Há uma máxima no universo da linguagem que diz que comunicação não é o que você diz, mas o que o outro, a quem você se dirige, entende. Se queremos que uma ideia, uma informação, opinião, um modo de pensar ou mesmo um determinado comportamento seja assimilado, é preciso comunicar isso de modo que o outro nos entenda. Uma pesquisa recente da consultoria McKinsey mostrou que esse circuito talvez não esteja sendo fechado do modo apropriado quando se pensa na Geração Z e o engajamento desta com o cuidado com sua saúde mental.
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Os marcos de início e fim da divisão dessas gerações não são consensuais: a depender do especialista, por haver algumas variações – mas, de forma geral, esses marcos temporais são aceitos. A “Geração X” é aquela nascida entre meados da década de 1960 e o início dos anos 1980; os Millennials são os nascidos entre o início dos anos 80 e meados da década de 1990. Antes dessas, há a geração dos “baby boomers”, os nascidos entre 1945 e meados da década de 60.
“Geração Z”, por sua vez, é a designação sociológica para aquelas pessoas nascidas entre 1995 e 2010. Alguém nascido no início desse período já terá, talvez, concluído uma graduação, mesmo uma pós-graduação, e pode estar no momento com dificuldades para se colocar no mercado de trabalho. Outros, nascidos mais perto do início deste século, podem estar na universidade ainda, mas já ter uma expectativa baixa com relação ao próprio futuro profissional na área que tenha escolhido. Difícil, aliás, que em qualquer área profissional não haja atualmente algum grau de apreensão quanto ao seu campo de trabalho.
A pesquisa McKinsey detectou que, entre as pessoas da Geração Z, uma em cada quatro diz sentir estresse emocional. Há um certo atavismo das gerações mais velhas em apontar para as mais novas e dizer que elas são menos equipadas hoje para lidar com as durezas da vida. A pesquisa mostrou também que apenas 13% dos entrevistados das Gerações X e Millenial se sentem emocionalmente estressados. Entre os “baby boomers”, só 8% dizem sentir a mesma condição. A Geração Z também revelou um dado muito perturbador: o de ser entre duas e três vezes mais provável encontrar quem já tenha tido pensamentos, feito planos ou mesmo tentado o suicídio nos 12 meses entre o fim de 2019 e o fim de 2020.
E não só: o levantamento mostrou que a Geração Z é menos disposta a buscar ajuda, mesmo diante de um diagnóstico de alguma condição de saúde comportamental, e menos disposta também a buscar tratamento. Essas pessoas declaram, segundo a McKinsey, sentir “menos controle sobre a própria saúde e seu tempo de vida”, ter menos consciência da própria saúde e ser menos proativa para mantê-la em boas condições. Outro dado que requer atenção: a satisfação com o atendimento psiquiátrico via telemedicina é mais baixo do que a das gerações anteriores – e isso porque este passaria uma sensação de ser “menos oficial” ou “menos profissional”.
Não são informações triviais. Eles revelam, por exemplo, que não se está conseguindo tornar acessível o serviço de cuidados de saúde mental às gerações mais jovens. Muitos têm preferido ir a plataformas de rede social em busca de soluções para suas angústias e dúvidas – e não é preciso muito para perceber que esta é uma alternativa de risco, para dizer o mínimo. Preferir a opinião de um público não-médico àquela de especialistas pode ter consequências trágicas.
É preciso criar com os jovens um canal de comunicação pelo qual se faça passar a ideia de que se interessar por manter a boa saúde e cuidar da saúde mental são práticas que, quanto mais cedo adotadas, melhor. Isso envolve reduzir – eliminar, no cenário ideal – o estigma associado aos tratamentos para saúde mental. Investir mais nas redes de atendimento e trabalhar na melhoria do atendimento via telemedicina – e fazer isso a partir de dados, que, com auxílio da IA (inteligência artificial), poderão mostrar onde esforços e melhorias serão mais bem alocados. E como tais serviços podem se adequar às necessidades dos jovens – que já sofrem uma pesada carga de estresse diante de um mundo que parece se tornar mais adverso. “A abordagem centrada no usuário para desenvolver funcionalidades e experiências que a Geração Z realmente deseja”, diz a pesquisa.
As dificuldades que os jovens enxergam para enfrentar o mundo podem ser compreendidas, desde que se busque a comunicação com eles. Se acharem que o apoio não está ao alcance, buscarão alternativas próprias – com todo o risco inerente a isso. Felizmente, mais do que nunca, se dispõe de meios para deixar claro que o cuidado com a saúde, em geral, e com a saúde mental especificamente, é tanto mais efetivo quanto mais cedo for adotado. A comunicação adequada com a Geração Z sobre saúde não é a solução definitiva, mas sim o primeiro (e importante) passo.
Claudio Lottenberg é mestre e doutor em oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde.
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