O estímulo à prática esportiva e os benefícios que tal atividade proporciona na formação e desenvolvimento de crianças e jovens é uma questão quase unânime atualmente. Escolinhas de iniciação, nas mais variadas modalidades, e equipes de treinamento desenvolvidas nos espaços públicos, em clubes e academias privadas invariavelmente atraem cada vez mais alunos e praticantes. Conceitos como resiliência, foco, disciplina, respeito a regras e uma infinidade de outras situações a que esses indivíduos ficam expostos frequentemente ajudam a moldar caráter, valores e atitudes muito necessários na continuação de suas vidas.
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Porém, um elemento importantíssimo neste processo chama-se competição. Neste ponto, a já falada quase unanimidade não é tão presente. Existe farta bibliografia condenando e até mesmo tentando proibir a competição na faixa etária que compreende o conceito de criança (segundo o ECA, até 12 anos). O argumento mais utilizado é que a criança não tem estrutura psicológica suficiente para encarar a frustração decorrente das derrotas. Na infância, as crianças devem brincar, buscar a diversão, não se confrontar com os dissabores que eventos competitivos esportivos podem porventura trazer.
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Na verdade, competir faz parte do dia a dia das crianças. Elas disputam um brinquedo na escola, a atenção dos pais, o amor dos avós. Lidam com conflitos, perdas e vitórias em cada atividade, em cada interação social, em cada brincadeira inocente com amigos na rua, em casa, em qualquer lugar. No entanto, as frustrações decorrentes destas competições corriqueiras, destas possíveis perdas não parecem ser um problema… e realmente não são! A vida real é um constante perder e ganhar e, para além de ser um clichê, devemos realmente estar preparados para isso! Onde estaria o problema então quando falamos sobre esporte e competição, uma vez que competir não é uma questão “estranha” ao universo infantil?
O fato é que geralmente quem dificulta este processo somos nós, adultos. Pais e treinadores trazem para o ambiente esportivo infantil posturas muitas vezes inadequadas. É fácil observar pais tendo atitudes de cobrança e desapontamento nada disfarçadas quando seu filho ou filha não “vence” seu jogo. Treinadores também muitas vezes reproduzem modelos de competição adultos para seus alunos, idealizando confrontos que em nada se aproximam do universo infantil, conduzindo esse processo de uma forma inadequada. E nas vitórias também muitas vezes vemos “premiações” como um brinquedo ou o almoço no lugar favorito, se o sucesso vier.
Privar nossas crianças das lições que as competições esportivas podem trazer através de vitórias e derrotas não parece justo e correto. O problema não está aí. Talvez a resposta para essa questão esteja em conciliar o nível de cobrança à maturidade de cada criança, permitindo que ela se desenvolva no seu próprio ritmo em um ambiente seguro e acolhedor.
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Por Marcelo Motta, diretor técnico do projeto Massificação Rede Tênis Brasil
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