses. E foi um divisor de águas na minha vida porque a partir do momento que a gente lançou o site, em um mês ele virou o terceiro mais acessado do mundo, nós fomos case do Google, o que me deu muita projeção.”
Quem me ajudou
“No início, eu achava que não precisava de ajuda, achava que era autossuficiente. Mas no meio do caminho fui entendendo que eu não ia chegar a lugar nenhum se eu não tivesse apoio. A minha rede de apoio é muito forte. Minha mãe me ajudou muito no início, minha sogra, e meu marido me traz um conforto que é essencial para eu estar aqui ou trabalhando sem ligar para casa, sabendo que ele vai cuidar das nossas filhas, alimentar e ajudar na lição.”
Turning point da carreira
“Foi na Accor, onde eu percebi que eu conseguia persuadir as pessoas mesmo não tendo tanto domínio do idioma. Percebi que eu tinha uma característica muito positiva como profissional de marketing, porque eu recebi uma página em branco e me voltava para a experiência do usuário. E através dessa melhoria eu conquistei tudo o que eu queria em termos de equipe, recurso, suporte, ganhei autoridade com a gestão, o que me ajudou a justificar outros projetos.”
O que ainda quero fazer
“Nessa jornada que eu comecei no TikTok, pra mim ficou muito claro que o meu propósito é conexão, tanto na minha vida pessoal como no aspecto profissional. Para mim é natural me conectar, trocar mensagem com outras mulheres, com as empreendedoras. Eu venho fazendo isso em todas as empresas e agora também comecei um grupo de carreira, o Movimente, em que eu apoio as pessoas trazendo diálogos e com reuniões semanais. Comecei de uma maneira muito despretensiosa em maio desse ano trazendo minhas questões dentro do Instagram e do LinkedIn, e hoje tem uma média de 200 pessoas que vêm participando. Consigo curar alguns episódios e me sinto devolvendo e contribuindo com a carreira de outras pessoas.”
Causas que abraço
“Sem dúvida, mulheres. A causa das empreendedoras virou meu coração e hoje eu também faço esse trabalho de mentoria de carreira. Percebi que muitas pessoas vinham até mim pra compartilhar tomadas de decisão, momentos de carreira, pedir ajuda, indicação. Também sou embaixadora do grupo Mulheres no E-Commerce, que tem um trabalho de mentoria. Tenho uma rede de apoio que me possibilita ser mãe de duas meninas pequenas e me sensibilizo muito com as mulheres que não têm isso, então as mães solo também são uma causa muito forte para mim.”
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