Um “gearhead” de carteirinha tem que ter algumas experiências no currículo. Percorrer os 20,8 quilômetros de asfalto ondulado e 120 curvas de Nürburgring Nordschleife, visitar o Salão de Genebra, assistir às 500 Milhas de Indianápolis e conhecer o Museo Ferrari são uma espécie de elite das vivências automotivas. Depois de um fim de semana em Seefeld, na Áustria, descobri mais uma: Audi Ice Experience.
Veja fotos do Audi Ice Experience:
Além de vender carros incríveis, a Audi também promove experiências igualmente únicas a seus clientes. Não foi fácil encarar os 7 °C negativos naquela manhã de sábado, mas a beleza dos deslumbrantes Alpes austríacos cobertos por neve compensava. E a diversão programada pela Audi, mais ainda: sobre uma espécie de pista de patinação gigante, um RS e-tron GT e um RS 5 Sportback me aguardavam.
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Respectivamente um elétrico de 646 cv e um 2.9 V6 biturbo de 450 cv, os esportivos das quatro argolas me desafiariam a mantê-los sob controle em um piso que exigia destreza até para nos mantermos em pé. Claro que a tração integral quattro, a marca registrada da Audi quando o assunto é estabilidade, e os pneus com travas estavam a meu favor. Mas ali a questão seria de braço, mesmo.
Depois das apresentações sobre programação, regras e dinâmica dos exercícios, Nik Kunst, um simpático holandês instrutor do curso, revela a primeira missão. Uma sequência de cones intercalados me conduz a um slalom com controle de estabilidade ligado e velocidade limitada a 20 km/h. Moleza… estávamos apenas nos ambientando com a superfície escorregadia.
Na segunda prova, diante de cones pela pista e vindo a 50 km/h, o desafio era frear mantendo o controle dos carros, que sobre o gelo reagem de modo muito distinto em relação ao asfalto. Nessa hora foi possível sentir os quase 700 kg que separam o RS e-tron GT do RS 5 – mais pesado por causa das baterias, o elétrico exigiu mais firmeza na hora de domá-lo.
Mas o Audi Ice Experience merece mesmo es tar na lista “to do” dos apaixonados por carros por te ensinar a fazer drift, o que começa no terceiro exercício. Trata-se de uma técnica de direção que consiste em nunca retirar os olhos de para onde você quer ir e manter o controle, domando o carro quando ele escapa de traseira ou quando ele “perde” a frente, os efeitos como “oversteer” e “understeer”. O objetivo é conduzir na ponta dos dedos, sentindo o carro, controlando o nível de derrapagem e fazendo-o literalmente andar de lado. Aqui, uma dose adicional de emoção: os controles de estabilidade e tração foram desligados. Nes sa hora o frio foi embora e a temperatura subiu.
Observando o Nik, parecia não apenas muito divertido, mas até que fácil. Já na prática… Foi ainda mais divertido, mas longe de ser fácil. Pois não basta apenas manter os olhos na direção de onde você quer ir e girar o volante de acordo; é preciso dosar o acelerador. E talvez esteja aí o truque: instintivamente tiramos o pé do acelerador para manter o carro sob controle, mas em certas situações é justamente o contrário que devemos fazer. É como se dirigíssemos com as rodas traseiras.
“Olhe sempre para onde você quer que o carro vá!” e “Gas, gas, gas!” (para indicar que eu deveria acelerar) eram as instruções mais ouvidas pelo rádio e as que mais ajudavam a completar as manobras de forma eficaz.
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Quando já me sentia o próprio Stig Blomqvist (piloto sueco campeão do World Rally Championship de 1984 com um Audi quattro A2), vem o Nik me dizer para ir mais rápido. E dá-lhe rodopio. Mas tudo bem, pois qualquer experiência de condução no gelo é basicamente um workshop sobre a física do controle do carro e a descoberta dos limites em velocidades baixas em um ambiente aberto e seguro.
O exercício mais difícil, mas mais gratificante (se você acertar), foi um slalom rápido no RS e-tron GT, que realmente testa suas habilidades. É melhor não usar os freios, e sim, em vez disso, contar com a transferência de peso para girar o carro. Mas, em um Audi que pesa 2.345 kg, é muito peso para transferir da frente para as rodas traseiras. O truque é: levante o pé do acelerador, o que moverá o peso para a frente; gire delicadamente o volante, dê um pisão mais forte no pedal para jogar a traseira para fora, gire rapidamente o volante na direção oposta para endireitar para o próximo conjunto de cones. Repita.
Para fechar, tudo o que aprendemos sobre slalom, drift, sobre-esterço em um circuito em formato de 8. E não é que completei a prova de primeira?
Ao fim do dia, fica clara a diferença entre um carro elétrico e um a combustão na hora de deslizar sobre o gelo. No caso do RS 5, os 61,2 kgfm de torque surgem gradativamente, e por isso mesmo o motorista responde mais precisamente ao “timing” de aceleração e desaceleração, fundamental para o drift ser bem executado.
Ao volante do RS e-tron GT, é preciso muito mais treino para dosar a “patada” dos 84,6 kgfm, cuja oferta é instantânea. Qualquer grau a mais ou a menos de inclinação do pedal do acelerador e pronto, o Nik leva as mãos à cabeça, inconformado. Sem contar o peso extra – as baterias de íons de lítio de 93 kWh ficam entre os eixos, melhorando a distribuição de peso, mas mesmo assim a massa a mais é uma questão desfavorável.
Por 1.350 euros (que incluem hospedagem em hotel bem próximo da pista), não há melhor diversão ao volante.
(Reportagem publicada na edição especial LifeMotors, acessível no aplicativo na App Store e na Play Store, no site da Forbes e na versão impressa).
O post Audi Ice Experience: fizemos o curso de pilotagem que junta neve e derrapagens apareceu primeiro em Forbes Brasil.