CEO da Prudential conta como foi de leiga em seguros à maior líder no Brasil

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Em um cenário em que as mulheres representam 31% dos executivos das seguradoras do país, Patricia Freitas defende “oportunidades iguais, mas considerando as diferenças”

Fazer uma transição de carreira bem-sucedida não exige, necessariamente, entender profundamente o novo mercado. Patricia Freitas, CEO da seguradora Prudential desde janeiro, começou a carreira como programadora, se desenvolveu no setor de tecnologia e, mais de 20 anos depois, mudou a rota em 2015, quando assumiu uma vice-presidência da empresa atual.

Sob a sua gestão, a Prudential do Brasil teve o melhor faturamento em 25 anos de história no primeiro semestre deste ano. Considerando Seguro de Pessoas, registrou R$ 2,6 bilhões de faturamento – um crescimento de 20% em relação ao mesmo período de 2022, enquanto o mercado cresceu 8,2% no acumulado de janeiro a agosto. “Isso foi construído a várias mãos. Mas eu não não sou um agente externo, já participava da estratégia da companhia e do que a gente vinha construindo.”

A executiva não começou do zero: trouxe o que já havia acumulado em mais de 20 anos no corporativo, em empresas do porte de IBM e Microsoft, foi atrás da técnica que esse mercado exige e os resultados vieram. “Mudar completamente de segmento me tirou da minha zona de conforto.”

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Nesse primeiro ano à frente da empresa – e dos mais de 800 funcionários, a executiva tem dado continuidade às estratégias, mas trazendo seu toque de liderança. “Gosto de ficar fora do escritório, me conectar com o mercado, ter interlocução com as outras seguradoras, sejam competidoras ou não do mercado de vida”, diz a CEO, que está levando o time de 10 C-Levels da companhia para visitar os corretores franqueados, que têm contato direto com os clientes.

Soft skills fizeram a diferença na transição

Recém-chegada na empresa e sem conhecer o mercado, Patricia foi estudar e buscou formas de se destacar. Fez MBA em seguros, teve o apoio de executivos que vieram da matriz, nos EUA, e desde o início estabeleceu onde queria chegar. “Fiz uma apresentação estratégica com 15 dias de companhia.”

Depois de fazer uma projeção do crescimento da empresa, seu foco era este: “O que eu preciso representar para ser uma área que contribui com a empresa? Fiz essa conta e coloquei o número como objetivo.”

Além de tocar a área de parcerias e lançar um projeto com o Mercado Pago, por exemplo, assumiu projetos de outras áreas desfalcadas com a saída de executivos, um deles durante a pandemia. “Eu estava ali como executiva, não importava o que a empresa precisasse. E tudo isso contou para o momento de decidir a sucessão.”

A executiva estava prestes a aceitar uma proposta para ser CEO de uma empresa de tecnologia quando a Prudential chamou para a vaga. “Nem achava que ia ser aprovada”, conta. Mas reconhece que o que pesou foram suas soft skills, competências comportamentais que valem para qualquer carreira, como pensamento estratégico, liderança, colaboração, ambição e boa comunicação.

Atitude e protagonismo

Em um momento de transição, ou em qualquer outro na carreira, o mais importante, segundo Patricia, é ter atitude. “É uma habilidade que ou você tem naturalmente ou você desenvolve.”

No seu caso, é a primeira opção. Aos 18 anos, no seu primeiro emprego, chamou o sócio da empresa em que trabalhava – antiga DBA, de desenvolvimento de sistemas – para dizer que queria uma função mais significativa. “E aí comecei a chorar porque estava nervosa e ainda não tinha maturidade”, lembra ela, que no dia seguinte já estava programando. A atitude impressionou os sócios e fez com que, mais tarde, na segunda passagem pela empresa, ela assumisse sua primeira posição de gerência, aos 25 anos. “Quando eu saí, tinha 80% dos funcionários reportando para mim.”

E ela emprestou isso para entrar no mercado de seguros. O maior desafio, segundo a executiva, não foi o tema em si, mas não conhecer ninguém. “Com atitude protagonista, mas também com a devida humildade de quem está chegando, comecei a me envolver com o mercado, ir aos eventos e trocar com as pessoas.”

Esse protagonismo vem da infância. Cresceu com cinco irmãos e já com a noção de que teria que se esforçar para subir na vida. “Minha mãe pensava que eu ia achar um marido rico e esse seria meu futuro. Mas eu sempre me esforçava, trabalhando e estudando, para ser a melhor aluna e ganhar bolsa para estudar nas melhores escolas.”

Com 16 anos, começou a cursar ciência da computação na Universidade Federal Fluminense, em uma sala 90% masculina. Optou por essa faculdade porque era ótima em exatas e, também, porque no final da década de 1980 essa prometia ser a “profissão do futuro”, segundo a CEO, e era até mais concorrida que medicina. “A tecnologia estava começando a ser aquela coisa que todo mundo olhava.”

O olhar da mulher na liderança

Desde que entrou na Prudential, Patricia incentivou o movimento por uma maior presença feminina em um setor que, assim como o de tecnologia, é historicamente masculino – ao menos no topo.

As mulheres são maioria entre os profissionais de seguros no Brasil – representam 55% do total de profissionais e 57% dos cargos menos qualificados –, mas são apenas 31% dos executivos das seguradoras, segundo estudo da Escola de Negócios e Seguros de 2022. Na Prudential, as mulheres também representam 55% de todos os funcionários e, na liderança, ocupam 45% dos cargos – a meta é chegar a 50% em 2024. “Quanto mais mulheres em posições de liderança, melhor para o mercado”, diz ela, que se organiza com outras profissionais do setor em eventos e grupos.

A executiva foi uma das criadoras do comitê de diversidade da empresa, em 2017, ao lado de Tereza Moreno, ex-CFO da Prudential, trazendo temas de gênero e raça.

Patricia chegou a posições de alta liderança na indústria de tecnologia, circulou por grandes empresas, mas só entendeu os vieses inconscientes que afetam as carreiras femininas e muitas vezes impedem as mulheres de avançar há poucos anos, quando estudou o tema mais a fundo. “Sempre dizia que não tinha passado por dificuldades por ser mulher. Mas olhando para trás, vi que fui menos respeitada, ouvida e precisei me provar mais, mas nunca deixei de falar, talvez porque nem notava esse preconceito.”

Ou porque cruzou com grandes líderes mulheres na sua trajetória, no início, na IBM, e também antes de ir para a Prudential, na Microsoft. Hoje, aos 52 anos, como CEO e mãe de dois meninos, traz um olhar de equidade. “Precisamos dar oportunidades iguais, mas considerando as diferenças.”

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Quinzenalmente, a Forbes publica a coluna Minha Jornada, retratando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.

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