As redes sociais estão estimulando o autodiagnóstico de transtornos mentais?

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Testes para transtornos mentais estão se espalhando pela internet e pelas redes sociais

Outro dia, recebi em meu consultório uma pessoa dizendo ter TDAH. Ela chegou com o diagnóstico fechado e pedindo a minha ajuda para, digamos, melhorar o seu dia a dia por meio de alguma estratégia médica. Eu perguntei a esse paciente quando ele havia sido diagnosticado e quem era o colega médico que havia feito o diagnóstico.

A resposta, muito calma, foi: “Eu mesmo”. E emendou que já havia admitido a si mesmo que tinha déficit de atenção e hiperatividade, que seus conhecidos já haviam aceitado a sua condição e que, por favor, eu não dissesse que ele não tinha o transtorno.

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Se você digitar “teste online de autismo” ou “teste de TDAH online” no Google, encontrará, só na primeira página de resultados, uma dezena de opções. Testes para esses e outros transtornos também se espalham pela internet e pelas redes sociais. Há avaliações até que medem níveis de ansiedade, depressão e estresse.

O problema quando se fala em saúde mental é que o objeto não é tão claro quanto é, por exemplo, o da cardiologia, que é o coração, ou da ortopedia, que são os ossos. Nessas áreas da Medicina, os testes são muito objetivos: ou alguém trincou ou não trincou o osso; ou se tem uma veia entupida ou próxima de ficar obstruída ou não se tem.

Saúde mental é uma área que implica uma certa subjetividade; daí a necessidade do olho no olho entre médico e paciente. Só por meio uma boa avaliação, inclusive dos impactos que as queixas de um paciente trazem para a vida dele, é que podemos fazer um diagnóstico acertado. É bom lembrar que um mesmo conjunto de sintomas pode ser causado por várias coisas diferentes. Daí a importância de buscar um profissional de saúde mental quando se está sofrendo por alguma razão.

Autodiagnosticar-se pode ser perigoso. Além de alguém correr o risco de seguir estratégias que podem causar mais mal do que bem, o autodiagnóstico costuma levar ao aumento de ansiedade não só em você, mas em pessoas próximas a você.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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