A relação entre animais e humanos é muito antiga; foi evoluindo ao longo de milhares de anos. Se, no início, os animais se prestavam apenas ao trabalho, ao longo do tempo eles passaram a nos ajudar na proteção das casas e dos bens, no controle de doenças, ao matar roedores e outros bichos que poderiam espalhá-las, a auxiliar pessoas cegas, sendo os “olhos delas”. Enfim, aos poucos, eles foram se tornando verdadeiros companheiros de vida.
Durante a pandemia, esse vínculo se estreitou ainda mais. Gatos, cachorros, passarinhos, coelhos e até tartarugas ajudaram muita gente a passar por aquele período duro e, de certa forma, foram responsáveis por cuidar da saúde mental de seus tutores. Tanto que, para muitos pets, foi bem complicado o retorno deles ao trabalho presencial.
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Os laços que envolvem os pets e os humanos costumam ser baseados em alegria, companheirismo e muito amor. O elo pode ser tão forte que muitos dividem as suas camas com eles, dividem comida e até dividem a “guarda” quando o casamento acaba.
É, portanto, muito difícil perder esse ente querido. Recentemente, vimos os depoimentos emocionados do especialista em comportamento animal Alexandre Rossi ao perder a sua pet e parceira Estopinha. Para quem convive com um pet, não se trata “só” de um cachorro, de um gato ou de um porquinho da índia, mas de um membro querido da família. Por isso, é tão dolorido quando os perdemos para uma doença ou para a própria vida. Difícil encarar que ela é finita para todos nós, inclusive para os animaizinhos tão queridos.
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Você passará por um processo de luto, que poderá ser mais demorado ou mais breve. Não existe um calendário com data certa para o fim desse período. Cada um tem o seu tempo. É possível – e até provável – que pessoas que viviam sozinhas com seus animais de estimação, idosos, doentes com condições crônicas que tornaram o pet um parceiro da prática de atividade física, cegos, pessoas surdas e crianças tenham mais dificuldade para encarar essa perda, porque o animal tinha um papel ainda mais importante e significativo para elas, atuando, por exemplo, como “assistentes”, ajudando a alertar e apoiar seus tutores com deficiência visual ou auditiva.
Conheço pessoas em que a morte do pet chegou, inclusive, a deflagrar uma depressão. Eu procuro sempre reafirmar a importância que o autocuidado tem nesse momento de tristeza. Criar novas rotinas, novos rituais são estratégias úteis.
Muita gente vê na busca por um novo pet um alento para a dor. O importante é cada um encontrar o seu jeito de lidar com a perda.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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