Depois que Gabrielle Judge viralizou no TikTok explicando o que é um “lazy girl job” (emprego para menina preguiçosa, em tradução livre), 27 milhões de pessoas visualizaram a hashtag e cada vez mais mulheres estão sintonizadas com essa ideia – que, na prática, não significa ser “preguiçosa”, e sim exigir empregos flexíveis com renda sustentável.
Por outro lado, surgiram muitas críticas a esse rótulo, a maioria em reação à conotação negativa da palavra. A controvérsia levanta a seguinte questão: por que os objetivos de flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional são retratados como “preguiça”? E por que termos como “lazy girl job” e “girl boss” são usados para banalizar as experiências das mulheres no trabalho?
@gabrielle_judge Replying to @Daina Macdonald lazy girl jobs is not offensive. Its a term i coined to promote work life balance in the american hustle culture we live in today. Any one can partake in this workplace trend. Especially not just gen z. #lazygirljob #corporateburnout #overworkedandunderpaid #careeradvice ♬ original sound – Anti Work Girlboss
Os perigos do “lazy girl job” para a Geração Z
Originalmente, “girl boss” era um símbolo de mudança e um selo para mulheres que construíram suas carreiras sozinhas e que administravam seus próprios negócios. Mas depois de se tornar tendência em plataformas de mídia social como o TikTok, ele passou de um símbolo de empoderamento a uma forma de menosprezar mulheres ambiciosas.
Um artigo no site da comunidade The Women’s Network alerta: “As mulheres precisam estar cientes dessa linha do tempo e reconhecer como uma frase destinada a empoderar as mulheres pode ser transformada no alvo da piada”.
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A ambiciosa Geração Z está simplesmente procurando flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional fora das profissões e rotinas de trabalho tradicionais. Mas será que o “lazy girl job” – destinado a empoderar essas jovens mulheres – corre o risco de criar uma imagem negativa dessas profissionais e acabar humilhando aquelas que tentam criar os seus próprios e novos caminhos de carreira?
Não é novidade que mais mulheres vivem a síndrome da impostora do que os homens. Um estudo da KPMG mostra que 75% das executivas em todos os setores já experimentaram a síndrome em suas carreiras – um sentimento de inadequação e dúvida que as faz questionar se são qualificadas o suficiente para o trabalho. E a tendência do “lazy girl job” pode contribuir para a dúvida, a ansiedade e o estresse – minando a capacidade das mulheres jovens de internalizar suas realizações profissionais à medida que procuram criar um plano de carreira que traga satisfação pessoal.
Não é piada
Apesar do nome (que, segundo a tiktoker Gabrielle Judge, é uma jogada de marketing), a trend viral não tem nada a ver com ser preguiçosa. Na verdade, trata-se de a Geração Z afirmar que vai trabalhar nos seus próprios termos. Assim como outras tendências profissionais que surgiram no TikTok, como o quiet quitting, ela representa uma revolução contra a cultura de trabalho que os jovens estão encontrando conforme iniciam suas carreiras. “Não estamos mais dispostos a nos esgotar ou a nos matar por um emprego”, dizem os vídeos na plataforma. Cada vez mais a Geração Z procura um trabalho que exija o mínimo de esforço, pague decentemente e seja flexível em termos de tempo, deixando espaço para o equilíbrio com a vida pessoal. Essa tendência é considerada uma fuga da sobrecarga do mundo corporativo, já que os mais jovens não estão dispostos a permanecer num trabalho que os exija sacrificar a sua qualidade de vida.
A criadora de conteúdo Valerie Erlenbausch é um exemplo disso. Ela trocou sua vida como soldado do exército dos EUA para abraçar um estilo de vida nômade com um trabalho remoto como gerente de vendas e marketing na empresa de baterias Dakota Lithium. A companhia equipou uma de suas vans com baterias e a plataforma de satélite da Starlink para permitir que Valerie passe até três semanas sem a necessidade de se conectar à internet. O trabalho envolve viajar entre exposições, apresentando sua van, seu estilo de vida e a marca. A história de Valerie está conectada com o “lazy girl job”, não por ser preguiçosa, mas por redefinir o trabalho nos seus próprios termos – no caso dela, estar empregada enquanto viajava pela América do Norte.
Mas o rótulo é tudo menos uma piada para as mulheres que procuram emprego nos seus próprios termos. Suzanne Ctvrtlik, uma freelancer que saiu direto da faculdade para uma carreira fora do tradicional, é agora a fundadora e CEO da Retrospective Media, uma agência remota de design gráfico. “Os rótulos de ‘lazy girl job’ e ‘girl boss’ sugerem que cumprir a descrição do seu trabalho é insuficiente e colocam um foco enganoso sobre o gênero, em vez de criticar as normas corporativas que levam ao esgotamento”, disse ela.
A essência do que a maioria dos profissionais procura é equilíbrio, não uma oportunidade de ser preguiçoso. Se não estão encontrando realização em suas carreiras, o objetivo é escolher empregos que sejam flexíveis o suficiente para oferecer tempo para seguir suas paixões em outros lugares. Se também não conseguem encontrar isso, muitos estão optando pelo trabalho como freelancer para ter maior controle sobre sua vida profissional. “Com minha agência de design gráfico, descobri que, ao selecionar minha lista de clientes e projetos, não apenas reduzi minhas horas de trabalho, mas também consegui entregar um trabalho de maior qualidade aos clientes.”
Novo estudo desmascara as razões desse movimento
Um recente estudo da plataforma americana de freelance Upwork entrevistou 1.000 recrutadores nos EUA e analisou como a Geração Z já está moldando a força de trabalho, trazendo perspectivas únicas sobre habilidades, flexibilidade e o tipo de regime de trabalho que desejam.
A pesquisa mostra que 43% da Geração Z já se aventura como freelancers, mas por outros motivos além da busca pelo “lazy girl job”:
Para buscar um trabalho pelo qual eles são apaixonados e consideram mais significativo;
Para ter mais controle sobre seu desenvolvimento pessoal e trajetória profissional;
Ter flexibilidade de horários e controle sobre o trabalho que realizam e para quem e quando o realizam.
As principais descobertas incluem:
Os membros da Geração Z são mais propensos a trabalhar para empresas que contratam freelancers: quase três quartos (73%) trabalham para uma empresa que utiliza freelancers, em comparação com 67% dos millennials, 58% dos membros da Geração X e 53% dos baby boomers.
As gerações mais jovens são mais propensas a contratar freelancers no futuro: 65% dos membros da Geração Z e 78% dos millennials dizem que planejam utilizar mais freelancers nos próximos cinco anos do que fazem hoje.
Os membros da Geração Z reconhecem que os freelancers fazem parte de uma estratégia completa de talentos: na verdade, 61% acreditam que usar freelancers é uma alavanca eficaz para construir canais de talentos, em comparação a 47% dos millennials, 35% dos membros da geração X e 37 % dos baby boomers.
Os membros da Geração Z também planejam manter o trabalho remoto: nove em cada dez e 82% dos millennials dizem que são muito mais propensos a redesenhar o trabalho com o modelo remoto como uma alavanca para o recrutamento – contra 71% dos membros da Geração X e 59% dos baby boomers.
“Embora a ideia de ‘lazy girl job’ seja um conceito divertido, os funcionários levam a sério a priorização da saúde mental no local de trabalho, seja em um ambiente remoto, híbrido ou presencial”, afirma James Neave, chefe de ciência de dados da ferramenta de pesquisa de empregos Adzuna.
O post “Lazy girl job” faz parte da revolução da GenZ no trabalho, mas pode prejudicar mulheres apareceu primeiro em Forbes Brasil.