Biotech inglesa recebe US$ 22 milhões para produzir gordura cultivada

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Dudaeva/Guettyimages

Gordura cultivada pode dar sabor aos alimentos plant based, por exemplo

A biotech Hoxton Farms, startup especializada em gordura animal cultivada e que tem sede em Londres, na Inglaterra, inaugurou em setembro sua primeira planta piloto. A nova unidade é focada em pesquisas para viabilizar a produção em escala industrial dessa gordura e desenvolver novos produtos em parcerias com empresas de alimentos de base vegetal e redes de supermercados.

No início da jornada, em 2020, a fábrica foi instalada em um local inusitado para uma empresa, um prédio rodeado de apartamentos, com um tradicional pub britânico na esquina: “Este é, provavelmente, o último local onde as pessoas imaginariam encontrar uma produção de alimentos cultivados. Mas o interessante é exatamente isso, é possível fabricar em qualquer lugar”, diz Ed Steele, cofundador da Hoxton Farm, em entrevista à Forbes.

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“Gostamos muito da ideia de estar perto dos clientes que vão consumir os nossos produtos. Precisamos que eles entendam o que estamos fazendo e como produzimos carnes. Aliás, esse tipo de produção será a forma mais comum de produzir no futuro. Eu acho que a gente não conseguiria demonstrar esse processo de produção se a fábrica estivesse isolada da área urbana, no meio do nada”, afirma Steele.

Fundada pelo biólogo Max Jamilly e pelo matemático Ed Steele, a dupla decidiu entrar no ramo de proteína alternativa, mas com foco na produção de gordura cultivada. A aposta foi no conceito de que um dos aspectos que mais atraem os consumidores de carne é exatamente o sabor da gordura. Além disso, por ser um nicho novo no mercado, esse modelo de negócio pode atrair mais investidores.

Hoxton/Farm

Ed Steele, cofundador da Hoxton Farm, diz que consumidor que sabor

A aposta de Jamilly e Steele deu certo. O lançamento da nova instalação foi resultado de uma rodada de financiamentos para startups, na categoria série A, que contou com o aporte de US$ 22 milhões (R$ 111, 3 milhões na cotação atual). O valor foi captado em outubro de 2022 e colocado à disposição da startup pelo Collaborative Fund e Fine Structure Ventures, com investimentos adicionais da Systemiq Capital, AgFunder, MCJ Collective e investidores que já haviam investido, como o Founders Fund, Backed VC, Presight Capital, CPT Capital e Sustainable Food Ventures.

Com a expansão, a nova unidade ganhou laboratórios especializados em cultura de células, uma cozinha de desenvolvimento de alimentos e uma oficina de equipamentos.

O segredo está nos biorreatores

A capacidade produtiva da planta piloto é de uma tonelada de gordura por ano. No entanto, a meta de Steele é ousada. A projeção da startup é aumentar em 10 toneladas/ano. Para isso, será preciso otimizar a eficiência dos biorreatores, que são os equipamentos utilizados na multiplicação de mudas de plantas e, no caso, para a modificação da gordura cultivada.

Para transformar a ideia em realidade, os bioengenheiros têm trabalhado na fabricação de biorreatores personalizados. O projeto visa otimizar o crescimento de células de gordura, mas com um custo de produção menor, quando comparado com os biorreatores convencionais utilizados atualmente na indústria.

Steele explica: “O sistema para cultivar gordura de carne é diferente do método usado para cultivar os músculos da proteína. Por isso, precisamos de biorreatores especiais, que são complicados de construir, mas seremos pioneiros porque ninguém fez isso antes. Quando essa novidade estiver implantada, poderemos trabalhar com as células de uma maneira diferente que será muito mais eficiente.” diz Steele.

Muitos empresários têm investido em biorreatores maiores para aumentar a capacidade produtiva, mas sem resultado satisfatório: “Leva muito tempo para melhorar as condições do biorreator e é preciso começar do zero quando se decide aumentar o tamanho do equipamento.” Steele diz que o projeto do biorreator pequeno da Hoxton Farm pode evitar desperdícios de milhões de dólares em investimento e ainda reduzir a contaminação dos alimentos, o que acarreta em perda de lotes de fabricação.

Gordura cultivada no cardápio

Atualmente, a startup está empenhada na criação de uma alternativa cultivada a partir da barriga de porco. Mas, os planos a médio prazo incluem desenvolver produtos com as gorduras de frango e de peixe.

Embora a tecnologia para a criação de hambúrgueres e salsichas à base de plantas não seja novidade, nos últimos anos têm aumentado o consumo desse tipo de produto. Nos supermercados, a prateleira de proteína animal alternativa tem cada vez mais variedades e mais clientes interessados. “Nosso objetivo é conquistar aquelas pessoas que realmente apreciam o sabor da carne. A ideia é que esses produtos nunca percam o gosto delicioso da proteína”, diz Steele, sugerindo que uma das razões para a estagnação desse segmento seja a falta de sabor e suculência do produto.

Para encontrar a solução desse problema de consumo, o setor comercial da empresa tem buscado uma gama diversificada de clientes para desenvolver de forma colaborativa protótipos de produtos de carne híbrida: “Tanto os supermercados, que são os pontos de venda, como as indústrias, estão interessados em trazer mais sabor e textura ao produto final e isso é ótimo para nós, da Hoxton Farm”, afirma Steele.

A startup acredita ter uma vantagem para abocanhar esse nicho porque o custo para acrescentar o ‘ingrediente especial’, que é a gordura cultivada, é baixo. A conta é simples. São necessárias apenas algumas gotas para trazer sabor aos produtos. Considerando que atualmente são inúmeras opções à base de plantas, e o acréscimo desse ingrediente não vai afetar o preço final nos supermercados, esse é realmente um mercado promissor”.

Em países como os Estados Unidos e regiões como a Ásia, onde as regras regulatórias já permitem a comercialização de produtos cárneos cultivados e garantem a proibição de preços abusivos para o consumidor, os negócios se tornam ainda mais vantajosos.

A empresa ainda não decidiu sobre o local de construção da primeira planta para a escala comercial, se ela será baseada nos EUA, na Ásia ou no Reino Unido, mas uma coisa é certa: “Não será no centro de Londres desta vez”, brinca Steele.

*Daniela De Lorenzo é colaboradora da Forbes EUA, Wired, Deutsche Welle, Al Jazeera, Vice Media, entre outros. Escreve sobre sistema de produção de alimentos, meio ambiente e política da UE. (tradução: Flávia Macedo).

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