O caminho até o empreendedorismo pode ser traçado de diversas formas, que vão desde a necessidade até a aptidão para o negócio. Porém, a situação de Fabio Hayashi, CEO e fundador da Deal Technologies, empresa focada em transformação digital que faturou R$ 105 milhões em 2022, foi um pouco diferente.
Nascido em Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo, Hayashi tem origens japonesas que permearam as suas escolhas desde o início de sua vida. Seus avós chegaram ao Brasil fugidos da guerra e foram trabalhar em canaviais. Com a proximidade da cana-de-açúcar, o pai de Fabio foi picado pelo inseto barbeiro, causador da Doença de Chagas. A notícia mudou a vida da família e definiu o destino de Hayashi.
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“Nascer em uma família japonesa já exige bastante disciplina, mas ter um pai com chance de morrer a qualquer momento torna o processo ainda mais complexo”, afirma o empresário. “Com isso, eu precisei aprender a ser o ‘homem da casa’ desde cedo e saber tomar decisões que um adolescente não precisaria tomar em uma situação normal. Eu precisava me suportar financeiramente”.
Foi com esse pensamento que ele decidiu trocar de escola no 9º ano. Aos 15 anos de idade, ele foi procurar um curso técnico para poder ingressar logo no mercado de trabalho. Conseguiu um estágio, que durou quatro anos e logo depois foi contratado pela Sinqia, fintech voltada para softwares e soluções tecnológicas.
Durante o tempo que passou na fintech, Hayashi também tentou empreender vendendo embalagens com seus primos, mas deixou o negócio em pouco tempo, percebendo que o comércio não era seu caminho. Foi ali que ele entendeu que pertencia ao mundo corporativo, mas logo teve que mudar seus rumos.
“Aos 24 anos eu puxei uma conversa com o diretor da Sinqia para entender até onde eu poderia chegar na companhia, já que aquilo era muito importante para o meu sucesso. Ele respondeu que não me via ocupando cargos de chefia como a presidência”, afirma Hayashi. “Foi ali que eu decidi que iria montar o meu próprio negócio no setor de tecnologia.”
Em dois anos a Deal estava de pé, mas esse foi apenas o primeiro passo. “Hoje é bonito ser startup, captar dinheiro, ser um jovem empreendedor, mas na época não era assim”, diz. Em 2004, a transformação digital era um assunto ainda pouco explorado, até porque não existia a presença de grandes companhias no setor. Porém, com o surgimento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), que trouxe a implementação da TED em 2002, a situação começou a mudar.
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Hayashi conta que os ecommerces deram o pontapé inicial para essa transformação quando começaram a tentar entender sobre tendências de consumo, hábitos de compra e outras características que afetavam diretamente o seu faturamento.
“Com o avanço da conectividade e com empresas buscando tecnologia, o espaço me pareceu aberto para explorar e entender quais eram as necessidades que apareceriam ao longo dos próximos anos”, diz Hayashi. Com as estratégias, a empresa faturou desde o primeiro ano e nunca arrecadou nenhum investimento.
Hoje, com quase 20 anos de idade, a Deal ajuda empresas como B3, Getnet Brasil e BV a construírem sua presença digital.
Para Rodrigo Nardoni, VP de Tecnologia da B3, cliente da solução de Hayashi, a Deal se destaca ao ir além do pedido. “Na B3, a Deal tem desempenhado um excelente trabalho de construção e entrega de soluções, indo muito além, positivamente, do papel de fornecedor de tecnologia”, diz.
Fernanda Toscano, Superintendente de TI da Veloe, diz que os serviços oferecidos “nos ajudam a gerar valor e elevar o patamar das ferramentas que oferecemos aos nossos clientes. Juntas, continuamos a fortalecer nossa posição no mercado de maneira excepcional”, afirma.
Agora, o foco da companhia é em uma possível abertura de capital na Bolsa de Valores. “Estamos trabalhando para que isso um dia seja realidade. Não podemos prever quando, mas estamos nos preparando e estamos conversando com alguns fundos para acelerar nossas estratégias”, diz Hayashi.
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Até o fim do ano, a Deal espera faturar em torno de R$ 150 milhões, mantendo a taxa de crescimento de 44% vista nos últimos três anos.
Oportunidades de mercado
O campo segue vasto. Muitas empresas ainda têm espaço para avançar em sua transformação digital. De acordo com o levantamento Índice Transformação Digital Brasil 2023, realizado pela consultoria PWC em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), o ITDBr médio das empresas participantes ficou em 3,3, pouco acima da metade da escala, que vai de 1 a 6.
“Quando começamos a trabalhar na metodologia do índice, ficou claro que muitas organizações ainda precisam esclarecer o que é transformação digital. Alguns a veem apenas como produtos de tecnologia, o que revela a necessidade de ampliar essa discussão no mercado”, afirma Denise Pinheiro,sócia e líder de Transformação Digital da PwC Brasil. “Com o ITDBr, podemos ajudar as organizações a entender onde elas estão posicionadas nessa jornada de transformação e o que precisam fazer para avançar.”
Apesar de parecer problema de empresas menores, o recorte mostra que as grandes também precisam assimilar as tendências digitais e colocá-las em prática. 46% dos participantes faturam mais de R$ 1 bilhão por ano, enquanto 29% tem receitas abaixo de R$ 300 milhões. “Empresas de grande porte incorporam de forma mais abrangente a agenda de transformação digital em suas operações cotidianas, enquanto as menores tendem a adotar ações e soluções pontuais. Independentemente do tamanho, todas demonstram espaço significativo para melhorias em sua trajetória de digitalização”, afirmou a PWC.
“Muitas organizações têm vinculado a agenda da transformação digital somente aos avanços de tecnologias modernas. É preciso entender claramente qual é o problema do negócio, a disponibilidade para investimentos, a qualificação das equipes e o perfil do diretor digital. Mais importante ainda é criar uma disciplina para estabelecer processos digitais, alinhados com a alta liderança, demandas de clientes e novas habilidades das pessoas”, complementa Hugo Tadeu,diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.
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