Às vezes é um mistério por que certas pessoas são “picadas pelo vírus do vinho” e outras não. Para um grupo de 12 vinicultores hispânicos, que hoje atuam no estado do Oregon (EUA), trata-se de um forte vínculo entre o cultivo de uvas e a produção de vinho que reflete a beleza da terra, além de fornecer um legado de negócio para suas famílias. Parte desse legado é compartilhar a alegria do vinho acompanhado de comida para reunir amigos e familiares para celebrar a “boa vida”.
“Tenho uma grande paixão pelo cultivo da uva, pela vinificação e por compartilhar esse conhecimento com outras pessoas”, diz Sam Parra, proprietário da Parra Wines. “Minha inspiração para fazer vinho foi manter viva uma tradição familiar.”
Na verdade, Parra cresceu em Napa, na Califórnia, onde sua família trabalhava nos vinhedos e produzia vinhos para compartilhar com a família e amigos em sua garagem. Quando se mudou para o Oregon, há 10 anos, Parra percebeu que havia uma necessidade de fornecer educação para muitos trabalhadores hispânicos no campo. Daí nasceu a “Ahivoy”, uma organização que trabalha para capacitar os administradores de vinho no estado.
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Por meio da “Ahivoy, Parra conseguiu ajudar muitos trabalhadores da vinha a aprenderem as competências necessárias para se tornarem enólogos. Ele também descobriu que havia algumas pequenas vinícolas de propriedade hispânica já operando em Oregon, então ajudou a organizar o Celebrating Hispanic Roots, um pequeno grupo de proprietários de vinícolas e produtores de vinho do estado que compartilham da origem hispânica.
Agora, todos os anos, durante o Mês da Herança Hispânica (entre 15 de setembro e 15 de outubro), esses produtores de vinho se reúnem para comemorar, oferecendo uma série de jantares combinados com vinhos e comidas. Os lucros do evento são doados para !Salud!, uma organização que ajuda a fornecer cuidados de saúde acessíveis para administradores de vinhedos e suas famílias. Além disso, cada vinícola oferece seleções especiais de vinhos durante o Mês da Herança Hispânica e 10% das vendas de garrafas serão doadas à ¡Salud!.
“O que é único em nossos produtores de vinho é que não estamos apenas produzindo vinho pinot noir do Oregon, pelo qual o estado é famoso, mas também estamos focados no plantio de novas variedades de uvas. Por exemplo, albarino, riesling, gewurztraminer, tempranillo, gamay, malbec e syrah podem crescer muito bem no Oregon”, diz Parra.
Conheça 5 produtores e enólogos do Oregon, o que os motiva a continuar produzindo seus vinhos e o que recomendam para acompanhar as bebidas que saem de seus vinhedos:
Cristina Gonzales, da Gonzales Wine Company
Gozales se inspirou para abrir sua vinícola quando percebeu que, se quisesse atingir seus objetivos profissionais, precisaria ser dona da própria empresa. “Fiquei inspirada e motivada pelo fato de que não seria capaz de subir na hierarquia e ser promovida a enóloga em uma grande vinícola. Eu estava enfrentando uma indústria cheia de tradição e dominada por homens brancos. Então, prometi a mim mesma que traçaria meu próprio caminho e, no processo, celebraria minha herança e quem eu sou”, afirmou Gonzales.
Ela também tem esperança de poder inspirar outras pessoas de comunidades marginalizadas que se parecem com ela, a perceber que tudo é possível e que há espaço na indústria para todos. Gonzales faz um vinho especial chamado The Revolutionary (US$ 45 ou R$ 232 ), que é um vinho tinto de uvas petit verdot e repleto de sabores de amora e notas de morango seco, couro e terra. É bastante complexo e com final longo. Ela recomenda combiná-lo com risoto de cogumelos, frango tikka masala e arroz cremoso ou massas.
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JP Valot, da Valcan Cellars
Valot foi inspirado por sua família na Argentina e por sua formação universitária para abrir a própria vinícola. “Meu filho trabalhou para a maior vinícola da Argentina e meu pai é corretor de vinhos em Mendoza. Eles me inspiraram, mas tive o desejo de fazer vinho quando fui para a Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, e me tornei engenheiro agrônomo com foco em manejo de vinhedos e vinificação.”
Vindo da Argentina, não é surpresa que sua paixão no Oregon seja crescer e fazer vinho com a uva malbec. Na verdade, ele não só faz um malbec tinto tradicional, mas também um malbec branco bastante raro e um malbec espumante.
