Impacto do conflito Israel-Palestina nos investimentos

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Jack Guez/AFP/Getty Images

Eventos geopolíticos de grande relevância sempre causam tensão e instabilidade nos mercados financeiros

Estamos há duas semanas vivendo os horrores e a permanente tensão do conflito em curso entre Israel e Palestina, e por mais que seja difícil falar em investimentos quando o cenário é de total desolação com tantas mortes de inocentes em ambos os lados, é importante tentarmos entender os impactos nos mercados financeiros globais e, particularmente, em países emergentes como é o caso do Brasil

Como o conflito pode afetar os mercados financeiros globais

Eventos geopolíticos de grande relevância sempre causam tensão e instabilidade nos mercados financeiros, influenciando no curto prazo o preço de ativos e o cenário de investimentos como um todo, já que o comportamento do investidor é reativo, sempre em busca de mitigar perdas.

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Apesar da dificuldade de prever os rumos e as proporções desse embate, algumas probabilidades são bastante concretas, e abaixo vou contextualizar algumas:

Impacto nos preços do petróleo

Israel está localizado em uma região estratégica para o fornecimento global de petróleo, e o agravamento do conflito na região traz sérias preocupações quanto à queda da oferta do minério, que tende a resultar em aumento de preço do barril, o que tem impacto relevante nas economias do mundo todo.

Se evoluirmos nesse exercício, imaginando uma eventual entrada no conflito de países produtores de petróleo, especialmente o Irã, as proporções do impacto econômico podem ser incalculáveis.
Independente do cenário, quando o preço do petróleo sobe, aumentam os preços do dos combustíveis, consequentemente, aumentam os valores dos fretes, e tudo isso exerce pressão inflacionária sobre as economias.

Aumento da volatilidade

No caso de outros players importantes se envolverem nas questões entre Israel e Palestina, as incertezas quanto às proporções dessa guerra podem aumentar a volatilidade dos ativos, principalmente porque os grandes investidores institucionais podem começar a desmanchar posições daqueles ativos mais arriscados, a fim de realocar em uma economia forte e em ativos considerados altamente seguros, como ouro e títulos do governo.

Variações nos preços de ativos de setores específicos

Empresas relacionadas à defesa, como fabricantes de armas, aeronaves militares, e todos os insumos utilizados em guerra, podem ter suas ações valorizadas, dependendo da evolução do conflito e da possibilidade de contratos de defesa.

Movimentos nas taxas de câmbio

A saída de investidores dos mercados emergentes, rumo à estabilidade de economias fortes, como é o caso da estadunidense, mexe diretamente com o câmbio, pois a procura por dólar aumenta, visando converter capital que irá migrar para outros mercados.

Esse movimento de valorização do câmbio pode afetar a competitividade das exportações e importações no mundo todo, com efeitos sentidos de forma mais intensa por economias mais frágeis, de países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil

Impacto nos juros e nos mercados de renda fixa

Inúmeros fatores além de guerras e tensões geopolíticas influenciam as políticas monetárias dos bancos centrais, e o impacto específico de uma guerra entre Israel e Palestina pode variar de acordo com a gravidade, duração e proporções do conflito, bem como de outros eventos globais em curso.

Ainda assim, podemos presumir o risco de subida da taxa de juros nos Estados Unidos, caso o país se veja diretamente envolvido, em apoio a Israel. Como sabemos, a taxa de juros norte-americana em alta não nos favorece, pois a economia dos Estados Unidos segue pujante, com produtividade crescente e pleno emprego, ou seja, o investidor tem baixo risco e alta remuneração para seu dinheiro, não justificando a sua permanência em mercados emergentes.

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Há que se considerar ainda que se houver alta do petróleo ocasionando pressão inflacionária de longa duração, em algum momento a política de cortes consecutivos na Taxa Selic pode precisar ser reavaliada.

Onde investir neste momento

O mercado como um todo vive um momento de impasse, onde ainda há grande expectativa quanto aos rumos e dimensão do conflito Israel x Palestina. Com isso, muitos investidores tendem a optar por fazer caixa, mantendo o dinheiro em reservas de liquidez, até que o cenário esteja melhor delineado. Entendo que pode ser uma boa estratégia, desde que se saiba monitorar os acontecimentos para não perder o timing das oportunidades.

Nisso reside a importância de ter um bom planejamento financeiro para longo prazo. Se você já tem portfólio montado ou, minimamente, tem definida uma relação de empresas com as quais deseja montar sua carteira, basta manter atualizada a informação de preço justo de cada ativo e acompanhar o mercado para identificar as oportunidades de comprar mais papéis com menos dinheiro.

Lembre-se que o simples fato de as ações estarem sub precificadas não será uma oportunidade de fato para sua carteira, se as características dessas ações não estiverm em linha com seu objetivo financeiro definido.

A mesma conduta se aplica aos percentuais de sua carteira definidos para fundos prefixados, pós-fixados ou híbridos. Ou seja, a palavra de ordem continua sendo a mesma de sempre: diversificação.

No caso do crédito privado, a avaliação das oportunidades, mais do que nunca, passa pelo entendimento do grau de risco do negócio em um contexto de guerra cujo tempo de duração e magnitude ainda não pode ser previsto com precisão.

Some-se a isso, o risco do país sede dessas empresas, tanto no que tange à pressão inflacionária e política monetária, quanto o risco de envolvimento direto nos conflitos.

Conclusão

Embora seja difícil prever com precisão a proporção do impacto do conflito Israel-Palestina nos mercados financeiros globais e nas economias emergentes, está claro que este evento tem potencial para causar mudanças significativas no mercado como um todo.

Sendo assim, seu foco nesse momento deve estar em ter um planejamento financeiro bem definido e seguir executando seu plano, sempre levando em conta as premissas básicas que norteiam quaisquer decisões de investimento: 1) no longo prazo, as bolsas sempre sobem; 2) diversificação entre classes de ativos é imprescindível para lidar com a volatilidade; 3) Agir emocionalmente não é uma boa estratégia para investimentos; 4) Buscar informações em fontes confiáveis é imprescindível.

Em tempos de incertezas de ordem geopolítica potencialmente escaláveis, a segurança se sobrepõe à rentabilidade, e suas decisões precisam ser calculadas e fundamentadas por dados e não por informações superficiais de redes sociais. Estudo e paciência continuam sendo ótimos conselheiros.

Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

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