José Dávila traz sua arte pela primeira vez ao Brasil

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Foto: Agustín Arce/Cortesia do artista e da Galeria Nara Roesler

O artista mexicano José Dávila em seu estúdio em Guadalajara

Presto muito atenção às opiniões dos meus filhos, Alexandre e Daniel, meus sócios na galeria. Temos uma troca que sensibiliza meu olhar, abre minha mente – e eu, a deles -, nos unindo, nos fortalecendo. Desta vez, foi Alexandre, o mais velho, quem trouxe um novo artista para nossa galeria, o conhecido artista mexicano José Dávila. Animada com o projeto, fui pesquisar sua obra, conhecer seu trabalho e visitar o estúdio em Guadalajara, onde Dávila nasceu e trabalha.

Logo percebi a importância de integrá-lo ao nosso portfolio. Foram dois anos de vaivéns, emails, calls, até as peças do “puzzle” entre as partes interessadas, o artista e as galerias que o representam, baterem o martelo, assinarem os contratos e encaixarem as agendas para finalmente inaugurar sua primeira individual no país. Dávila tem uma obra curiosa, muito interessante, de forte apelo estético, apoiada em um sólido currículo de exposições, iniciadas há mais de vinte anos, no seu próprio país, depois nos Estados Unidos e na Europa, e agora no Brasil. 

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Sua individual inaugural, Um pirata, um poeta, um peão e um rei [A pirate, a poet, a pawn and a king], aconteceu sábado último (11/11) em nossa sede na Avenida Europa. O título se refere a uma estrofe do hit dos anos 60, That’s Life, um sucesso retumbante na voz aveludada de Frank Sinatra, mas o importante é a letra que fala sobre o poder que todos temos dentro de nós mesmos de nos reinventarmos a cada queda. Em bom português, “levanta, sacode a poeira e dá volta por cima”, conforme o samba do Vanzolini no vozeirão da eterna Beth Carvalho. “Uma pessoa pode ser um pirata, depois um poeta, um peão e acabar sendo rei… a mesma pessoa”, explica Dávila sobre a questão da constante reinvenção que também move a arte, agente de incessantes metamorfoses.

Veja algumas obras de José Dávila:



Arquiteto de formação com profundo conhecimento da história da arte, o artista trouxe vinte obras, entre esculturas, pinturas, desenhos e instalações, ilustrativas de sua linguagem. Sua obra escultórica, cerne de sua narrativa, baseia-se nos princípios físicos que regem a natureza, como se vê em Esforço Compartilhado (2023). Composta de dois espelhos verticais, pedras e uma alça de catraca, trata-se de um esforço calculado entre equilíbrio (espelhos), peso (pedras), tensão (alça da catraca) que enaltece os opostos, a delicadeza (do espelho) e a força (da tensão), metáfora ao equilíbrio da vida. 

Dávila, que já esteve no Brasil cerca de cinco vezes entre Rio, São Paulo e Brasília (“pela arquitetura de Niemeyer e o traçado de Lucio Costa”), me confessou, em nosso primeiro encontro sua admiração pelo nosso neoconstrutivismo, em especial, pela obra da grande Lygia Pape (1927-2004). Esta influência é perceptível nas serigrafias da série Orden Discontinuo (2020-2023) na qual elementos geométricos intercalados impressos sobre cartão ou papel de algodão incorporam dobras e rasgos criando texturas alternativas que adicionam máculas (da vida) ao perfeccionismo construtivo original. 

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Outro de seus ícones, o filósofo da arte Josef Albers (1988-1976), também está homenageado. As duas obras, Homage to the Square, são precisamente o que diz o título, são homenagens ao quadrado através de exercícios cromático-geométricos que trazem na lembrança a série de desenhos construtivos do pesquisador e professor da Bauhaus, que deu novo impulso  ao modernismo ocidental. No caso de Dávila, o exercício saiu do plano do papel do mestre Albers e se metamorfoseou em obra escultórica aérea. Flutuando no ar, cada escultura é composta por quatro elementos quadrados vazados, ou seja, molduras vazias em aço polido, circunscritas uma dentro da outra, da maior a menor. Em sua simplicidade e beleza, Homage to the Square é de grande efeito cinético. O taciturno professor alemão, certamente, aprovaria. Quem sabe teria até um pouquinho de inveja.

Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) cynthiagarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.

info@nararoesler.art
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/

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