Toda vez que desembarcava do avião no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, onde cursava engenharia de alimentos, o empresário paulista Fabrício Lot sentia um frio na barriga. Não era sem motivo. Invariavelmente, sua bagagem trazia produtos proibidos na França: frutas como limão e maracujá, e até açúcar. Itens muito demandados por quem preparava drinques. Comuns no Brasil, são escassos e caros na Europa.
O medo das autoridades francesas fez Lot ter uma ideia de negócio: desenvolver combinações de frutas em pedaços e na forma líquida, fáceis de transportar e que poderiam ser usadas na preparação de bebidas. Foi o começo da Easy Drinks, que faturou R$ 30 milhões em 2022 e rompeu as barreiras alfandegárias e sanitárias na Europa e nos Estados Unidos para os alimentos in natura.
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Concluídos os estudos em 2008, era hora de voltar ao Brasil e lançar a empresa. Fabrício se associou ao irmão Bruno. O negócio precisou de investimentos iniciais de US$ 250 mil. “Ficamos 12 anos só fornecendo para eventos, pois não tínhamos o maquinário necessário para produzir em uma escala que atendesse o varejo”, afirma Bruno. “E esse foi apenas um dos vários desafios.”
Outro problema foi encontrar fornecedores. “O morango que usamos vem do Egito, porque a variedade brasileira não atende nossas necessidades”, diz Bruno. “Também foi um longo processo para registrar nossa produção no Ministério da Agricultura, já que eles nunca tinham visto nada parecido. Enfrentamos muita burocracia.”
Só em 2019 os irmãos decidiram que estava na hora de levar os produtos para o varejo. Eles investiram R$ 900 mil em máquinas e na distribuição. A lista de produtos já incluía misturas para drinks clássicos e espumas, além das frutas. “Lançamos nosso e-commerce em abril de 2020”, diz Bruno. “A boa aceitação dos produtos nos fez investir mais R$ 1,5 milhão em uma fábrica maior”, diz Bruno. Desde a fundação, a Easy Drink já investiu R$ 6 milhões em máquinas. Em 2023, a expectativa é crescer 10% e faturar R$ 33 milhões.
Internacionalização
Neste ano os irmãos decidiram internacionalizar as atividades. O país escolhido foi os Estados Unidos. “O mercado americano de drinks é cinco vezes maior que o brasileiro e a população já está acostumada a consumir produtos como os nossos”, diz Bruno. As primeiras vendas ocorreram em setembro, por meio de plataformas como a Amazon.
A meta é ir além e fechar parcerias com varejistas e conquistar espaço nas gôndolas. “Há muito mais supermercados nos EUA do que no Brasil, o que dá margem para a venda dos produtos em quantidade”, afirma. “Nós estudamos como cobrar corretamente, já que existem diversos concorrentes estabelecidos no mercado.”
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Com a expansão, a Easy Drinks projeta dobrar sua produção nos próximos três meses e faturar US$ 876 mil no primeiro ano de operação apenas com vendas online. Na visão deles, esse valor deve crescer em 30% com a entrada nos supermercados.
“Dando certo com os Estados Unidos, nossa próxima meta é a Europa. Já recebemos propostas de distribuidores da América do Sul, dos Emirados Árabes, da Nova Zelândia e de Israel”, afirma Bruno. “Nós vamos continuar crescendo e muito.”
Mercado aberto
O cenário é positivo para a empresa. As exportações brasileiras de frutas e produtos “in natura” ainda são muito pequenas no total do agronegócio, mas esses itens vem crescendo. No primeiro semestre de 2023, o faturamento com essas exportações cresceu 19% ante o mesmo período de 2022, apesar de o crescimento físico ter sido de apenas 2% nesse período. O produto mais exportado foi o limão: 89 mil toneladas da fruta embarcadas
Em 2022, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram 20% em relação a 2021, chegando aos US$ 37,4 bilhões. A participação dos EUA nas exportações brasileiras subiu para 11,2%, posicionando-se como o 2º destino das nossas vendas externas.
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Na visão de Igor Pipolo, CEO & Founder da CB Hub, solução de envio que atua no Brasil e no México, alguns fatores relacionados à exportação podem facilitar ou dificultar a vida dos empreendedores nessa nova fase. “As flutuações cambiais e as políticas governamentais, como subsídios e tarifas, desempenham um papel importante no cenário de exportação do Brasil e podem fazer o diferencial no sucesso da companhia”, afirma.
Para ele, os norte-americanos são um dos maiores importadores de produtos agrícolas do mundo, e a diversidade de produtos agrícolas brasileiros pode encontrar espaço nesse mercado. “No entanto, é importante lembrar que os produtos brasileiros enfrentam concorrência e devem atender aos padrões de qualidade e segurança alimentar dos EUA. Além disso, questões como acordos comerciais, logística e impostos podem afetar a competitividade dos produtos brasileiros nos EUA”, afirma.
O post Após faturar R$ 30 milhões em 2022, Easy Drinks desembarca nos Estados Unidos apareceu primeiro em Forbes Brasil.