O malbec branco Valcan Cellars (US$ 24 – R$ 124) é uma rara representação de um vinho branco de corpo médio feito a partir da uva vermelha Malbec. Possui notas de framboesa, amora e pêra, com um final crocante e refrescante. Valot recomenda combiná-lo com “frutos do mar ou pratos com alguns temperos e doçura”.
O espumante malbec vermelho Valcan Cellars (US$ 30 – R$ 155) é uma bebida alegre, com nariz floral e sabores brilhantes de cereja preta e morango. Valot o descreve como um “espumante de verão ao ar livre que pode combinar muito bem com aperitivos ao ar livre ou à beira da piscina”.
Sofia Torres, da vinha Cramoisi
Torres explicou que foi o trabalho na vinha e a proximidade da terra que a inspirou a se tornar enóloga e a fundar a Cramoisi Vineyards com o marido. “Quanto mais me aprofundava sobre o processo de viticultura, aprendendo práticas orgânicas e biodinâmicas para respeitar a terra, as pessoas e o meio ambiente, mais eu percebia que a parte mais gratificante e bonita desse negócio são as pessoas envolvidas. Assim, a minha paixão pela viticultura cresceu, e agora estou obcecada por ela, pelas pessoas, e por partilhar uma garrafa de vinho à mesa de jantar ou numa celebração especial. É divertido e interessante”, diz Torres. Ela continua: “Para mim e meu marido, é um ritual abrir uma garrafa de vinho, ver o formato da garrafa, o rótulo, conhecer as histórias dentro da garrafa, cheirar os aromas, saborear o vinho e combiná-lo com a comida certa. É a perfeição.” Torres compartilhou uma garrafa de seu pinot noir Cramoisi Sofias Block Estate 2021 (US$ 58 – R$ 300), que é maduro e mais estruturado com cereja preta escura, cranberry e pimenta da Jamaica. Ela recomenda acompanhar com costela de cordeiro temperada com uma fina camada de toupeira preta, risoto e salada de rúcula fresca.
Carla Rodriguez, da vinícola Beacon Hill
Rodriguez fala que a vinícola que ela construiu com o marido pretende ser um legado para seus filhos. “Acreditamos firmemente em ser administradores da terra para que ela esteja aqui para as gerações futuras (também conhecidas como nossas duas filhas). Atualmente cultivamos cerca de 30 hectares e o fazemos sob práticas vivas e seguras. Somos uma pequena empresa familiar de propriedade hispânica e temos muita sorte de poder compartilhar nosso produto com todos os nossos hóspedes”, diz Rodriguez.
Ela sugere uma garrafa requintada de albariño Beacon Hill 2022 (US$ 32 – R$ 165), que diz ser um de seus favoritos. Possui notas de maçã, pera e de madressilva e salinidade, com um final refrescante, longo e crocante. E diz: “é melhor combinar com ceviche, pratos tailandeses picantes, ostras e frutos do mar, como linguado grelhado ou boquerones”.
Sam Parra, da Parra Wine Co.
Parra, que iniciou sua marca para manter viva a tradição familiar de Napa Valley, tem uma visão clara de onde deseja estar no futuro. “Meu objetivo para a marca de vinhos é crescer para um dia chegar à distribuição nacional”, afirmou.
Sam sugere dois vinhos excepcionais: Parra Wine Co. Gewürztraminer 2022 (US$ 28 – R$ 145), um branco seco, vibrante e lindamente aromático, com nariz de flor de laranjeira e sabores de abacaxi seco, nectarina e casca de limão vigorosa. A sugestão é combiná-lo com “pratos picantes de macarrão tailandês ou vietnamita”.
O outro vinho é o Parra Wine Co. tempranillo 2021 (US$ 39 – R$ 201), um tinto elegante e perfumado, de corpo médio e notas de morango seco, cereja vermelha e cravo. “Recomendo este vinho com paella ou costelinha”, diz Parra.
*“Liz” Thach é colaboradora da Forbes EUA, professora, escritora e consultora baseada em Napa e Sonoma, Califórnia. É presidente do Wine Market Council e também escreve para Wine Spectator, Decanter, Wine Business Monthly, Somm Journal e entre outras publicações.
O post Da Espanha ao Oregon, os enólogos estão refazendo suas tradições familiares apareceu primeiro em Forbes Brasil.